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“Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros” George Orwell, O Triunfo dos Porcos

Esta fábula política de 1945 escrita por Eric Arthur Blair (mais conhecido pelo pseudónimo George Orwell) foi uma obra que marcou a minha adolescência e que se mantém atual, passe o tempo que passe. No essencial, a história conta a revolução dos animais de uma quinta que, cansados dos maus tratos dos humanos, expulsam-nos e criam uma sociedade onde todos os animais são iguais, mas que rapidamente se corrompe e se torna uma ditadura ainda mais cruel do que a que substituía.

Os animais, liderados por Napoleão e Bola-de-Neve, revoltam-se contra o Senhor Jones, o proprietário da quinta. Essa revolução é inicialmente inspirada em princípios de liberdade e igualdade, com o objetivo de criar um paraíso animal. No entanto, com o passar do tempo, os porcos, liderados por Napoleão, começam a acumular poder e a manipular os outros animais. Estes distorcem os princípios da revolução, criam uma nova ordem opressora e se tornam os novos tiranos da quinta. De facto, esta obra apresenta um tremendo simbolismo em que os personagens animais representam “diferentes tipos de pessoas” e a história funciona como uma metáfora para a história humana e as diferentes formas de poder e controle.

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O mundo atual

O nosso cérebro está a viciar-se, ávido de estímulos, de gostos e partilhas, de novidade, de reação, de mostrar e parecer, de inteligência artificial, de dopamina instantânea, de extremos. de falta de auto-crítica. De egos. Já não conseguimos tolerar a frustração nem adiar a gratificação. É tudo para agora e com perfeição. Que não existe! O mundo está rápido e sentimos culpa se não estamos a fazer alguma coisa. Existe uma enorme conexão digital mas uma solidão que parece crescer de dia para dia. E a empatia para onde está a ir? E a capacidade de ouvir o outro\a? E atenção porque adoro tecnologia e uso-a diariamente – e sempre lhe atribuí um papel importante na saúde mental. Agora que sejamos nós a usá-la e não ela a usar-nos a nós.

No meu trabalho diário como psicólogo clínico e psicoterapeuta, tenho recebido cada vez mais pessoas com dúvidas, sofrimento e angústia sobre o rumo da humanidade - será que os porcos estão a triunfar? Sentem, muitas vezes, que vale tudo nos dias de hoje. Que não se olha a meios para se atingir fins. Que há impunidade, que há impotência. Que não há consequências e que o “mal” se banalizou. E longe de mim dizer que não há muitas coisas boas a acontecer porque as há!

O papel da Psicoterapia

É preciso reaprender a parar. Não fazer nada. Só estar, pensar e sentir. E ver a verdadeira realidade. A nossa e a do mundo à nossa volta. E a psicoterapia é um espaço e momento para isso. Abrandar o tempo. Há assim dias em que sinto que a psicoterapia é um dos últimos redutos, da empatia, da ética, do silêncio, da liberdade, do dizer “basta”, de ouvir o que não é dito (ler nas entrelinhas), de questionamento. De distinguirmos quem é vítima de quem se faz de vítima.

Sinto um grande prazer em ter esta profissão. Mas, também, uma enorme responsabilidade em contribuir, humildemente, para a humanidade e para a saúde das pessoas. É que somos também referências para elas e, em tantos casos, a primeira pessoa com quem estabelecem proximidade e confiança. Estando atento ao meu mundo interno. Fazendo eu mesmo psicoterapia ao longo da minha vida. Cuidando dos meus valores, da minha integridade. Cuidando das minhas relações pessoais e profissionais. Pausando. Ouvindo-me. 

Ouvir: a contribuição de todos\as

Como podemos contribuir para o nosso bem-estar e o das outras pessoas?  Um dos principais caminhos será ouvindo intencional e plenamente os outros\as (e nós mesmos\as). As suas palavras, o tom de voz, a forma como o corpo se expressa... Com curiosidade e sem pressas. Podemos até nem concordar, temos esse direito, mas é essencial acolher sem julgar. Olhos nos olhos e sem ecrãs ou sem distrações. É preciso ouvir para ouvir e não ouvir para responder.