25 de julho. Quando as mochilas começam a ser carregadas nos carros dos pais há o primeiro sinal de que vai realmente acontecer: esperam-nos mais de 2500 quilómetros estrada fora até Roma. Em Lisboa, frente à Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, no Parque das Nações, cerca de 1600 jovens juntam-se antes da partida para serem enviados.

A alegria é notória, a par com comentários que deixam transparecer o nervosismo. Será que trouxemos tudo? Temos comida suficiente para o tempo de viagem? Como é que vamos voltar a fechar as mochilas quando começarmos a desarrumar o que veio tão arrumadinho de casa? Há um friozinho na barriga, ouve-se por todo o lado. Mas também há a certeza de este ser um caminho esperado, desde o anúncio na JMJ – e o alento de ser o passo certo e natural a dar para tanta gente que se tem preparado para esta peregrinação.

Uma noite longa

A missa de envio começou às 21h00 e depois, até às duas da manhã, hora de saída dos autocarros, foram ultimados os últimos detalhes: distribuição de kits de alimentação, primeiros socorros, credenciais e outros apetrechos necessários ao longo da peregrinação. Pelo meio da logística, os olhares das famílias que acompanham os jovens. A alegria espelha-se nos que ficam, mas há sempre alguma preocupação.

Vão mandando fotografias. Avisem quando chegarem. Não se esqueçam de comer e de beber água. Voltem bem. Aproveitem tudo. Rezem por nós. Ajudem-se uns aos outros. 

É tempo de dizer até breve. Entramos nos autocarros. Mochilas no sítio, lugares escolhidos. Acenos até perder de vista. Vamos embora.

Mochilas
Mochilas créditos: Alexandra Antunes | MadreMedia

A noite é longa. O cansaço é muito, o espaço nos bancos parece cada vez menos. Vai-se dormindo aos bocados. Uns com mais facilidade, outros com menos. Há vendas nos olhos, capuzes a tapar a cara, os mais variados modelos de almofadas de viagem. Vale mais dormir enquanto se pode, que a semana vai ser longa e cansativa.

Uma viagem a olhar o céu 

26 de julho. As primeiras horas da manhã trazem o sol. Alguns peregrinos viram-no nascer. Seguem-se comentários sobre a paisagem, que roça os ares de deserto durante grande parte do caminho. Umas torres de igrejas perdidas aqui e ali, um castelo em ruínas, umas casinhas. Olá, Espanha.

As horas seguintes são de expectativa. O destino é a Basílica da Sagrada Família, em Barcelona. Há oração e música ao longo dos quilómetros e mais umas quantas sestas.

Mas finalmente chegamos à cidade espanhola que marca a primeira etapa da viagem. A comitiva de 31 autocarros que partiu de Lisboa tem tempos de chegada diferentes, há uns atrasos maiores, há quem consiga cumprir o previsto. As entradas na igreja também demoram, pelos controlos de segurança.

Lá dentro, a maioria dos jovens tem de se sentar no chão. Depois de tantos quilómetros, as pernas já se ressentem. Há bicho-carpinteiro em toda a gente, que só é controlada pelo assombro que provoca a obra de Gaudí. Inevitavelmente, as cabeças caem para trás e os olhos fixam-se no alto. A mesma referência que depois D. Rui Valério, Patriarca de Lisboa, usa na homilia da missa: o Homem é feito para as alturas e quem segue os contornos de muros e paredes acaba por contemplar o céu.

Terminada a celebração é tempo de descanso e os autocarros espalham-se por vários espaços de acolhimento em Barcelona. É agora: finalmente vamos abrir as mochilas, que quase rebentam pelas costuras.

Surgem também as questões típicas. Uma com particular importância entre as raparigas, em maioria face aos rapazes. Será que há água quente para tomar banho? Paciência, até está calor e pode saber bem se estiver fria. Para secar a roupa e toalhas improvisam-se estendais com o cordão que estava perdido na bagageira do carro de um pai, os bancos fazem de mesas de cabeceira.

Estendal
Estendal créditos: Alexandra Antunes | MadreMedia

Entre pavilhões e corredores, as esteiras e os colchões insufláveis são estendidos. Depois de tantas horas sabem ao colchão mais confortável do mundo. O que importa é ter onde esticar as pernas — mesmo com o burburinho no exterior, com as melgas a ameaçar com o zumbido ou que passe uma barata ou outro bicharoco fugidio por cima de alguém. Afinal, o peregrino não exige nada: apenas agradece o que lhe aparece no caminho. E este ainda agora começou.