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Cada cápsula biodegradável, lançada do ar, transporta cerca de mil mosquitos machos estéreis, criados em laboratório e infetados com uma estirpe da bactéria Wolbachia, inofensiva para humanos, mas que impede que os ovos das fêmeas selvagens com quem acasalam se desenvolvam. O objetivo é reduzir drasticamente a população de mosquitos invasores que transmitem a malária aviária, doença responsável pela dizimação de aves nativas havaianas, como os honeycreepers, avança a CNN.

Estas aves desempenham um papel fundamental nos ecossistemas (como polinizadores e dispersores de sementes) e na cultura havaiana, mas estão à beira da extinção. Das mais de 50 espécies outrora existentes, restam apenas 17, muitas delas criticamente ameaçadas. O ‘akikiki foi declarado funcionalmente extinto na natureza em 2023, e estima-se que restem menos de 100 exemplares de ʻakekeʻe.

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Segundo especialistas, a principal ameaça é a malária aviária, uma doença introduzida por mosquitos que chegaram ao Havai no século XIX a bordo de navios baleeiros. Estes insetos prosperam a baixas altitudes, mas as alterações climáticas estão a permitir-lhes subir para zonas de montanha, onde as aves nativas tinham encontrado refúgio. Com temperaturas em ascensão, os mosquitos estão a conquistar novos territórios e a empurrar as aves para zonas onde já não conseguem sobreviver.

Face à urgência, cientistas e organizações como a American Bird Conservancy e a parceria Birds, Not Mosquitoes decidiram apostar na Incompatible Insect Technique (IIT), adaptando-a especificamente para os mosquitos transmissores da malária aviária. O processo implicou anos de testes laboratoriais e trabalho com as comunidades locais e reguladores, dada a sensibilidade de libertar milhões de mosquitos no meio ambiente.

Desde 2023, os mosquitos estéreis têm vindo a ser largados com recurso a helicópteros, mas os elevados custos e as dificuldades logísticas (relevo montanhoso, ventos fortes, clima imprevisível) levaram à aposta nos drones. Em junho de 2025, começaram as primeiras largadas aéreas totalmente automatizadas — a primeira aplicação conhecida deste tipo de técnica com drones para fins de conservação. As cápsulas, especialmente desenhadas para manter os insetos vivos e protegidos durante o voo, são mais económicas, seguras e sustentáveis.

Atualmente, estão a ser libertados cerca de meio milhão de mosquitos por semana em cada ilha (Maui e Kauai). A estratégia baseia-se em ultrapassar numericamente os mosquitos selvagens, assegurando que os machos estéreis encontrem as fêmeas e interrompam o ciclo reprodutivo. Estima-se que os primeiros resultados possam ser observados dentro de um ano.

Apesar da incerteza, os cientistas mantêm a esperança. Uma investigação recente do San Diego Zoo Wildlife Alliance indica que ainda é possível salvar espécies como o ʻakekeʻe, desde que a técnica funcione. Caso o número de mosquitos diminua o suficiente, as populações de honeycreepers poderão recuperar, ganhar tempo para aumentar a diversidade genética e, eventualmente, desenvolver resistência natural à malária aviária — como já parece estar a acontecer com a espécie ‘amakihi na Ilha do Havai.

Para Chris Farmer, diretor do programa havaiano da American Bird Conservancy, esta missão é urgente e pessoal: “Se não salvarmos estas aves nesta década, provavelmente não estarão cá na próxima. Temos os meios para fazer a diferença.”