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Em entrevista ao The Guardian, Jamie Lee Curtis aborda o envelhecimento com uma franqueza, rejeita veementemente a pressão que a indústria exerce sobre as mulheres para manterem uma aparência jovem e artificial. Para si, o envelhecimento é um processo natural que deve ser celebrado e não escondido. “Recusar a cirurgia plástica não é um ato de rebeldia, é um ato de amor-próprio. Quero envelhecer com graça e verdade, não com filtros ou botox.”
Refere a sua decisão consciente de não recorrer a cirurgias plásticas ou tratamentos para tentar parecer mais jovem, o que muitas vezes é visto como um tabu em Hollywood. Para Jamie Lee Curtis, manter o cabelo grisalho no seu mais recente filme e recusar o uso de filtros digitais são declarações de autenticidade e resistência a um padrão irreal. “Eu não quero parecer uma versão mais jovem de mim mesma. Quero ser a melhor versão de mim com a idade que tenho”, explica.
Na entrevista ao jornal britânico chega a usar o termo “genocídio” para descrever a forma como a indústria da beleza e a cultura do “sempre jovem” destroem a autoestima e a identidade das mulheres, apagando a sua verdadeira beleza e experiência. “A indústria da beleza e dos media praticam um verdadeiro genocídio da autoestima feminina. Apagam-nos, tiram-nos a identidade e a força.”
A atriz critica fortemente a cultura das redes sociais, onde as imagens são manipuladas e a inteligência artificial ajuda a perpetuar modelos impossíveis de beleza. Vê isso como um problema grave, especialmente para as gerações mais novas que crescem com essa pressão constante. “Vivemos num mundo que empurra as mulheres para esconderem as suas rugas e os seus cabelos brancos, como se isso fosse um erro. Mas a verdade é que a beleza vem da história que cada linha no nosso rosto conta.”
Conta que, durante muito tempo, se preparou- mentalmente para ser descartada pela indústria, algo que aconteceu com os seus próprios pais, que viram as suas carreiras desvanecerem com a idade. “Eu sabia que Hollywood não quer mulheres da minha idade, especialmente se não estiverem dispostas a se conformar com os padrões. Por isso, afastei-me e escolhi meus projetos com cuidado.” Explica que a consciência de que Hollywood rejeita atores mais velhos, especialmente mulheres, moldou a sua atitude de “auto-reforma” durante 30 anos, onde foi fazendo projetos à sua medida e cuidando da sua vida pessoal.
Agora, aos 66 anos, Jamie sente que está a viver uma nova fase de liberdade e poder, um momento em que é a própria quem decide os projetos e papéis, e não a indústria. “Envelhecer é libertador. É quando podemos ser finalmente quem somos, sem medo do julgamento. A idade trouxe para mim uma nova forma de poder e autenticidade”, assume, assim, com orgulho a sua idade, e vê no envelhecimento uma oportunidade para se reinventar e explorar novas dimensões da sua arte.
Ela dá o exemplo do seu papel na série The Bear, onde pode mostrar vulnerabilidade e força de uma forma que nunca foi possível quando era mais nova. Para Curtis, envelhecer é ganhar uma nova forma de liberdade e autenticidade, algo que a juventude não oferece.
Jamie Lee Curtis, atriz de 66 anos, refere que usa uma “agressiva pontualidade”, como forma de controlar a sua vida e mostrar que está pronta antes dos outros. Está numa espécie de retiro privado, longe de Hollywood, para ter privacidade. Diz que a pontualidade não é ansiedade mas sim uma forma de assumir controlo, mesmo que pareça rude para alguns.
Curtis vive agora uma fase gloriosa da sua carreira, apesar de, durante décadas, ter sido vista como uma atriz de “segunda linha”, nunca reconhecida pela Academia. Só em 2023 recebeu um Oscar de melhor atriz secundária pelo filme Everything Everywhere All at Once, o que mudou a sua trajetória. Também o papel na série The Bear abriu-lhe novas portas e permitiu-lhe assumir papéis maiores e produzir vários projetos de cinema e televisão.
A sua carreira começou cedo com filmes icónicos como Halloween (1978) e Freaky Friday (2003). Agora prepara a sequela Freakier Friday, onde, com humor, explora um conceito de troca de corpos ainda mais complexo. Esta continuação traz desafios para a atriz, que revela ter um problema com o conceito de “ser bonita” e que sempre se preparou para sair da indústria antes de ser rejeitada, como aconteceu com os seus pais, Tony Curtis e Janet Leigh, ambos estrelas que viram a sua carreira desaparecer com o passar da idade.
Na entrevista ao jornal britânico, Jamie Lee Curtis fala também da sua luta contra o alcoolismo, doença da qual está recuperada há mais de 20 anos, e assume que foi uma “viciada controlada”, conseguindo manter o sucesso profissional apesar do vício. Para si, o maior custo do vício foi interno: a perda da autoestima e do sentido de si mesma, embora externamente parecesse estar bem.
Hoje, depois de ter ganhado o Oscar e com muitos projetos em andamento, sente-se livre e dona da sua carreira, algo que nunca sentira verdadeiramente antes. Destaca o seu papel na série The Bear como uma libertação artística, onde finalmente pode mostrar toda a sua gama emocional, coisa que foi sempre limitada ao longo da sua vida.
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