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17 de agosto de 2025, domingo. O final do fim de semana prolongado, por ordem do feriado nacional de 15, dia da Assunção de Nossa Senhora, celebrado na passada sexta-feira, assinalou o encerramento da Volta a Portugal Continente, a mais importante e maior prova do calendário velocipédico português.
Lisboa e o contrarrelógio individual de pouco mais de 17 quilómetros de distância, e menos de 20 minutos de duração cada, fechava a edição 86 da Portuguesa.
Com partida e chegada nos Jardins do Praça do Império, o epicentro do epílogo repetiu mais um final no local do costume da Volta.
Este ano, a avaliar pela imagem deserta na capital de Portugal, no sítio de partida e de chegada e entre a linha rodoviária que liga os dois pontos extremos do trajeto previamente desenhado entre a Cruz Quebrada e o Bairro da Cabrinha, em Alcântara, cedo nos apercebemos que Lisboa, e os lisboetas, tinham partido para parte incerta.
Um despovoado apoio motivado por férias, fuga ao calor ou pouca afeição dos habitantes da cidade à prova. Uma ausência que seria aproveitada.
Um vazio de povo ocupado por manifestantes
O 24notícias repetiu a experiência do dia anterior e sentou-se, desta vez, no banco da frente do carro da organização a convite do Continente, patrocinador oficial da Volta a Portugal.
O condutor, Carlos Teixeira, ex-ciclista conhecido como “Teixeirinha” e “Rei da Montanha” de 1996, não liderou o pelotão (porque não havia), antes colocou-se na roda de trás do corredor com o dorsal 77, o espanhol Angel Sanchez, da Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua.
A partida foi dada do Centro Cultural de Belém em direção à Cruz Quebrada. Um percurso feito na cauda do ciclista espanhol, separado por um minuto do corredor da frente (número 107, Sergio Trueba Cagigas), colado ao carro de apoio da equipa nortenha, um caminho feito sem direito aos holofotes da transmissão televisiva, mas a merecer um olhar rápido da mota do Comissário de Prova.
Ruas vazias, uma visão interrompida por uma ou outra pessoa à varanda ou na berma da estrada na Avenida da Índia e Avenida Marginal e um escasso bater de palmas que ganhava som estridente por ausência de outros ruídos.
O imenso vazio foi, contudo, preenchido por manifestantes pró-Palestina, espalhados estrategicamente em diversos pontos do percurso com bandeiras e cartazes alusivos à questão política do Médio Oriente.
A manifestação organizada teve como alvo Israel e a equipa israelita presente, Israel Premier Tech Academy, equipa virada para a formação que venceu quatro etapas da Portuguesa — o espanhol Pau Marti, na 2.ª etapa, o australiano Brady Gilmore (5.º e 6.ª) e o israelita, Rotem Tene (8.ª) – e tem um português, Daniel Lima, entre os jovens eleitos.
Duas meias-luas vazias de apoio humano
No retorno, em meia-lua na Cruz Quebrada, a ausência de público recebeu os ciclistas, antes de arrepiarem caminho até Alcântara, local de novo retorno e de nova meia-lua.
A paisagem humana pouco ou nada mudou. Ausência de calor humano a puxar pelos ciclistas, cuja motivação, para alguns, foi encontrada em tentar acompanhar o comboio que fazia o percurso na linha férrea vizinha, Lisboa-Cascais-Lisboa.
Em resposta à mão cheia de nada de apoio popular, os corredores aproveitaram a mão invisível que soprava o vento pelas costas e empurrava quem pedalava.
Sem grandes imagens fora de pista, a ultrapassagem de dorsais, o ciclista com o número 97 dobrou o número 107 (que nem carro de apoio teve) perto do LX Factory, sentido Alcântara, e animou quem assistia no carro da organização.
Depois de mais sinais de protestos em plena Alcântara e avenida de Ceuta (quase sempre acompanhados pelas forças de segurança), um espasmo de animação e alegria foi espalhado pelos habitantes do Bairro da Quinta do Cabrinha, este ano envolvidos na competição velocipédica.
À velocidade acima de alguns carros e motas elétricas (e não só) de baixa cilindrada, os ciclistas retornaram à Avenida da Índia em direção à Praça do Império.
Passaram, de novo, debaixo da ponte que liga as duas margens do Tejo, pelo edifício da Orquestra Metropolitana de Lisboa, Centro de Congressos de Lisboa, CIP, Cordoaria Nacional e Museu dos Coches, antes de avistar o Palácio de Belém, entrar na reta da meta (mais protestantes pró-Palestina) e terminar de frente para o Mosteiro dos Jerónimos, onde uma enorme fila de turistas esperou, o dia todo, pela entrada no monumento que é um dos postais da capital portuguesa.
Cortada a meta, os ciclistas eram brindados por surpresos olhares turísticos, uns à procura da famosa casa dos Pastéis de Belém, outros da paragem dos transportes públicos que os levasse para outro “check-list” da lista de visitas.
Artem Nych, o gigante russo sem direito a manifestações de apoio
Numa etapa vencida por Rafael Reis, Artem Nych (Anicolor-Tien21) sagrou-se, pelo segundo ano consecutivo, vencedor da Volta a Portugal em Bicicleta.
Aos 30 anos, o gigante russo de 1,95 metros, nascido na Sibéria, em Kemerovo, termina a Portuguesa, de novo, com a camisola amarela.
Campeão nacional russo, em 2021, pela Gazprom-RuzVelo, Nych fugiu da Rússia e do regime de Putin (não pode pisar solo do país onde nasceu) e só voltou a competir dois anos depois, pelo Glassdrive-Q8-Anicolo, já em Santa Maria da Feira, terra de acolhimento e cidade onde vive.
Uma história de vida que passou despercebida a manifestantes de causas políticas.
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