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Ao apanhar a bactéria os sintomas iniciais incluem pálpebras caídas, visão turva ou dupla, pupilas dilatadas, dificuldade em falar, problemas em engolir, boca seca e prisão de ventre. O jornal italiano Corriere della Sera e o site do Hospial da Luz Saúde ajudam-nos a perceber como nos manter a salva desta doença letal que ameaça adultos e crianças.
Como se transmite?
O contágio alimentar ocorre ao consumir alimentos mal conservados, especialmente conservas caseiras de vegetais em óleo (como beringelas e cogumelos). As esporas da bactéria estão no solo e podem contaminar os alimentos. Quando armazenados sem oxigénio e com condições favoráveis, as esporas ativam-se e produzem a toxina. Alimentos ácidos (ex: conservas de tomate, compotas, pickles) e alimentos aquecidos têm menor risco.
Quando as condições não lhe são favoráveis, forma esporos — formas inativas e resistentes que podem sobreviver no ambiente durante anos. Os esporos são destruídos por tratamento térmico a 120ºC durante 5 minutos.
Quando encontram condições favoráveis (ausência de oxigénio, pH ≥ 7 e temperaturas entre 25ºC e 37ºC), os esporos germinam e as bactérias ativas produzem a toxina botulínica. Existem vários tipos de toxina (A a H), mas os tipos A, B, E, F, G e H podem causar doença em humanos.
Como inativar a toxina?
A toxina é uma das substâncias mais letais conhecidas, sem cheiro ou sabor, e resistente à acidez do estômago. Pode ser inativada por:
Exposição a água clorada (20 minutos)
Exposição a água doce (3-6 dias)
Aquecimento a >85ºC
Como perceber se um alimento está contaminado?
Sinais de contaminação incluem o inchaço do frasco ou tampa, muitas vezes acompanhado de um som de “clic” quando se abre. Nestes casos, o alimento deve ser descartado imediatamente.
Sintomas da doença
A toxina bloqueia a transmissão nervosa, causando paralisia flácida dos músculos. A doença não se transmite entre pessoas.
Os sintomas variam conforme a forma, mas a paralisia muscular descendente simétrica e alterações visuais (pupilas dilatadas) são comuns.
No botulismo alimentar, os sintomas surgem 18-36h após ingestão, podendo variar até 2 semanas. Não há febre, mas podem ocorrer náuseas, vómitos, dor abdominal e diarreia.
No botulismo das feridas, o período de incubação é 7-21 dias, com possível febre e sem sintomas digestivos.
No botulismo infantil, os primeiros sinais são obstipação, dificuldade em mamar, pálpebras caídas, gemidos e progressão para paralisia muscular, podendo levar à insuficiência respiratória.
Formas e modos de infeção do botulismo
O botulismo pode ocorrer de três formas principais:
Botulismo alimentar: ingestão de alimentos contaminados com toxina. Frequentemente ocorre em conservas caseiras mal preparadas, onde esporos germinam e produzem toxina.
Botulismo infantil: ingestão de esporos que germinam no intestino de bebés com menos de 1 ano, devido à imaturidade digestiva.
Botulismo das feridas: contaminação de feridas profundas por esporos, comum em utentes de drogas injetáveis, mas possível em outras situações.
Outras formas raras incluem inalação da toxina (ex: acidentes laboratoriais) e botulismo iatrogénico (uso médico/cosmético da toxina).
Botulismo infantil e o mel
Até aos 12 meses, o consumo de mel pode estar associado a uma doença rara mas grave chamada botulismo infantil, causada pela colonização intestinal da bactéria e produção da neurotoxina que provoca paralisia muscular e pode causar insuficiência respiratória.
Os bebés infetam-se ao ingerir esporos presentes no mel ou em ervas (como camomila) contaminadas. Devido à imaturidade do sistema digestivo e microbioma intestinal, estes esporos germinam no intestino e produzem a toxina.
Os primeiros sintomas são gastrointestinais (prisão de ventre, náuseas, vómitos), seguidos de sintomas neurológicos como dificuldade em mamar, choro fraco, pálpebras caídas e paralisia progressiva.
Após os 12 meses, o mel deixa de estar associado ao botulismo infantil, mas continua a conter açúcares livres, pelo que deve ser evitado em crianças com menos de 2 anos.
E os adultos?
O sistema digestivo de crianças maiores e adultos é mais resistente aos esporos. O botulismo nestas idades ocorre geralmente pelo consumo da toxina presente em alimentos contaminados, sobretudo conservas caseiras mal preparadas.
Existe vacina?
Sim, mas apenas usada em contextos militares ou laboratórios devido ao potencial da toxina como arma biológica.
Tratamento
O tratamento é feito em ambiente hospitalar, com suporte respiratório e administração precoce de antitoxina para neutralizar a toxina livre. A recuperação pode demorar semanas a meses, e a mortalidade em casos graves é de 5-10%.
Diagnóstico
Baseia-se nos sintomas, história clínica e deteção da toxina em amostras biológicas e alimentos. Realiza-se através da deteção do ADN da bactéria em amostras fecais ou de lavagem intestinal.
Prevenção
Não existindo vacina disponível para a população geral, o ideal é focar-se na prevenção. As medidas preventivas incluem:
Armazenar alimentos corretamente e respeitar prazos de validade.
Lavar bem frutos e vegetais crus.
Cozinhar bem os alimentos.
Cumprir rigorosamente os tratamentos térmicos na preparação de conservas caseiras.
Descartar conservas com latas inchadas ou embalagens estranhas.
Não dar mel a crianças com menos de 2 anos.
Tratar adequadamente feridas abertas profundas.
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