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O Indamedia, grupo pró-Orbán que já controla vários meios de comunicação húngaros, anunciou na sexta-feira a compra de um conjunto de publicações da editora suíça Ringier, incluindo a revista Glamour e o próprio Blikk, cujo site de notícias tem cerca de três milhões de leitores mensais online.

A operação ocorre a menos de seis meses das eleições gerais de abril, num momento em que Orbán enfrenta uma oposição mais forte do que em qualquer outro momento da última década. Segundo o jornal The Guardian, o negócio é “amplamente visto como mais uma tentativa de aumentar a influência do governo sobre os meios de comunicação”.

O editor-chefe cessante do Blikk, Iván Zsolt Nagy, anunciou na segunda-feira que ele e outro gestor sénior iriam sair do jornal, em “acordo mútuo” com os novos proprietários.

Iván Zsolt Nagy explicou que tinha sido contratado há sete meses para reposicionar o jornal, “focando não no sensacionalismo, mas em histórias interessantes” e tornando-o “mais orientado para o público, cobrindo política, economia e cultura”.

Entre a redação, a notícia foi recebida com choque. “Quase tive um ataque cardíaco quando ouvi o anúncio”, afirmou um repórter que pediu anonimato. “Para mim, isto é moralmente inaceitável”.

O Blikk nomeou como novo editor-chefe Balázs Kolossváry. No entanto, muitos jornalistas que decidiram permanecer afirmam estar numa situação difícil, uma vez que “não há muitos outros meios para onde possam ir”, num contexto em que Orbán consolidou ao longo dos últimos 15 anos um vasto império mediático pró-governamental.

A compra da Ringier Hungary acontece “menos de seis meses antes das eleições gerais de abril”, observou o jornal britânico, recordando que grandes operações mediáticas na Hungria costumam ocorrer em períodos de menor tensão política.

O líder da oposição, Péter Magyar, cujo partido Tisza (Respeito e Liberdade) promete combater a corrupção sistémica, criticou duramente o negócio, e afirmou que representa “mais uma tentativa de Orbán de cimentar o seu controlo sobre os meios de comunicação húngaros”.

Embora o Blikk seja conhecido pelo seu tom popular e colunas de celebridades, tem publicado nos últimos anos várias reportagens sobre alegada corrupção. Para Ágnes Urbán, diretora da organização de vigilância Mérték Media Monitor, os leitores do tabloide “são muito importantes para o Fidesz”, o partido do primeiro-ministro.

“O Blikk é de longe o jornal diário mais lido na Hungria, um líder de mercado”, afirmou Urbán. “O seu site online tornou-se surpreendentemente popular nos últimos anos, sendo hoje o quarto mais lido do país. Se a propaganda aparecer num meio tão amplamente lido e popular, terá impacto no público”.

O The Guardian recorda que, em 2010, o governo de Orbán aprovou uma lei que colocou o principal regulador dos media sob controlo governamental e entregou o radiodifusor público a dirigentes leais.

O Indamedia é 50% detido por Miklós Vaszily, empresário próximo do governo e diretor executivo do canal privado TV2, também pró-Orbán.

O outro coproprietário e CEO da Indamedia, Gábor Ziegler, afirmou num comunicado que “através da aquisição da Ringier Hungary, o grupo está a ganhar uma empresa de média bem-sucedida e de dimensão semelhante à Indamedia, com fortes posições de mercado e marcas de sucesso que desempenham um papel definidor no panorama mediático húngaro.”

A Ringier, por seu lado, declarou à AFP que a decisão de vender foi “baseada apenas em considerações económicas estratégicas e no nosso foco nas atividades digitais principais na Hungria”.

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