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Cheryl Anderson, membro da American Heart Association e professora na Universidade da Califórnia, San Diego, reagiu com cautela ao The Guardian. “A recomendação sobre gordura saturada tem sido uma das mais consistentes desde a primeira edição das diretrizes alimentares.”

Kennedy afirmou que as novas orientações irão “enfatizar a importância de consumir gorduras saturadas de lacticínios, carnes de qualidade e vegetais frescos”, acrescentando que pretende introduzir esta visão nas escolas.

O investigador Ronald Krauss, professor na Universidade da Califórnia, São Francisco, reconhece que as gorduras saturadas podem ser “menos prejudiciais do que se pensava”, mas alerta: “Se [Kennedy] vier dizer que devemos comer mais gordura saturada, isso é uma mensagem errada.”

Krauss sublinha que reduzir o consumo de gorduras saturadas só é benéfico se forem substituídas por gorduras insaturadas, como azeite ou outras de origem vegetal. Trocar essas gorduras por açúcares e hidratos de carbono, pelo contrário, aumenta o risco de doenças cardíacas.

Apesar de considerar arbitrário o limite atual de 10% de calorias provenientes de gorduras saturadas, Anderson defende que um maior consumo está associado a níveis mais altos de colesterol e maior incidência de doenças cardiovasculares.

Ambos os especialistas concordam que as diretrizes nutricionais deveriam centrar-se menos em nutrientes isolados e mais em alimentos concretos: “As pessoas não comem nutrientes, comem alimentos”, explicou Anderson.

Krauss acrescenta que há fortes evidências de que o consumo de carne — especialmente a processada — está ligado a um maior risco de doenças cardíacas, embora não esteja claro se isso se deve apenas à gordura saturada.

Anderson também criticou a forma como Kennedy parece estar a contornar o processo científico habitual. Normalmente, as Diretrizes Alimentares para os Americanos são revistas de cinco em cinco anos, após análise rigorosa da evidência científica mais recente. O próximo relatório (para 2025-2030) ainda não foi publicado, mas, segundo Anderson, a atual administração parece ignorar o procedimento normal.

Krauss teme que o relatório esteja a ser “de certo modo sobreposto” e que as novas orientações possam aumentar os níveis de gordura saturada nas refeições escolares e nas rações militares de 10% para 18-19%, o que teria efeitos negativos no colesterol e no risco de doenças cardíacas. “Kennedy está a escolher apenas os dados que lhe convêm. Mistura recomendações sensatas sobre alimentos processados com outras ideias que não têm base científica”, concluiu Krauss.

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