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O documento, resultado de nove anos de investigação no âmbito da Operação Kenova, traça um retrato da atuação dos serviços de segurança britânicos no acompanhamento de Freddie Scappaticci, apontado como o mais influente infiltrado no Exército Republicano Irlandês (IRA) durante o conflito na Irlanda do Norte.

O que foi o IRA (Exército Republicano Irlandês)? 
Criada na década de 1910, foi uma organização nacionalista irlandesa, clandestina e de carácter militar. O objetivo principal era a independência da Irlanda em relação ao Reino Unido.

Agente protegido apesar de suspeitas de homicídio

Segundo a investigação, revela o jornal britânico The Guardian, o MI5 terá ajudado Stakeknife (faca de caça, em tradução livre) a escapar à justiça por “um perverso sentido de lealdade”, mesmo depois do fim do período mais violento dos Troubles (Conflito na Irlanda do Norte que foi de meados dos anos 1960 até 1998 com o objetivo da independência do país). O relatório revela ainda que os seus responsáveis o retiraram da Irlanda do Norte em duas ocasiões, sob pretexto de férias, precisamente quando a polícia tencionava interrogá-lo por suspeita de homicídio e sequestro.

Scappaticci, que morreu em 2023 aos 77 anos, liderou a denominada nutting squad (em tradução livre, brigada da noz), unidade interna do IRA responsável por identificar, interrogar e executar alegados infiltrados. Era conhecida como a  "brigada da noz" porque os informantes que descobria eram baleados na cabeça, a noz.
A sua atividade, embora considerada valiosa pelos serviços de informação pela quantidade de dados fornecidos, terá resultado em mais mortes do que vidas salvas.

A equipa da Kenova afirma que o MI5 tentou limitar o acesso a documentação essencial, só fornecida integralmente no último ano da investigação. O relatório denuncia “falhas organizacionais graves” e ações interpretadas como tentativas de “restringir o inquérito, ganhar tempo, evitar acusações e ocultar a verdade”.

O atual responsável da operação, Sir Iain Livingstone, admitiu que o atraso comprometeu a confiança no processo. Já o diretor-geral do MI5, Sir Ken McCallum, pediu desculpa e anunciou a implementação das recomendações feitas por uma revisão independente, negando, no entanto, retenção deliberada de informação.

Apesar de uma operação que custou cerca de 40 milhões de libras (Cerca de 45 milhões de euros) e envolveu detenção e inquirição de antigos membros do IRA e forças de segurança, nenhuma acusação resultou da investigação. Para as famílias de vítimas, a divulgação do relatório representa verdade, mas não justiça.

Scappaticci, filho de imigrantes italianos, aderiu ao IRA em 1969 antes de oferecer os seus serviços aos britânicos nos anos 1970. Fugitivo desde que foi publicamente identificado como Stakeknife em 2003, viveu sob proteção policial no Reino Unido.

As famílias criticaram ainda o facto de o relatório não o nomear formalmente, apesar de a identidade ser amplamente conhecida. Jon Boutcher, antigo chefe da Kenova, considerou a decisão “infundada e dolorosa” para os familiares.

Sem provas de conluio ao mais alto nível

O relatório inclui também conclusões da Operação Denton, que investigou a atividade do chamado Glennane Gang, aliança secreta e informal de unionistas do Ulster que realizou ataques a tiros e bombas contra católicos e nacionalistas irlandeses na década de 1970. O documento confirma que membros corruptos da polícia e do Ulster Defence Regiment (Regimento de Defesa do Ulster), um regime de infantaria do exército britânico, auxiliaram a milícia, mas não encontrou provas de colaboração institucional ao nível da liderança militar ou governamental britânica.

No Parlamento, o secretário de Estado para a Irlanda do Norte, Hilary Benn, classificou as conclusões como “sombrias” e apresentou condolências às famílias das vítimas.

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