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A MBDA, o maior fabricante de mísseis da Europa, está a fornecer componentes cruciais para bombas lançadas por Israel em Gaza, incluindo em ataques onde se verificou a morte de crianças e civis palestinianos, segundo uma investigação conduzida pelo The Guardian, em colaboração com os meios independentes Disclose e Follow the Money.

A investigação centrou-se na bomba GBU-39, produzida pela norte-americana Boeing. Esta bomba leve, mas altamente destrutiva em espaços fechados, é equipada com asas desenvolvidas pela MBDA Inc., filial norte-americana da empresa. Estas asas – designadas Diamond Back – são fundamentais para a precisão do armamento e, segundo especialistas, são fornecidas exclusivamente pela MBDA.

As receitas da MBDA Inc., sediada no Alabama (EUA), são canalizadas para a MBDA UK, no Reino Unido, antes de serem distribuídas à sede do grupo em França. Em 2023, o grupo MBDA entregou dividendos de cerca de 350 milhões de libras esterlinas aos seus três acionistas principais: BAE Systems (Reino Unido), Airbus (França) e Leonardo (Itália).

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Embora o Reino Unido tenha anunciado a suspensão de 29 licenças de exportação de armamento para Israel em setembro de 2024 – alegando risco de “graves violações” do direito humanitário internacional – a medida não abrange filiais fora do país. Assim, a MBDA Inc. pôde continuar a fornecer componentes a partir dos EUA.

O The Guardian verificou, com base em dados de fontes abertas e peritos em armamento, 24 ataques entre novembro de 2023 e maio de 2024 em que a bomba GBU-39 foi utilizada. Todos resultaram em vítimas civis, incluindo pelo menos 100 crianças. Um dos casos mais chocantes ocorreu a 26 de maio deste ano, quando uma escola em Gaza – usada como abrigo – foi atingida durante a noite. Morreram 36 pessoas, metade delas crianças. Fragmentos das asas da bomba foram identificados nos escombros.

O Exército israelita afirmou que os ataques visavam centros de comando de Hamas e Jihad Islâmica escondidos em escolas e mesquitas. Contudo, testemunhas e organizações como a Amnistia Internacional e as Nações Unidas classificaram vários destes ataques como possíveis crimes de guerra, devido à ausência de aviso prévio e à elevada presença de civis.

Apesar do seu compromisso público com os direitos humanos, a MBDA não revelou se pondera vender a filial americana ou suspender a produção de componentes para equipamento usado por Israel. Contudo, no seu código de ética, a empresa compromete-se a “evitar impactos negativos diretos e indiretos” sobre os direitos humanos.