Acompanhe toda a atualidade informativa em 24noticias.sapo.pt
Com presença em 20% das escolas públicas portuguesas e também em Espanha, Brasil, Bissau e Norte de Moçambique, a empresa desenvolveu uma metodologia de gamificação aplicada à aprendizagem, com jogos que apoiam o ensino da língua e da matemática.
O impacto internacional confirma o potencial da abordagem. O projeto Magos da Class of Wonders foi reconhecido pela Hundred, que destaca inovações pedagógicas de grande relevância, e foi selecionado pelo programa Google for Startups Growth Academy: AI for GovTech, onde aparece destacada entre os 25 projetos mais promissores globalmente na relação entre inteligência artificial e soluções para governos.
“Este é um momento de grande entusiasmo e encorajamento para a Class of Wonders. Ser reconhecidos pela Hundred e aceites pela Google for Startups não só valida a nossa visão e o trabalho árduo da nossa equipa, mas também nos impulsiona a alcançar a nossa meta de transformar a educação a nível global. Estamos a atacar um problema para o qual se procura uma solução há muito tempo, e com o qual a escola pública se debate constantemente, que é a tradução das desigualdades socioeconómicas no sucesso escolar dos alunos”, sublinha Francisco Miranda, CEO da Class of Wonders.
O percurso do fundador
A experiência pessoal de Francisco Miranda moldou a abordagem da startup. O CEO da Class of Wonders admite que sempre sentiu que a escola não era feita para si, teve dificuldades em encontrar motivação e enfrentou insucessos académicos, incluindo más notas e a repetição de anos. No entanto, conseguiu obter bons resultados nos exames finais, o que lhe permitiu ingressar no Instituto Superior Técnico. Para ele, as dificuldades não se deviam à falta de competência, mas sim à dificuldade de se conformar com o modelo escolar tradicional.
“A escola parecia feita para quem se conformava, não para quem tinha curiosidade ou iniciativa própria”, recorda.
Durante os estudos, envolveu-se em programas de voluntariado em bairros vulneráveis e começou a identificar-se mais com os alunos destes bairros do que com os próprios colegas de curso. Sentiu que partilhavam a mesma desmotivação e foi assim que começou a criar ferramentas e jogos para motivar os alunos, experiência que acabou por chamar a atenção das escolas mais vulneráveis.
“Comecei a desenvolver jogos e ferramentas que motivassem também a mim. A escola já está estruturada para produzir conformidade, obediência e estandardização, baseada em recompensas ou punições, e não na curiosidade ou no prazer de aprender”. Foi assim que nasceu a ligação à gamificação educativa, depois de mais de 15 anos de contacto com escolas em contextos desafiantes.
Aprender com jogos
A Class of Wonders desenvolveu dois jogos principais:
- O Magos é um jogo educativo destinado a alunos do 1.º ao 6.º ano, com foco na aprendizagem da língua (português, espanhol ou português do Brasil, dependendo do país). A ideia central é transformar a aprendizagem da língua numa aventura interativa, em que cada aluno é um “mago” que precisa de completar desafios para avançar na narrativa.
- O Próspero é um jogo focado em matemática e investimento sustentável, aplicável principalmente ao ensino básico e intermediário. O objetivo é que os alunos aprendam operações curriculares (como adição, subtração, multiplicação, divisão e conceitos mais avançados) enquanto simulam negócios agrícolas e investimentos éticos.
“São jogos de sala de aula que os alunos jogam em computadores e com elementos analógicos. À medida que avançam no currículo, exploram universos e narrativas, mantendo interação e progressão ao seu ritmo”, explica Francisco Miranda.
A inteligência artificial é integrada na criação dos jogos, das narrativas visuais e nos exercícios adaptativos, permitindo percursos personalizados para cada aluno.
“A tecnologia permite individualizar o ensino, garantindo que todos avancem mesmo nos contextos mais desafiadores. Primeiro resolve problemas de performance, depois podemos treinar competências mais amplas e pensamento crítico”, segundo o CEO.
O modelo de negócio
A Class of Wonders fornece as suas ferramentas sobretudo através de parcerias com governos, como Portugal e estados brasileiros, garantindo escalabilidade e acesso em massa. A taxa de adoção é um diferencial: mais de 90% dos alunos utilizam efetivamente as plataformas, muito acima da média de mercado.
“As nossas ferramentas conseguem uma taxa de uso mais de quatro vezes superior à média, e isso é a nossa grande disrupção”, afirma Francisco.
A empresa também incorpora tecnologia da Google, incluindo IA para conteúdos adaptativos e narrativas visuais, potenciando uma aprendizagem personalizada e eficaz, especialmente em contextos vulneráveis.
Corrigir desigualdades pelo mundo
Apesar do sucesso, a implementação enfrenta resistência dentro de sistemas educativos tradicionais.
“A nossa vantagem em relação a outras inovações é a taxa de adoção. Plataformas existentes têm utilização muito baixa, gerando descrença e investimento desperdiçado. Nós conseguimos superar isso”, explica Francisco.
O foco principal é combater a pobreza educacional, garantindo que alunos vulneráveis adquiram competências básicas de leitura, escrita e matemática.
O impacto já é visível em escolas internacionais e contextos desafiadores. Em Portugal, destaca-se a Escola das Galinheiras, no Alto do Lumiar, enquanto em Espanha a Maestro Gomes (Sevilha) é exemplo de transformação pedagógica em áreas vulneráveis. No Brasil, escolas públicas em São Paulo e Paraná implementam os jogos através do SESI-SENAI, e em África há experiência em Bissau e Norte de Moçambique.
“Queremos criar sistemas educativos mais justos, em que a motivação do aluno seja o motor da aprendizagem e não a autoridade do professor, quebrando um sistema em que todos os alunos, professores e comunidade educativa estão reféns”, conclui Francisco Miranda.
__A sua newsletter de sempre, agora ainda mais útilCom o lançamento da nova marca de informação 24notícias, estamos a mudar a plataforma de newsletters, aproveitando para reforçar a informação que os leitores mais valorizam: a que lhes é útil, ajuda a tomar decisões e a entender o mundo.Assine a nova newsletter do 24notícias aqui.
Comentários