As férias são aquele momento do ano que desejamos para descansarmos, abrandar o ritmo e estarmos em família. Planeamos roteiros, dedicamo-nos a pensar o que queremos fazer e como queremos fazê-lo, mas, muitas vezes, ao invés de refletir e preparar, idealizamos. Chegamos ao tempo de férias carregados de idealização e sem verdadeiramente preparar o momento. É comum ouvir quem, no regresso ao trabalho, diga que precisaria agora de férias para descansar das férias, numa ideia de insatisfação que pode advir de ter sido muito intenso com pouco descanso, ou porque esconde exigências emocionais que vieram ao de cima em tempos de suposto lazer. Aquilo que ocorre em muitas dinâmicas familiares é que o tempo de férias, sem trabalho, sem escola e sem compromissos, traz ao de cima divergências de opinião e conflitos que muitas vezes são diluídos nas ausências do quotidiano. Desencadeando uma vivência de férias que não é reparadora.
Gostaria de levar o/a leitor/a a refletir se tem por hábito preparar as suas férias. Não me refiro a itinerários de viagens. Procuro que reflita sobre qual a atitude com que encara as suas férias e como deseja que efetivamente estas sejam vividas. Questiono ainda se procura na sua relação conjugal e/ou inclusive na relação com filhos/as, pensar em conjunto qual o verdadeiro objetivo daquelas férias.
A vivência de férias para o casal conjugal vai depender diretamente da existência e idade de filhos/as. Quando não existem crianças, o casal tem a possibilidade de ajustar a vivência das férias aos gostos e desejos de cada uma das partes. Nessas situações, o equilíbrio estará na capacidade de escolher sem primazia da vontade de uma das partes e com a premissa de que é possível existir espaço para cada um e para o Nós. Quando a família conta com crianças, a idade destas será determinante, uma vez que ditará a necessidade de centralidade nas funções de parentalidade do casal. Ou seja, quanto mais pequena for, ou forem as crianças, mais as funções de cuidar dominarão as dinâmicas familiares.
Quando o conflito existe por dificuldades no ajuste de todas estas funções familiares, o tempo de férias não as resolve por si só, podendo transformar-se num tempo em tudo contrário à dita idealização das mágicas férias.
Regressando à ideia da necessidade de preparar as férias sem as romantizar, deixo algumas sugestões sobre como pode minimizar conflitos e discussões em tempo de férias, mas também no quotidiano familiar:
- converse com o/a seu/sua parceiro/a sobre como está a vossa relação de casal e de como podem restabelecer e recuperar em férias. Analise as possibilidades de conciliar momentos românticos a dois/duas, partilhe como se tem sentido e do que precisa para se sentir com mais satisfação na relação de casal.
- pare para pensar em que etapa de desenvolvimento se encontra o/a seu/sua filho/a e pondere o que significa essa etapa. Cada etapa de desenvolvimento tem características próprias que determinam o comportamento da criança, antecipar ajudará a lidar.
- Caso se trate de um bebé podemos pensar que ponderar as rotinas de sono, para manter o bebé estável e tranquilo durante as férias será facilitador para todos. Um bebé que não dorme leva a que mais alguém não durma. Quando não dormimos bem o nosso humor tende a sofrer oscilações.
- Caso tenha uma criança pequena sugiro que pense quais os brinquedos que deve levar consigo se sair de casa, ou quais as atividades em que a deve envolver em dias com outros ritmos e dinâmicas. Recorde-se que o excesso de écrans está provado, do ponto de vista científico, que não contribui favoravelmente para um bom desenvolvimento infantil.
- Se já contar com um adolescente, prepare-se para ponderar qual a liberdade que está pronto para oferecer, e de que forma, a partilha e presença no seio familiar, pode e deve continuar a existir para que a exploração do adolescente possa continuar a ocorrer.
Quando conversamos sobre a nossa comunicação, sobre aquilo que pensamos e sentimos na relação com os nossos familiares, permitimos que todos se sintam ouvidos, ajustamos expetativas e reduzimos os possíveis conflitos.
Permita que as idealizações de todos os membros da família façam parte do projeto de férias, para que sejam efetivamente tempos felizes.
Boas férias!
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