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“Odeio o Natal” é uma frase muitas vezes dita por quem carrega no peito tristezas e, na mente, memórias pesarosas relacionadas com esta época festiva. Entre os motivos apresentados, encontram-se perdas significativas (de pessoas ou animais) que deixam de fazer parte das celebrações familiares. Consequentemente, teme-se o sofrimento causado pelo lugar que permanece vazio na refeição de Natal. A comida passa a ter um sabor amargo quando comparada com os pratos e doces que o ente querido preparava; por vezes, surge o receio de que as conversas conduzam a lágrimas e, por isso, muitas famílias em luto optam por não realizar os rituais habituais, como as refeições de Natal ou a construção da árvore e do presépio. 

Outro motivo frequentemente referido por quem “odeia o Natal” está relacionado com a ausência de experiências natalícias sem conflitos familiares. Os anúncios televisivos e as publicações nas redes sociais intensificam a comparação entre o ideal e a realidade, contrastando com as discussões que surgem quando a família se reúne. Assim, o Natal adquire um travo agridoce: se, por um lado, existe a alegria de reencontrar familiares, por outro, instala-se o receio de que choques de personalidade ou desentendimentos antigos regressem e criem novos conflitos. Nesta época, torna-se também mais evidente a ausência daqueles que decidiram manter o distanciamento familiar, o que pode gerar sentimentos de culpa, angústia e indecisão quanto a uma possível reaproximação. Paralelamente, algumas pessoas enfrentam uma profunda solidão, seja pela falta de uma estrutura familiar, seja por estarem longe do país de origem e impossibilitadas de regressar a “casa”. Quanto às prendas de Natal, se para alguns representam uma forma de materializar afeto, para outros não passam de uma obrigação. Uma imposição decorrente de tradições e expectativas familiares centradas em compras, consumismo e desperdício alimentar. Tal pode desencadear frustrações, ansiedade e preocupações relacionadas com os gastos financeiros. 

A frase “O Natal é Família, Paz, Amor e Alegria” é uma das muitas ideias disseminadas sobre o que se espera desta época e que, para algumas pessoas, funciona como um gume que perfura o coração e expõe feridas emocionais há muito negligenciadas. Se tu te identificas com tudo ou quase tudo o que foi descrito anteriormente, é importante que saibas que o que sentes é válido. E que, embora possas libertar gradualmente a carga emocional negativa associada ao Natal, a boa notícia é que esta época também pode adquirir novos significados. O presente e o futuro não têm de ser um prolongamento do passado; ciclos podem ser

interrompidos através da criação de novos rituais, da redefinição de expectativas e de decisões que transformem a forma como vives e experiencias o Natal. Isto não significa que seja algo fácil ou imediato, pelo contrário, pode exigir um grande investimento emocional e, para isso, poderá ser útil apoiares-te noutros familiares, amigos ou recorrer a apoio especializado. 

Será igualmente importante reconheceres que, se o Natal te desperta desconforto, isso não significa que haja algo de errado contigo. Significa apenas que a tua história, as tuas vivências e o teu coração têm camadas que merecem ser ouvidas com respeito. A forma como te sentes não precisa de ser comparada com a dos outros, nem medida pela régua das expectativas sociais. Permitir-te sentir, ao invés de culpares-te ou forçares-te a encaixar numa idealização do “espírito natalício”, será um ato de maturidade emocional e de compaixão contigo mesmo. Reconheceres as tuas emoções poderá, então, abrir espaço para decisões que te devolvam poder sobre esta altura do ano. Não tens de amar o Natal, mas podes escolher como queres experienciá-lo: definindo limites, protegendo o teu bem-estar, priorizando o que te faz sentido e eliminando o que apenas te traz desgaste. Pequenas escolhas como mudar o ritmo, simplificar compromissos, criar momentos teus, permitir mais silêncio ou mais autenticidade poderão transformar o impacto desta época na tua vida. Não se trata de tornar o Natal perfeito, mas de o tornar suportável, mais leve ou, com o tempo, mais teu. E isso começa com a consciência de que tens o direito e a capacidade de moldar esta experiência de acordo com quem és hoje. 

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