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A liderança da União Europeia, Ursula von der Leyen e António Costa, tem nesta próxima quinta-feira uma jornada em Pequim, onde vai reunir-se com o topo do poder na China, encabeçado por Xi Jinping. É uma cimeira de primeira ordem de relevância a uma semana do crítico 1 de agosto, a data que o interminável jogo tarifário de Donald Trump põe como limite na moratória para as negociações, sob ameaça de taxas de 30%, sobre as exportações europeias para os EUA. Falta saber se os resultados do diálogo em Pequim poderão conduzir a negociações com bom valor transformador.
Esta cimeira China/União Europeia, em 24 de julho, em Pequim, tem enquadramento solene: é a celebração do 50.º aniversário da abertura das relações bilaterais. A Europa dispôs-se a uma concessão, a de transferir para Pequim o palco da cimeira que estava previsto para Bruxelas. A intenção é a de garantir a participação do difícil Xi Jinping. Há da parte do líder supremo da China alguma correspondência à abertura, disponibilidade e empenho da dupla que conduz a política europeia: António Costa, e Ursula von der Leyen, vão ter uma reunião e um “almoço de trabalho” com Xi, consideração em subida de grau da parte líder chinês que até há poucos dias delegava a posição da China no seu número dois, Li Qiang. A conversa e a tradicional foto de família vai juntar o topo de cada lado, mas o diálogo económico e comercial aprofundado foi cancelado, com a redução da duração da cimeira de dois dias, como propunha a Europa, para apenas um, porque as partes não superaram distâncias nas negociações preliminares.
A possibilidade de revisão das tarifas impostas pela UE aos veículos elétricos chineses, transformando-as num preço mínimo mais brando, não está em ponto de discussão. Também impasse nos medicamentos: Bruxelas exclui as empresas farmacêuticas chinesas das compras públicas europeias. Por outro lado, a China abriu um processo de investigação sobre o regime fiscal da carne de porco e do queijo que a Europa exporta para a China.
Acresce que a China bloqueou a exportação de terras raras e — apesar de já ter prometido reabertura — ainda não definiu um sistema estável para a concessão das autorizações relevantes.
Há uma armadilha em torno desta cimeira: a menos que ainda surja alguma surpresa, ela acontece sem garantia de algum acordo previamente negociado.
Esta falta de convergências importantes entre a China e a União Europeia tem-se repercutido na falta de comunicado conjunto no final dos encontros. Aliás, esta vai ser a primeira cimeira bilateral China/União Europeia desde 2020.
Sabe-se que, desta vez, Pequim deseja que seja divulgada uma posição conjunta sobre temas ambientais. É reconhecido o grande esforço oficial chinês na transição energética e na resposta à emergência climática. Admite-se que sejam anunciadas posições comuns para a COP-30, a grande conferência planetária da ONU sobre o clima, a realizar em Belém do Pará, na Amazónia brasileira, no próximo mês de novembro.
Mas a Europa ainda deseja conseguir mais cooperação por parte da China. Há um interesse comum às duas partes: mostrar que são capazes de entendimentos bi e multilaterais no atual cenário global em que os EUA de Trump se isolam em soberba egoísta e autoritária.
Já nesta quarta-feira, véspera da etapa em Pequim, Ursula e Costa vão estar em Tóquio, em cimeira com o primeiro-ministro Ishiba – com o poder dele enfraquecido pelo resultado das eleições parciais deste domingo, marcadas pelo crescimento da direita ultra.
No Japão, a União Europeia vai juntar-se ao seu principal parceiro na Ásia, aí sim, numa robusta declaração conjunta de intenção de reforço da cooperação em matéria de segurança, investimento e comércio, também na defesa da ordem multilateral baseada em regras consensuais. Vão repetir que partilham valores e desafios, na frente comercial, também na área digital e de defesa.
No encontro em Tóquio, as lideranças da União Europeia e do Japão vão certamente trocar opiniões sobre as respetivas negociações com os EUA, onde ambos se confrontam com a incerteza decorrente das bruscas derivas esvaziadas de sensatez de Trump, mas sem coordenação real entre os países visados pelas sanções. Aliás, com a Europa e o Japão a optarem pela brandura, a evitar entrar na escalada de gritaria e ameaças.
Uma dúvida sobre esta cimeira em Tóquio: será que Japão e União Europeia vão incluir no comunicado final a condenação explícita daqueles que competem deslealmente e apoiam a Rússia — ou seja, à cabeça, a China? Se assim acontecer, é metida uma pedra capaz de encravar a engrenagem diplomática da cimeira no dia seguinte em Pequim.
Enquanto Ursula e Costa estarão em cimeiras em Tóquio e Pequim, negociadores europeus estarão reunidos com homólogos dos Estados Unidos da América, a tentar que as tarifa alfandegárias disparadas pelo presidente dos EUA não sejam tão malignas quanto está ameaçado por Trump. Vai ser precisa cabeça fria, muita habilidade e boa intuição para conseguir as boas intenções.
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