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Trump, ainda na campanha eleitoral que o levou à reeleição, prometia resolver a guerra da Ucrânia em 24 horas. Contava que Putin alinhasse como parceiro na partilha do mundo.

A teatral primeira receção (28 de fevereiro) a Zelensky na Casa Branca no atual mandato de Trump (já o tinha recebido na primeira presidência, então queria que o presidente da Ucrânia incriminasse o filho Hunter de Biden por negócios ilegais) teve no guião esse objetivo de impor a pretendida nova soberania global em modo que não conhece limites, com encenação de funeral da tradição diplomática e da decência democrática.

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Trump tem como implícito que o que o une a Putin, é a ambição de rutura da velha ordem internacional, o desejo de acabar com o sistema de alianças de modo a impor o poderio imperial das potências militares como base ordenadora do sistema. Quem sofre imediatamente a consequência desta pretendida metamorfose é a Europa e o nosso modo de viver, a liberdade, a democracia e em última instância, os nossos pequenos gestos diários.

A guerra na Ucrânia expõe o modo como Trump quer separar os EUA da Europa e romper a aliança ocidental. 

Temos o presidente, eleito em novembro de 2024 com ampla maioria, do país que teve orgulho em apresentar-se como a maior democracia do mundo, a patrocinar, até hoje, a asfixia da liberdade da atual vítima principal do imperialismo do Kremlin.

Os historiadores fixarão que a Europa e os EUA se separaram precisamente neste tempo em que vivemos, em momento que fica registado através do conceito de capitulação que o presidente dos EUA quis impor à Ucrânia, e que Zelensky, apoiado pelos líderes europeus, rejeitou em nome da soberania, mesmo que diminuída do país a que preside e do direito e dever da história de distinguir entre o agressor e a vítima.

Trump já mostrou que prefere o  adversário do Ocidente aos velhos aliados na democracia liberal europeia. Antes de ameaçar castigar a União Europeia com violentas taxas alfandegárias de 30%, Trump já tinha forçado a Europa a gastar 5% do PIB em defesa — em grande parte para comprar armas aos Estados Unidos.

À beira dos seis meses na presidência, o mesmo Donald Trump que prometia entender-se com Putin e acabar a guerra em 24 horas, está confrontado cm a humilhação que não suporta. Confronta-se com o facto de Putin não querer parar as armas na ofensiva com invasão agora ampliada sem a capitulação de Zelensky e do regime em Kiev. 

Putin não facilita, não se mostra disposto a trocar o novo pacto com Trump pela suspensão da guerra na Ucrânia.

Trump meteu-se e meteu-nos na atmosfera de uma espiral de conflitos, alguns que já vinham de antes. Às guerras na Ucrânia e em Gaza juntou a guerra comercial com quase todo o mundo e o dano de desvincular os EUA da assistência humanitária global e do combate à emergência climática e à perda da biodiversidade planetária.

Com este quadro em fundo, parece fazer sentido a gravidade de Macron no discurso da festa nacional francesa em que declarou a liberdade sob ameaça como nunca tinha acontecido desde 1945 e disparou o alarme para crescentes ameaças à segurança