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No mês passado, Zohran Mamdani, candidato à Câmara Municipal de Nova Iorque, deu visibilidade à app de encontros Hinge ao revelar que conheceu a sua mulher, Rama Duwaji, através da plataforma. “Ainda há esperança nas dating apps”, comentou no podcast The Bulwark, citado pelo The Guardian, dias antes de vencer de forma surpreendente as primárias democratas.
O detalhe tornou-se viral nas redes sociais, reforçando a imagem de Mamdani como um verdadeiro representante dos millennials de esquerda. A revista Cosmopolitan não perdeu tempo: “Zohran Mamdani pode fazer história (como o primeiro autarca de Nova Iorque a conhecer a mulher no Hinge)”.
Ao preencher o perfil na Hinge, é necessário escolher uma orientação política — liberal, conservador, moderado, apolítico ou “outro”. Para muitos jovens de esquerda, o termo “liberal” é insuficiente, associado ao establishment representado por figuras como Biden, Hillary Clinton ou Andrew Cuomo.
As propostas de Mamdani — congelamento de rendas, transportes gratuitos, impostos para os super-ricos — distanciam-se claramente desse centro político. E assim nasceu o espírito do “hot commie summer” (verão de comunas sexys).
A Hinge recusou comentar, mas o entusiasmo espalhou-se entre os nova-iorquinos solteiros. Muitos admitiram que voltaram a instalar a app inspirados pela história. “Agora trato isto como um trabalho a tempo inteiro”, escreveu uma utilizadora no TikTok.
“Há mesmo vontade de namorar dentro da esquerda”, diz Abby Beauregard, responsável de angariação de fundos da secção nova-iorquina dos Democratic Socialists of America (DSA), ao The Guardian. “Mas é difícil encontrar espaços de encontros abertamente esquerdistas.”
A maioria das apps inclui a categoria “liberal”, mas não “socialista” ou “de esquerda”. A opção “outro” é vaga e, por isso, muitos utilizadores começaram a transformar os seus perfis em verdadeiros manifestos políticos: emojis de melancia (símbolo de apoio à Palestina), alertas contra TERFs, polícias ou apoiantes de Trump, tudo para filtrar os matches à partida.
“Gosto de ver esses sinais logo no perfil”, diz Caroline, 38 anos, florista em Queens. “Há orgulho em assumir-se comunista ou de esquerda. E nota-se.” Ainda assim, alerta para o exagero, e para o facto de, por vezes, parecer demasiado forçado.
Apps como Tinder, OKCupid ou Feeld permitem descrições livres — ao contrário da Hinge, mais estruturada. Caroline usa o Feeld e descreve-se como “extrema-esquerda” e “cuidadosa com a COVID”. Para si, isso basta para a definir. Frases como “adoro vacinas” ou “liberdade para a Palestina” são, diz, “subentendidas”.
Dennis Mulvena, 30 anos, homossexual e trabalhador na área de apoio ao cliente, também se identificava como liberal, apesar de se considerar “muito à esquerda”. Com o regresso político de Trump, decidiu ser mais direto. “Já tive um date com alguém que, no fim, revelou ter pertencido aos Jovens Republicanos. Nunca mais assumi que só porque és gay e vives em Brooklyn és automaticamente de esquerda.”
Segundo uma sondagem da NBC de abril, o fosso ideológico entre mulheres e homens da geração Z é o mais acentuado de todas as gerações: as mulheres tendem a ser democratas e os homens mais conservadores. Para 60% dos jovens entre os 18 e os 24 anos, partilhar valores políticos com um parceiro é essencial.
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