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Não é difícil, nos dias que correm, que as notícias que preenchem a informação sobre o mundo nos tragam ansiedade, angústia e até uma desesperança que tentaremos sacudir, por vezes com mais sucesso do que outras. Já com alguma distância, mas bem vívida na memória, a nossa vivência emocional da pandemia encontra aqui uma sucessora de peso. As mudanças rápidas, a sensação de ameaça que chega através do número, proximidade e gravidade dos conflitos armados, o sofrimento distante, mas tão próximo da nossa humanidade, as imprevisibilidades sociais e económicas do futuro perturbam-nos, muitas vezes deixando-nos numa necessidade de resposta imediata que parece não existir.

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É natural que, mesmo nas pessoas mais otimistas, cresça e se adense uma sensação de tensão, de urgência. A perceção que temos do perigo impele-nos a agir, algumas vezes de forma impulsiva e com pouco significado. Escala assim a agressividade nas relações interpessoais, a manipulação de informação nas redes sociais, o isolamento de cada um de nós, assustado com a ameaça do outro. O que fazer? Lutar? Fugir? Passar entre os pingos da chuva?

Como defende um pensador que muito admiro, Y. N. Harari, a cooperação entre seres humanos foi um dos fatores mais importantes na evolução da sociedade. A cooperação permitiu-nos atingir grandes feitos nos últimos milénios e quando esta cooperação diminuiu aconteceram os períodos mais negros e de regressão da nossa história. A nossa reação de proteção individual, o afastamento entre as pessoas será, num período difícil e incerto como o atual, lenha na fogueira por um mundo pior. A empatia, a capacidade de negociação, a flexibilidade mental, a tolerância e a compaixão são os recursos que nos permitem salvar o mundo. O individual, o de cada um, e por isso quem sabe, o de todos. Por isso: pense, escute e olhe. 

Pense na sua ação. O ciclo ação-reação faz-nos, na maior parte das vezes, estar a agir essencialmente baseados na emoção imediata e não na conjugação da emoção com quem nós somos – a mente sábia que existe em cada um de nós. A possibilidade de escolher a ação, torna-nos mais livres. Escolha a ação e aja no mundo que está ao seu alcance: a sua família, os amigos, os vizinhos, as pessoas da rua e do trabalho, as causas reais que defende. Tentar agir sobre o que não controlamos ou a que não chegamos traz-nos muita angústia. Exercer o pensamento crítico num mundo cheio de ilusões e manipulações torna-se um reduto de saúde mental. Só dando tempo ao pensamento podemos ser intencionais em relação ao futuro, podemos projetar e ter esperança. Por isso, pense.

Escute os mais próximos. E escute também aqueles que estão mais distantes. Dê tempo e espaço para que a experiência dos outros - o que sentem, o que têm a dizer - exista na sua vida. Só assim poderá conectar-se e só conectados podemos cooperar. Na escuta da experiência do outro abre-se um novo horizonte e é também nesta partilha que nos encontramos menos sozinhos e isolados. A compaixão pelo outro e por nós próprios está intimamente ligada, saber exercê-la é fundamental para a nossa saúde mental. Algumas vezes receamos que escutar o outro enfraqueça a nossa posição, mas a nossa posição fortalece-se se conseguir acomodar várias perspetivas. A escuta alarga os nossos muros sem deixar de fora o que pensávamos e sentíamos anteriormente. 

E olhe. Observe. Dê-se tempo para compreender, para processar. Quando olhar, tenha a consciência que estará a fazê-lo de uma perspetiva única (e que será para si a mais importante), a sua. Mas existem outras, que pode legitimar ou não. Mas permita-se olhar sob vários ângulos e deixar-se ficar a observar e a compreender. Treine a empatia, ouse colocar os óculos do outro e observar mundos diferentes, sem ser para lá ficar, mas sim, para trazer maior dimensão ao seu.

O mundo precisa que o pensemos e que nos pensemos nele. Por isso, pense, escute e olhe.