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Disse o Rei de Espanha, Filipe VI, no dia 29 de Junho de 2025: (“… o multilateralismo continua a ser o caminho mais sólido e duradouro para a paz e o progresso” (…) “uma equação oposta ao panorama actual, que volta a mostrar a nossa pouca confiança na Humanidade”. E referindo-se à cidade (Sevilha) onde se dava o encontro: “(…) esta reunião é um magnífico reflexo de tudo o que representa a cidade” (…) “que é um verdadeiro caldeirão de origens, culturas e correntes de pensamento, cuja abertura e hospitalidade não são apenas aspectos superficiais, mas sim uma verdadeira forma de ver o mundo”. E evocando palavras atribuídas a Averroes, o filósofo andaluz do século XII nascido em Córdoba: “A ignorância leva ao medo, o medo leva ao ódio e o ódio leva à violência. É essa a equação.” (…) “Estarão de acordo em que esta equação, tão significativa como preocupante, explica muitos dos conflitos actuais” e “a erosão do mundo multilateral”

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Falava o rei de Espanha na IV Conferência Internacional sobre o Financiamento para o Desenvolvimento das Nações Unidas. Presentes o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, a presidente da União Europeia, o presidente do Governo de Espanha, Pedro Sanchéz, o presidente da região da Andaluzia e o Presidente da Câmara da Cidade (www.diariopalentino.es/noticia). Quanto ao rei esta conferência representa: “(…) uma fonte tangível de esperança para o futuro frente a factos e tendências profundamente preocupantes e alarmantes a que  estamos a assistir no mundo”. “(…) Podemos afirmar que nem tudo está perdido, que não desperdiçámos tantas décadas em construir um mundo mais estável, pacífico, próspero e sustentável?” “(…) Todos temos algo a dizer a este respeito e todos podemos contribuir para que esta resposta seja assim.” “(…) embora nem sempre seja o caminho mais directo e mais rápido, o multilateralismo continua a ser o caminho mais sólido e duradoiro para a paz e o progresso, porque nos inclui a todos e dá voz a cada um”. O financiamento para o desenvolvimento sustentável, aprovado há dez anos para combater a fome e as alterações climáticas é uma voz contrária à que foi ouvida dias antes na cimeira da Organização do Tratado Atlântico Norte, mais conhecida por NATO, invertidas as palavras pela novilíngua universal, o inglês, realizada a 24 e 25 de Julho em Haia. Nessa reunião o seu secretário-geral, Mark Rutte, telefonou ao amigo, Donald Trump, a quem disse algo como: “olá, estimado Donald, a Europa vai pagar em grande estilo”. Trump divulgou e com isso humilhou os líderes europeus, cordeirinhos do grande chefe. O armamento será comprado à indústria bélica norte-americana, pois claro, porque a esta lhe sobram as armas e as invenções bélicas. Será com taxa?

Dois pensamentos, um futuro incerto

Estamos perante dois pensamentos e dois mundos políticos: o da paz, da compaixão, da fraternidade, da solidariedade e o da guerra, do confronto necessário para o negócio, dos senhores do mundo, na parte que toca aos portugueses do lado do Joker que comanda o “Mundo Ocidental”. Onde já lá vão os filósofos do Iluminismo, a Revolução Francesa, a Igualdade, a Fraternidade, as Constituições, a Democracia! É preciso que algumas igrejas (Francisco) e um monarca venham trazer uma palavra de paz, tantas vezes clamada pelo Secretário-Geral da ONU, António Guterres, sem que “Eles “o oiçam. Que paradoxo!

Para que não haja dúvidas, Averroes foi grande médico, como tinha sido Avicena, da Pérsia, actual Irão. Filósofo do século XII, nasceu em Córdova, no tempo do reino dos Almorávidas, que era a dinastia que existia na península ibérica, estendendo-se o seu povo e a sua cultura no Sul e no Centro dos actuais Espanha e Portugal, onde permaneceram as suas populações e a sua cultura, tanto quanto se cruzam genes, hábitos e ideias, mesmo quando mudam as administrações e os senhores militares. Averroes é um símbolo da fidelidade à ideia (a inteligência, o cérebro, segundo ele) e ao universalismo: traduziu e interpretou Aristóteles, transpôs para hebreu os seus próprios escritos, contestou as ortodoxias religiosas. Como consequência, foi perseguido. Uma corrente sectária e integrista islâmica, que ocorreu durante a dinastia almohade, posterior aos almorávides, baniu-o e desterrou-o. Também São Tomás de Aquino combateu o seu pensamento que persistia no século XIII (sciencia prima). Averroes foi recuperado no Renascimento e permaneceu como inspiração de universalismo para as culturas do Mediterrâneo, sejam elas portuguesas de papel passado, espanhóis, ou pessoas vindas até nós lá dos confins da Mesopotâmia ou do Ganges, como sempre vieram, ou já cá estavam. E até um rei, da dinastia dos Bourbon, o evoca em 2025! O mundo está de pernas para o ar ou os integrismos racistas permanecem contrariando a “inteligência”?

*Médica, professora da Faculdade de Medicina de Lisboa