Acompanhe toda a atualidade informativa em 24noticias.sapo.pt
Domingo Tomás, reformado de 68 anos, tornou-se involuntariamente o rosto de uma escalada de violência xenófoba em Torre Pacheco, na região de Múrcia, Espanha.
Há cerca de uma semana, enquanto fazia uma das suas habituais caminhadas de madrugada, Domingo foi surpreendido por três homens, um dos quais o agrediu com um murro. As imagens da sua face inchada e marcada circularam rapidamente, servindo de combustível para discursos de ódio nas redes sociais.
Quando se soube que os agressores eram de origem magrebina, movimentos de extrema-direita aproveitaram o caso para instigar atos de violência contra a comunidade migrante local. Desde então, Torre Pacheco — vila agrícola com cerca de 40 mil habitantes, onde mais de 30% da população é estrangeira, sobretudo vinda do Norte de África — tornou-se palco de confrontos e detenções.
Assim, o que começou com uma agressão isolada numa rua mal iluminada acabou por incendiar o município durante cinco dias. Mas o próprio Domingo desmarca-se da narrativa que o extremismo político criou em seu nome: "Não queria que nada disto acontecesse. Persegui-los não é uma boa ideia", diz, citado pelo El País.
Também a sua esposa, Encarna, critica a forma como a história do marido foi apropriada para fins políticos. "Usaram a agressão ao Domingo para trazer violência ao nosso povoado. Para fazer aos outros o que lhe fizeram a ele".
"O ódio veio de fora", acrescenta. "Todos os que somos daqui sabemos que isto não tem a ver com os nossos vizinhos".
Entretanto, Domingo voltou às ruas rotinas e saiu de casa pela primeira vez uma semana após a agressão. "Já não aguentava mais estar fechado. Tinha de voltar a fazer a minha vida". Contudo, usa óculos de sol para esconder os hematomas que ainda não desapareceram. "Não queria este protagonismo", diz.
Comentários