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É já este fim-de-semana que a capital vai receber a 4.ª edição do Unconvention Lisboa, um festival que celebra a tatuagem não-convencional e a experimentação artística. De 17 a 19 e de 24 a 26 de outubro, o espaço da Rua Maria 10B, em Arroios, converte-se num autêntico laboratório da pele e do corpo, reunindo 40 tatuadores nacionais e internacionais que desafiam as fronteiras entre a arte e a tatuagem.

Com entrada livre, o público é convidado a circular entre estúdios temporários, assistir a performances, participar em workshops e conversas, explorar edições independentes e até ver filmes — tudo num ambiente que celebra a liberdade criativa e o corpo como suporte artístico.

O festival propõe-se a romper com o formato tradicional das convenções de tatuagem, privilegiando a partilha entre artistas e a inclusão. Como explicam as diretoras Charleine Boieiro e Catarina Querido ao 24notícias, o Unconvention nasceu de forma espontânea, num espírito que se mantém até hoje.

"A Unconvention nasceu em 2017, na altura em que a Catarina tinha uma associação chamada Anjos70, que era um espaço bastante grande, industrial, e era basicamente um núcleo criativo. Eu comecei a tatuar lá a convite da Catarina e com o tempo, surgiu esta ideia de convidar mais tatuadores e fazer uma coisa maior", conta Charleine.

Foi assim que nasceu, porque o espaço convidava, e apesar de ter mudado de localização, a espontaneidade acompanhou o trajeto.

"Foi algo super espontâneo, aliás, como tudo naquele espaço. As coisas aconteciam com o trabalho árduo de produção da Catarina, mas é verdade que havia sempre uma abertura para experimentação, para coisas mais orgânicas  e sem medos para propor e desenvolver ideias".

Catarina Querido e Charleine Boieiro
Catarina Querido e Charleine Boieiro

Tudo o que não é convencional

O nome nasceu de uma brincadeira, devido à vontade das diretoras de rejeitar a normalidade de uma típica convenção. Assim, surgiu o nome "Unconvention" que se afasta de tudo o que é convencional. Questionada sobre como este significado se aplica no mundo das tatuagens, a diretora Charleine explica: "O estilo de tatuagens e a cena de tatuadores que normalmente participam nas convenções mais tradicionais não tinha muito a ver com aquilo que nós queríamos fazer, nem com o estilo de tatuagem que nós queríamos promover. Neste caso, estamos a falar de um estilo de tatuagem mais experimental, um bocadinho mais DIY (Do it yourself/ Faça você mesmo, em tradução livre)".

line-up

Pelo evento, situado no Intendente, vão passar artistas que tomaram a decisão de usar a pele como suporte para descobrir a tatuagem. No total, são 40 tatuadores e entre eles estão nomes de referência internacional, como David Schiesser, artista visual e tatuador alemão que combina desenho contemporâneo e abstração minimalista, Daisy Watson, australiana radicada em Berlim, cujo trabalho une surrealismo, minimalismo e uma sensibilidade queer, Caro Ley, artista alemã com uma prática inspirada pelo transfeminismo, e Siwon Noh, da Coreia do Sul, que mistura estética pop asiática com narrativas fragmentadas e imagens poéticas.

"Vamos ter artistas que são muito experimentais, por exemplo, uma tatuadora chamada Sarah Dubna que vai falar do scratching, que é um método de tatuar que muitas vezes considerado amador, mas que na realidade só está a abrir um bocadinho as barreiras dos limites da tatuagem. Portanto, eu acho que este festival é muito dedicado a isso", diz Charleine.

A inclusão e a política na arte

Para Charleine Boieiro e Catarina Querido, o festival é também uma resposta ao que faltava nas convenções tradicionais de tatuagem. Mais do que um evento artístico, o festival propõe uma nova forma de estar na comunidade — mais aberta, mais política e, sobretudo, mais inclusiva.

“Acho que o que faltava era inclusividade. Isso é o mais importante”, afirma Charleine. “Este festival é inclusivo, e isso reflete-se não só nas pessoas que o integram, mas também no programa. Vamos ter, por exemplo, uma palestra sobre cuidados queer com a artista Caro Ley.”

Mais feminista e menos hierárquico, é também assim que descreve o projeto. Ao contrário das convenções clássicas, marcadas por competições e prémios, o Unconvention privilegia a partilha e a colaboração.

“Não acreditamos em concursos nem em competições”, sublinha. "Temos aqui uma série de bandeiras. É um festival político, e queremos poder dar voz. Acho importante isto ser não só um espaço seguro, mas um espaço de partilha, de conhecimento, de consciencializar e sensibilizar".

O cinema é uma das formas de expressão que também vai marcar presença. Para as organizadoras, todas as expressões artísticas dialogam entre si e nenhuma ocupa um lugar de destaque isolado.

"Gosto sempre de destacar tudo”, diz Charleine Boieiro. “Não há uma coisa que seja melhor do que a outra.”

Entre os pontos altos, estão as colaborações com festivais de cinema, como o MOTELX e o Festival BEAST, que trazem ao evento uma seleção de filmes da Section X — dedicada a curtas e longas metragens de terror experimental — e do Sunny Bunny, o primeiro festival de cinema queer da Ucrânia.

Haverá ainda uma banca dedicada à Palestina, com merchandising cujos lucros reverterão diretamente para a associação Lajee Center — Palestinian Refugees NGO, reforçando o caráter de solidariedade e compromisso social do Unconvention 2025, segundo Catarina Querido.

A tatuagem ainda é tabu?

Questionadas sobre a evolução da tatuagem, Charleine e Catarina acreditam que esta forma de arte ainda é vista com alguns tabus, apesar de estar a crescer no país.

“Estamos a ver muito mais estúdios aqui em Lisboa, eu abri o meu estúdio em 2015 e na minha altura não havia muitos estúdios alternativos assim e agora já há imensos… Vê-se também muitos tatuadores artistas que são já insta famous, quase vedetas da tatuagem”, afirma Charleine.

Apesar do crescimento e da popularidade entre Millennials, Gen Z e Gen Alpha, algumas resistências permanecem entre gerações mais velhas: “Às vezes tatuo pessoas que dizem 'Se calhar o meu pai não vai gostar muito, a minha mãe não vai gostar muito', mas isso já não é a época em que vivemos. Já tatuei imensos médicos e advogados, que normalmente são profissões que não associamos a pessoas tatuadas”.

O que levar do Unconvention 2025?

Catarina Querido espera que o público saia da experiência tendo encontrado uma comunidade. Além de poderem levar para casa uma tatuagem, os visitantes poderão descobrir novos artistas, fazer contactos e explorar novas linguagens artísticas.

“Vai ser muito acessível, como a entrada é livre, não é necessário vir gastar dinheiro, podem vir só beber um café, ver o que há”, acrescenta.

O festival oferece um programa culturalmente rico, com atuações, workshops e palestras, mas também proporciona experiências únicas, como a oportunidade de tatuar com artistas internacionais.

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