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O mote do programa é dado pela pergunta de uma ouvinte, Emma, de São Francisco: há muitas conversas sobre como educar raparigas fortes e independentes, mas e os rapazes? Como ensinar-lhes inteligência emocional e afastá-los de ideologias tóxicas?

Barack Obama avança sem dúvidas e responde com firmeza, tudo começa por escolher o parceiro certo. Conta que partilha com Michelle Obama uma visão de parentalidade que combina amor incondicional e estrutura: regras claras como horas de dormir, comer vegetais, não fazer birras em público, comunicação sobre o porquê das regras e espaço para os filhos aprenderem com os erros.

Os dois contam que desde o nascimento das filhas as tarefas foram dividas a 50%. Obama fazia "o turno da noite" trocava fraldas, fazia treinou as filhas a dormirem durante a noite aos cinco meses, criando desde cedo uma ligação emocional sólida.

Apesar das trajetórias pessoais muito diferentes, os filhos de Barack e de Michelle cresceram com valores semelhantes: honestidade, humor, autenticidade e calma. Barack cresceu sem pai presente e construiu o seu modelo de masculinidade a partir de fragmentos: figuras no trabalho, na comunidade, ou na escola, exemplificando que nenhum homem precisa ser o modelo único de masculinidade.

Cita especificamente um professor de faculdade que, sendo gay numa época em que isso não era comum, se tornou uma referência ética e intelectual. Essa diversidade de modelos moldou profundamente a sua visão de ser homem.

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Craig Robinson conta uma experiência como treinador juvenil em que um jogador disse “estou a ser homem” enquanto batia nos colegas. Craig respondeu: "Não estás a ser homem, estás a ser um idiota." Isso marca a crença de ambos de que o ideal de masculinidade deve incluir empatia e autocontrolo, não agressividade.

Assim, abre-se no podcast o caminho para alertar para os perigos das construções tóxicas de masculinidade reforçadas nas redes sociais, os jovens aprendem online ideias de poder e violência. Para os três, os pais e educadores devem contrariar ativamente essas narrativas e promover o equilíbrio emocional.

Barack Obama insiste que os rapazes precisam de aprender a reconhecer e expressar as suas emoções, algo que exige tempo e espaço físico e emocional. Como explica, “isto não é ciência, é arte. Não podes programar. Tens de criar espaço para o que não é eficiente.”

Michelle Obama acrescenta que as raparigas tendem, socialmente, a ser mais incentivadas a explorar os sentimentos; os rapazes, muitas vezes, são ensinados a reprimir. Isso pode torná-los até mais dependentes de um ambiente doméstico que aceite a expressão emocional. Também sublinha que muitos homens nunca aprenderam a lidar com emoções e se não fizerem esse esforço, estarão a afetar negativamente a próxima geração.

Barack lembra que muitos homens construíram a sua identidade apenas com base no papel de provedor. Quando a realidade começou a ser menos industrializada e as mudanças económicas enfraqueceram esse modelo, muitos perderam sentido de lugar e autoestima. Se a sociedade não lhes oferece outras formas de se sentirem úteis, eles podem recorrer a respostas regressivas, que também afetam os filhos.

A mensagem do ex-Presidente é dupla, os homens devem trabalhar emocionalmente em si mesmos, mas a sociedade também deve redefinir a forma como valoriza o papel masculino.

Barack Obama expressa esperança na abertura dos jovens, incluindo mulheres e homens da geração das filhas Malia e da Sasha, para diferentes formas de ser homem: emocionais, gentis, diversos. É uma transição que combina valores herdados com modificações conscientes à luz dos novos desafios.

Michelle Obama acrescenta que não se trata só de preparar os rapazes, mas de garantir ambientes mais seguros e equilibrados para todos os géneros. Assumir que os rapazes "vão sempre estar bem" porque historicamente tiveram privilégios deixa-os vulneráveis.

Barack reforça que ignorar o bem-estar dos rapazes pode prejudicar também as raparigas e mulheres. Sentimentos de frustração e invisibilidade em homens podem tornar-se terreno fértil para discursos divisionistas. E aponta que mesmo entre pais progressistas, muitas vezes há uma retórica centrada apenas no que está “errado com os rapazes”, em vez de valorizar e apoiar o que há de certo neles. “Se fizermos melhor pelos rapazes, estamos a criar homens mais fortes e confiantes, e isso é bom para as mulheres também.”

Michelle partilha um exemplo do dia a dia das filhas, quando notam que alguns rapazes “têm braços de crocodilo”, expressão usada para aqueles que nunca se chegam à frente para pagar contas em saídas de grupo. Barack acrescenta que “não tens de pagar sempre, mas se nunca pagas, isso diz algo sobre ti.” Concorda que não se trata de papéis tradicionais de género, mas de respeito e boas maneiras, como abrir portas, puxar cadeiras, demonstrar atenção e cortesia, isto é gestos simples que sinalizam empatia e consideração pelo outro.

Craig, pai de rapazes, com ironia, lembra que quem tem filhas quer que existam “bons rapazes por aí”, não apenas para casamentos, mas para que as interações sejam saudáveis e respeitadoras.