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O caso remonta a 1964, quando Choi, então com 19 anos, foi atacada por um homem de 21 anos na cidade de Gimhae, no sul do país. Segundo os registos judiciais, o agressor imobilizou-a no chão e forçou repetidamente a língua na boca da jovem, chegando a tapar-lhe o nariz para a impedir de respirar. Numa tentativa desesperada de se libertar, Choi mordeu-lhe a língua, arrancando cerca de 1,5 centímetros, de acordo com o The Guardian.

Apesar do acto ser claramente defensivo, Choi acabou por ser condenada em 1965 a dez meses de prisão, com pena suspensa, por “ofensas corporais graves”. O agressor, por sua vez, recebeu apenas uma pena suspensa de seis meses por invasão de domicílio e intimidação, não tendo sido acusado de tentativa de violação.

Durante décadas, o caso foi citado como exemplo da forma como o sistema de justiça penal na Coreia do Sul tratava as mulheres vítimas de violência sexual. Foi só após o surgimento do movimento #MeToo no país, em 2017, que Choi decidiu voltar a lutar pela sua inocência. Segundo o jornal britânico, a sua história ganhou força pública quando apresentou um pedido de novo julgamento em 2020, inicialmente rejeitado por instâncias inferiores.

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O Supremo Tribunal viria a ordenar a reabertura do processo em 2024. No primeiro dia de julgamento, os procuradores pediram desculpa formal a Choi e recomendaram que a sua condenação fosse anulada. A sentença desta quarta-feira anulou oficialmente a decisão de 1965, considerando que a reacção da jovem constituiu uma “resposta legítima a uma violação injusta da sua integridade física e autodeterminação sexual”.

Após ouvir o veredito, Choi foi recebida por apoiantes à saída do tribunal, com flores e cartazes a dizer “Choi Mal-ja resistiu!”.

Em conferência de imprensa, afirmou: “Há 61 anos, sem perceber bem o que se passava, fui transformada de vítima em criminosa. Esta decisão é para todas as mulheres que viveram injustiças como a minha. Quero ser uma esperança para elas.”

Os advogados de Choi anunciaram a intenção de exigir uma indemnização ao Estado pelos danos sofridos ao longo das últimas seis décadas.

Nos últimos anos, a Coreia do Sul tem assistido a uma crescente mobilização feminista que já levou a avanços significativos em matérias como o acesso ao aborto, o combate ao uso de câmaras escondidas e a revisão de penas para crimes sexuais.