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O impacto económico é igualmente elevado, projetando-se custos globais de até 3 mil milhões de dólares anuais em 2030, sendo que países com alta prevalência podem gastar até 18% do orçamento de saúde em cuidados relacionados com a obesidade. Apesar desta magnitude, a resposta global permanece fragmentada e subfinanciada, segundo a Organização Mundial de Saúde. Muitos sistemas de saúde não estão preparados para tratar a obesidade como doença crónica, com caminhos clínicos ausentes ou desconectados, formação limitada de profissionais e acesso restrito a intervenções eficazes, sobretudo em contextos de baixos recursos. A situação é agravada pelo estigma, desinformação e falta de procura de cuidados.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a obesidade como uma doença crónica, progressiva e recorrente. De acordo com a Classificação Internacional de Doenças 11, trata-se de uma “doença crónica complexa caracterizada por adiposidade excessiva que pode comprometer a saúde”, sendo na maioria dos casos multifatorial, influenciada por ambientes obesogénicos, fatores psicossociais e genéticos, embora em alguns pacientes fatores únicos como medicação, doenças, imobilização, procedimentos iatrogénicos ou síndromes monogénicas possam ser identificados. Assim, a obesidade não é apenas um fator de risco ou questão de estilo de vida, mas uma doença em si, com consequências biológicas, sociais, económicas e ambientais profundas.
Recentemente, avanços terapêuticos, nomeadamente agonistas do receptor GLP-1 e agonistas duplos GIP/GLP-1, transformaram o tratamento farmacológico da obesidade. Originalmente desenvolvidos para diabetes tipo 2, estes fármacos demonstraram reduções significativas e duradouras de peso (5-16%) em ensaios clínicos, bem como outros benefícios para a saúde.
Até 2025, dez terapias baseadas em GLP-1 foram aprovadas para tratamento da obesidade e/ou diabetes, com mais de 40 compostos em desenvolvimento, incluindo agonistas multi-receptores. Estas terapias permitem a integração de farmacoterapia eficaz em modelos de cuidado crónico da obesidade, devendo a expansão do acesso ser guiada por evidência científica, alinhamento com sistemas de saúde, prioridades de saúde pública e equidade.
A OMS recomenda que a obesidade seja tratada como doença crónica, com cuidados de longo prazo que vão além da perda de peso. A gestão eficaz deve integrar mudanças comportamentais e de estilo de vida, farmacoterapia (GLP-1 e agonistas duplos GIP/GLP-1), monitorização contínua, proteção social e criação de ambientes de apoio, considerando sempre as experiências vividas pelas pessoas com obesidade.
Segundo o guia agora publicado pela Organização Mundial de Saúde, as terapias GLP-1 podem ser usadas a longo prazo (≥6 meses) em adultos com IMC ≥30 kg/m², com os agentes avaliados incluindo liraglutide, semaglutide e tirzepatide. Os resultados críticos considerados incluem perda de peso, qualidade de vida, eventos adversos, eventos cardiovasculares maiores e mortalidade. Para otimizar resultados, estas terapias devem ser combinadas com intervenções comportamentais intensivas, como definição de metas de atividade física e alimentação, restrição calórica, aconselhamento periódico e monitorização contínua.
Os efeitos secundários comuns incluem náuseas, vómitos, obstipação e diarreia, geralmente leves e reversíveis. Possíveis complicações, ainda em avaliação, incluem pancreatite, doença biliar, obstrução intestinal, gastroparesia e cancro da tiróide, e eventos muito raros como neuropatia óptica isquémica anterior não arterítica (NAION), com evidência inconclusiva. A farmacoterapia não substitui dieta saudável e atividade física, devendo ser parte de um programa integrado e multimodal.
A OMS emite também uma recomendação de boa prática clínica, lembrando que a obesidade é uma doença complexa que requer cuidados ao longo da vida, começando com avaliação clínica e diagnóstico precoce. Após o diagnóstico, os indivíduos devem ter acesso a programas abrangentes de cuidados crónicos, com intervenções comportamentais e de estilo de vida sustentadas. Quando apropriado, opções farmacológicas, cirúrgicas ou outras podem ser usadas para apoiar o manejo eficaz da doença. Paralelamente, os cuidados devem prevenir e tratar complicações e comorbilidades associadas à obesidade. Estes programas exigem sistemas de saúde capacitados, com governança, formação de profissionais, monitorização, sistemas de referência, aprovisionamento, cadeia de fornecimento e cobertura financeira. O acompanhamento personalizado da resposta ao tratamento e de efeitos adversos é essencial para assegurar adesão sustentada e resultados de saúde ótimos.
O desenvolvimento destas recomendações foi conduzido pelo Guideline Development Group (GDG), composto por investigadores, clínicos, eticistas e pessoas com obesidade, seguindo o método GRADE. As recomendações podem ser fortes, quando há confiança elevada de que os efeitos desejáveis superam os indesejáveis, ou condicionais, quando há incerteza sobre efeitos, preferências ou recursos.
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