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Antes de conseguir aterrar em segurança no Aeroporto de Plovdiv, o avião onde seguia Úrsula Von der Leyen ficou sem sistema de navegação. A deputada porta-voz da Comissão Europeia, Arianna Podesta, revelou aos jornalistas que as autoridades búlgaras suspeitam que a interferência tenha sido deliberadamente causada pela Rússia, mas sem provas.
Em entrevista ao 24notícias, Tiago Cruz, professor no departamento de engenharia e informática da Universidade de Coimbra, explica que se trata de um caso de jamming, que implica o bloqueio dos sinais do GPS, impedindo que dispositivos recebam a localização correta.
O académico esclarece que este tipo de bloqueio é comum, principalmente em cenários de guerra. Tanto na fronteira russa, como no Médio Oriente, nomeadamente em Israel, os casos de jamming são habituais.
Existem também ataques de spoofing, mais elaborados e mais perigosos, que permitem o envio de sinais falsos de GPS para enganar sistemas e mudar trajetórias.
“A prática frequente de jamming ou spoofing de GPS é deliberadamente feita com a intenção, no fundo, de causar disrupção na infraestrutura e nas capacidades de navegação, posicionamento e localização de um atacante”, acrescenta.
Com o início da guerra na Ucrânia, casos de interferência na navegação na zona do Báltico até ao Mar Negro tornaram-se mais frequentes. Segundo a Reuters, no ano passado, a Estónia acusou a Rússia de interferir em dispositivos de navegação GPS no espaço aéreo dos Estados Bálticos e a Finnair foi obrigada a desviar dois voos de volta para Helsínquia, depois de interferências de GPS terem impedido a aproximação a Tartu, no leste da Estónia.
A guerra muitas vezes é o impulso para o desenvolvimento destes mecanismos. No entanto, não explica a situação isolada registada no avião europeu, nem a relaciona necessariamente ao governo russo.
Quando questionada, a Rússia negou qualquer envolvimento na falha do sistema de navegação do avião onde viajava a presidente da Comissão Europeia, e a União Europeia ainda não conseguiu provar o contrário.
“O GPS é um civil, tal como o conhecemos, é vulnerável”
Segundo Tiago Cruz, “não é preciso ser um Estado nação para ser capaz de interferir com o sistema de navegação”. Com “equipamento acessível” é possível reproduzir este bloqueio.
Na verdade, “o GPS civil, tal como nós o conhecemos, é vulnerável. É o que nós chamamos de ‘infraestrutura crítica’”, revela, e, por essa razão, o ataque de segunda-feira não é inusitado.
O GPS civil não tem nenhum tipo de medida especial de proteção ou de encriptação, facilitando o acesso externo. Tal implica que seja possível aceder facilmente a diferentes redes, inclusive em drones,
Casos de spoofing em equipamentos bélicos que realizam missões de forma autónoma são predefinidos. Alterando as coordenadas, “julgam que estão a cumprir a missão mas na realidade estão a ser desviados da trajetória”, detalha Tiago Cruz.
As fragilidades do GPS são um problema internacional atual, que se revela um desafio maior considerando o facto de dependermos dele para muita coisa. “O uso mais comum é a navegação. Mas em situações onde é preciso ter um relógio coerente e coordenado em relação a várias localizações geograficamente dispersas, o GPS também é extremamente útil, por exemplo, na rede de distribuição elétrica”, acrescenta.
Alternativas ao GPS
A fácil intervenção na rede de navegação é a razão pela qual, por exemplo, a China e a Rússia têm o seu próprio sistema. Recentemente, a Comissão Europeia anunciou a intenção de criar mecanismos alternativos ao GPS para assistência à navegação, com alguns projetos já em curso.
“Em Coimbra, estamos num projeto europeu chamado SATERA, que é coordenado pela Universidade Politécnica de Valência, cujo objetivo é criar um mecanismo complementar ao GPS para conseguirmos inferir onde é que um avião está”, avança Tiago Cruz.
Este estudo pretende tornar o GPS um plano B, que seja substituído por um mecanismo complementar capaz de inferir o posicionamento dos aviões.
“Os aviões já têm o transponder, que é um equipamento que vai a bordo do avião e que está a reportar sempre, continuamente, informações sobre a velocidade, a posição do avião e por aí adiante. Nós queremos Lançarmos satélites de baixa altitude, de baixo custo, com antenas de VHF, que se destinam a apanhar estes sinais dos aviões”, explica.
O projeto ainda está numa fase experimental e envolve a empresa irlandesa Rockwell Collins, a Università di Roma Tor Vergata, a Universidade Politécnica de Valência, que lidera, e a Universidade de Coimbra.
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