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Ao mesmo tempo, ficou claro que a inovação tecnológica, por mais avançada que seja, não substitui o papel crítico do farmacêutico no acompanhamento clínico das populações. A pandemia foi prova disso mesmo.

Quando a Amazon anunciou, há algumas semanas, a venda de medicamentos através de vending machines nos EUA, surgiu-me uma pergunta inevitável: como serão as farmácias do futuro?

O setor encontra-se numa transformação profunda. O relatório Startups Driving Europe’s AI Transformation confirma que “Saúde & Farmácia” lideram em valor e financiamento na Europa, com 43 mil milhões de euros em enterprise value18 unicórnios e startups de “excelência”. A tecnologia está a moldar a próxima fase do setor, da automação à Inteligência Artificial (IA), passando por novos modelos de prestação de cuidados.

A redefinição da ida à farmácia

No centro desta evolução está a redefinição do que significa “ir à farmácia”. A tradicional dispensa de medicamentos está a dar lugar a hubs de saúde integrados, onde prevenção, aconselhamento clínico, gestão de doenças crónicas, vacinação e bem-estar convivem com ferramentas digitais de última geração. As “telefarmácias”, que permitem consultas remotas e acompanhamento terapêutico à distância, são um dos sinais mais claros da digitalização do setor.

Além disso, modelos inovadores de entrega, como drones, começam a surgir como alternativa para levar medicamentos diretamente a domicílio, especialmente em zonas remotas ou durante situações de elevada procura.

Esta combinação de tecnologia e logística avançada promete encurtar distâncias e reforçar a acessibilidade, mantendo sempre o acompanhamento profissional como eixo central do cuidado.

“O enquadramento da dispensa de medicamentos no sistema de saúde não se esgota no ato de proporcionar acessibilidade ao produto. Para garantir resultados terapêuticos é essencial que exista acompanhamento profissional.”

As farmácias portuguesas

Para perceber o que realmente está em jogo, conversámos com Ema Paulino, presidente da Associação Nacional das Farmácias, que sublinha que o setor tem sido historicamente pioneiro na adopção de tecnologia, mas há fronteiras que não podem ser ignoradas.

O acompanhamento farmacêutico tem impacto direto na segurança e nos resultados em saúde, reduzindo erros de utilização, interações não detetadas ou incumprimento terapêutico. Como reforça Ema Paulino: “A intervenção farmacêutica é um elemento central de segurança clínica e uma salvaguarda da saúde pública.”

Num contexto em que grandes operadores tecnológicos procuram automatizar a cadeia do medicamento, “a tecnologia é bem-vinda“, mas nunca como substituta do cuidado humano. A proximidade territorial e emocional continua a ser uma âncora fundamental numa rede que cobre praticamente todo o país.

“A modernização é necessária, mas não deve comprometer a centralidade do contacto humano. É essencial assegurar que as soluções tecnológicas não criam novos obstáculos ou desigualdades no acesso aos cuidados”

A “farmácia aumentada”

A próxima grande disrupção no setor vem da integração da inteligência artificial nas operações e na prática clínica das farmácias. Sistemas de previsão de procura, gestão de encomendas, otimização de stocks e identificação de padrões de consumo são apenas o começo. Mas é na prática clínica que a mudança poderá ser mais profunda.

“A IA tem potencial para criar uma verdadeira ‘farmácia aumentada’: mais eficiente e com mais tempo disponível para atividades de valor acrescentado”

O grande salto está na capacidade de transformar dados em decisões mais rápidas e preventivas. Nas farmácias comunitárias, a informação recolhida diariamente (sintomas reportados, combinações de medicamentos, padrões de adesão) pode ser integrada em modelos epidemiológicos capazes de antecipar epidemias sazonais ou identificar doentes em risco antes de complicações graves.

Além disso, a IA permitirá reforçar a continuidade dos cuidados, especialmente no acompanhamento de populações crónicas, através de modelos híbridos que combinam presença física e cuidados digitais. No limite, a farmácia do futuro poderá funcionar como um centro avançado de monitorização terapêutica.

“A tecnologia é um meio para ampliar o alcance da intervenção farmacêutica, não um fim em si mesma”

Como serão as farmácias do futuro?

A evolução tecnológica aponta para farmácias mais integradas no sistema de saúde, mais inteligentes e com maior capacidade de prevenção. A automação e a IA libertarão tempo dos profissionais para tarefas clínicas, enquanto a análise inteligente dos dados ajudará a antecipar necessidades e orientar a atuação.

Nos próximos anos, Portugal caminhará para um modelo de farmácias tecnologicamente avançadas, com maior capacidade de prevenção, monitorização contínua e intervenção baseada em dados. Mas, mesmo com drones, teleconsultas e IA, o princípio permanece: “modernização e segurança pública devem caminhar juntas, com o farmacêutico sempre no centro do cuidado”, conclui a presidente da Associação Nacional das Farmácias.

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