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Entrar num comboio sem conseguir olhar a paisagem acontece, por vezes, em Portugal. Os grafítis são uma realidade para quem usa a CP e vê os “desenhos” a demorarem tempo a ser removidos da pintura e mesmo dos vidros. A situação é ainda mais grave quando o vidro da cabina do maquinista é pintado: por falta de condições de segurança, o comboio tem de ser cancelado, com impacto para os passageiros, que têm de esperar por um veículo mais limpo.
Retirar os grafítis implica o uso de produtos decapantes, desengordurantes e de lavagem, além de cuidados ambientais para não contaminar os esgotos. Entre mão de obra e produtos, a CP gastou 4.895.437 euros nos últimos 15 anos a limpar grafítis dos comboios, segundo os dados obtidos pelo 24notícias junto da empresa.
O valor daria para comprar um comboio novo para o serviço suburbano ou regional e ainda sobrava para recuperar carruagens nas oficinas, melhorando o serviço para os utentes. No concurso para comprar 117 novos comboios, a CP vai investir mais de 4,2 milhões de euros por cada unidade. Cada uma das 50 carruagens que a empresa comprou em Espanha em meados de 2020 ficou por 180 mil euros, dos quais 150 mil corresponderam à recuperação nas oficinas de Guifões.
Entre 2010 e o primeiro semestre deste ano, foram removidos mais de 637 mil metros quadrados de pinturas. Em média, os contribuintes pagaram 7,68 euros por cada metro quadrado de grafíti retirado. Os comboios são limpos nos depósitos da CP, em Contumil, Sernada do Vouga, Santa Apolónia, Campolide, Algueirão, Carcavelos e Vila Real de Santo António. 2020 foi o ano com mais limpeza e o único em que o orçamento ultrapassou meio milhão de euros, segundo os dados da empresa. 2022 foi o ano com maior custo de limpeza por metro quadrado, superando os 12 euros.
A limpeza é apenas um dos gastos de remover os grafítis: também há despesas com o cancelamento de viagens e as manobras necessárias para movimentar o material circulante até ao depósito. Caso a empresa tivesse mais material circulante disponível, também seria necessário substituir vidros e bancos, o que acrescentaria ainda mais despesa com os grafítis.
O que Portugal gasta por ano com a limpeza dos “desenhos”, ainda assim, fica muito aquém dos 24 milhões de euros que a Renfe despendeu só em 2024, em custos diretos e indiretos. A congénere espanhola da CP, com uma rede ferroviária quase sete vezes maior do que a portuguesa, tem chamado a atenção para o problema. Em 2019, a Renfe exibiu “A peça mais cara”, uma portada grafitada como símbolo dos 15 milhões de euros, em custos diretos, que a empresa gastava todos os anos para lavagem dos comboios.
Casos a aumentar e trabalhadores agredidos
Voltando a Portugal, sempre que é detetado um grafíti num comboio, a CP chama a PSP e a GNR para dar conta da ocorrência. Ao 24notícias, as duas forças policiais dão conta do aumento do número de casos.
No último ano, a GNR registou um total de 37 crimes, com destaque para Porto e Aveiro, com 10 ocorrências cada. Foi o maior número de ocorrências desde 2019. No mesmo período, a GNR dá conta da detenção de 14 suspeitos, “duas mulheres e 12 homens, com idades compreendidas entre os 18 e os 50 anos” e da identificação de 33 pessoas, “duas mulheres e 31 homens, com idades compreendidas entre os 18 e os 50 anos”. A Guarda indica ainda que procura “garantir uma vigilância reforçada em parques de estacionamento contíguos às estações de comboios e pontos de maior risco, bem como a fiscalização do acesso a áreas restritas e identificação de indivíduos suspeitos.
A PSP distingue as contraordenações dos crimes de dano. As contraordenações, punidas com coimas entre 100 e 25 mil euros, referem-se aos grafítis que “descaracterizam, alterem, manchem ou conspurquem, de forma permanente e/ou prolongada, a aparência do exterior ou interior” dos comboios. Os crimes aplicam-se a danos “graves, irreversíveis ou com prejuízo elevado”, podendo resultar desde a multa até uma pena de prisão até oito anos. Entre 2020 e 2024, o último ano foi o que registou maior número de coimas (26), tal como em 2022. No mesmo período, 2020 foi o ano com mais crimes de dano em veículo motorizado. Até agosto desde ano, a PSP registou 11 coimas e 12 crimes.
Às autoridades também já chegaram queixas de trabalhadores e fornecedores da CP que foram “agredidos por tentarem impedir a atuação de graffiters”. O 24notícias tentou saber o número de situações desde 2010 mas a transportadora não facultou esses dados. Questionada sobre medidas para diminuir os grafítis nos comboios, a CP indicou apenas que faz parte de um grupo de trabalho, com outros operadores, do qual “resultarão diversas propostas a apresentar às entidades competentes”.
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