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Dividido em três capítulos - Na Vespa, As Ilhas e Os Médicos - o realizador italiano mistura diário pessoal, ensaio social e crónica urbana, construindo um retrato terno e irónico de si próprio e do mundo que o rodeia.

Na primeira parte, Na Vespa, seguimos Moretti a percorrer Roma na sua vespa, em pleno verão. Entre ruas vazias, bairros silenciosos e pequenas conversas com desconhecidos, há uma sensação de liberdade quase infantil, que se nota na maneira como o realizador se move e dança em cima da sua scooter.

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Ao mesmo tempo observa a cidade com curiosidade e melancolia, como quem procura sentido no banal. Hoje, este passeio ganha uma nova leitura: num tempo em que vivemos presos a ecrãs e rotinas aceleradas. Caro Diario lembra a importância de olhar para o mundo com calma, de estar presente, de observar, de existir fora do ruído.

Em As Ilhas, Moretti parte em busca de tranquilidade e autenticidade, visitando várias ilhas italianas onde imagina encontrar uma vida simples. Contudo, esta procura pode ser vazia e absurda. O autor expõe, com humor e ironia, a contradição entre o desejo de fuga e a incapacidade de nos desligarmos verdadeiramente do mundo. Numa das cenas, onde este viaja num pequeno barco com Itália de fundo, escreve o seguinte: “Dear diary, I´m happy only at sea, sailing from the island I´ve left to the one I´m going to” (“Querido diário, só sou feliz no mar, navegando da ilha que deixei para a ilha para onde vou.” )

O último capítulo, Os Médicos, é o mais íntimo e doloroso. Nele, o realizador narra a própria experiência com uma doença mal diagnosticada e a sucessão de consultas ineficazes. Após um dos diagnósticos, Moretti, sozinho no seu carro, desabafa: “Tudo depende de mim. E se depende de mim… com certeza não vou conseguir”.

Há em Caro Diario uma coragem rara: a de olhar para si sem máscaras. Moretti filma-se com ironia, vulnerabilidade e uma sinceridade desconcertante. O olhar sobre si mesmo é simultaneamente crítico e terno: não procura engradecer-se, mas compreender-se. Esse exercício de autoanálise, tão difícil no cinema e na vida , transforma o realizador em personagem e observador ao mesmo tempo. Ao expor as suas dúvidas, manias e fragilidades, Moretti convida-nos a olhar para as nossas. É esse gesto, o de se mostrar humano, imperfeito e consciente da própria contradição, que torna Caro Diario tão pessoal, numa relação entre espetador e a pessoa por detrás do realizador.

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