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Oura Health, fabricante finlandesa dos populares anéis inteligentes, está prestes a fechar uma ronda de financiamento de 875 milhões de dólares, que deverá avaliar a empresa em 10,9 mil milhões, quase o dobro da valorização obtida em dezembro passado.

A notícia, avançada pela Bloomberg, chega num momento em que a marca se prepara para um salto global e consolida o estatuto de símbolo de uma nova geração de tecnologia pessoal: menos visível, mais íntima e centrada na saúde.

A operação deverá ser concluída até ao final deste mês e servirá para reforçar a produção, acelerar o desenvolvimento tecnológico e sustentar a expansão internacional. Poucos dias antes, a Oura já tinha garantido uma linha de crédito de 250 milhões de dólares com um consórcio liderado pelos gigantes financeiros JPMorgan Chase, Goldman Sachs, Bank of America, Barclays, Citi e Wells Fargo.

Numa entrevista recente ao The New York Times, o CEO da Oura Health, Tom Hale, evitou comentar as notícias de que a empresa estaria a angariar uma nova ronda de financiamento que poderá avaliar o fabricante do anel de monitorização de saúde em quase 11 mil milhões de dólares. Ainda assim, falou sobre a possibilidade de levar a Oura para bolsa.

“Já atingimos claramente os limiares de dimensão, trajetória, escala e crescimento. Poderíamos tornar-nos numa empresa pública. Estará isso nos nossos planos? É certamente uma opção. E, quando o momento for o certo, todos ficarão a saber.”, antecipa Hale.

A aposta é coerente com o crescimento vertiginoso da empresa. Só no último ano, a Oura vendeu 2,5 milhões de anéis, atingindo as 5,5 milhões de unidades comercializadas desde a fundação. As receitas duplicaram entre 2023 e 2024 e deverão voltar a duplicar este ano, atingindo mil milhões de dólares.

Um anel que antecipa o dia seguinte

A história da Oura começou em 2013, na Finlândia, com uma missão de melhorar o sono. O primeiro modelo do Oura Ring focava-se em medir padrões noturnos, o ritmo cardíaco, tempo de adormecer e as fases do sono, mas rapidamente evoluiu para um verdadeiro centro de dados biométricos pessoais.

O anel, que custa entre 287 e 573 euros (com uma subscrição mensal de aproximadamente 6,88€), mede a frequência cardíaca ao longo do dia e da noite, regista a variabilidade da pulsação (um indicador do stress e da capacidade de recuperação), monitoriza a temperatura corporal e os níveis de oxigénio no sangue, e identifica com precisão as diferentes fases do sono, desde o sono leve ao REM. Todos esses dados são traduzidos numa pontuação de sono, numa avaliação da atividade física e numa métrica central: a pontuação de prontidão, que indica se o corpo está preparado para enfrentar o dia ou se precisa de descanso.

A aplicação móvel interpreta as medições e oferece sugestões práticas: dormir mais cedo, fazer pausas, hidratar-se melhor ou reduzir o ritmo. Tudo sem notificações invasivas nem distrações digitais. A filosofia centra-se na máxima: “menos buzz, mais autoconsciência”.

“Não é apenas um gadget”, sublinhou Hale. “É uma ferramenta para compreender o corpo e melhorar o bem-estar a longo prazo.”

“O novo fetiche dos CEOS”

Entre os utilizadores do anel estão Mark Zuckerberg, fundador da Meta, Michael Dell, da Dell Technologies, e Gwyneth Paltrow, atriz e empresária. Nos bastidores de Silicon Valley, o Oura Ring tornou-se quase um código de pertença entre executivos, investidores e founders obcecados com desempenho, saúde e longevidade.

A peça elegante, metálica e discreta é muitas vezes apresentada como uma evolução natural dos smartwatches. Mais leve, mais precisa e, acima de tudo, mais íntima.

O segredo está nos sensores embutidos no dedo, mais próximos da corrente sanguínea, que, segundo a empresa, captam dados com maior precisão do que os relógios inteligentes. A marca promete leituras mais fiáveis da frequência cardíaca, temperatura e variabilidade da pulsação métricas essenciais para prever fadiga, stress ou até o início de doenças.

A “política inegociável” de privacidade de dados vale ouro

Além do design minimalista e da promessa de autoconhecimento, a Oura construiu um dos maiores tesouros da economia digital da saúde: uma base de dados com 15 mil milhões de horas de uso registadas.

Este  “vale de dados” (como lhe chamam os analistas) alimenta algoritmos de personalização da marca e reforça a sua vantagem competitiva perante gigantes como a Samsung, que lançou o seu próprio anel em 2024, ou a Apple, que prepara um modelo semelhante.

Durante a entrevista ao The New York Times, Hale também foi questionado sobre os seus próprios hábitos de sono (7,5 horas por noite) e sobre a participação da Oura em programas de partilha de dados lançados pela administração Trump. Sobre este último tema, o CEO da Oura sublinhou que a empresa procura ajudar os clientes a partilhar os seus dados apenas quando isso lhes é útil.

“Não é como se disséssemos: ‘Ah, agora estou a partilhar os meus dados com a administração Trump.’ Não, nada disso. A privacidade e a segurança dos dados são inegociáveis”, sobretudo quando “podem ser usados, de alguma forma, contra o utilizador”, clarificou Tom Hale.

A Oura também tem vindo a expandir o seu ecossistema com parcerias estratégicas. Desde 2020, colabora com a startup sueca Natural Cycles, integrando funções de acompanhamento do ciclo menstrual e fertilidade, e mais recentemente uniu-se à Strava, uma das aplicações de exercício mais populares do mundo.

Porque é que um anel “ganha” a um relógio?

Enquanto os smartwatches se tornaram uma extensão do telemóvel, cheios de notificações, ecrãs e distrações, o anel da Oura aposta na simplicidade e profundidade.

Por não ter ecrã nem alertas visuais, é menos intrusivo e há quem considere mais prático para ser usado durante o sono. A autonomia, que varia entre quatro e sete dias, supera largamente a dos relógios inteligentes. E, ao contrário destes, o Oura Ring oferece uma leitura mais estável dos sinais vitais, graças à posição no dedo.

A estética também pesa, ou seja, em vez de parecer um gadget, o anel é um acessório de design minimalista, que pode passar despercebido num evento ou numa reunião de conselho de administração.

Num mundo saturado de tecnologia visível, o sucesso da Oura parece nascer precisamente do oposto: um dispositivo invisível que dá poder ao utilizador, em vez de o distrair.

Samsung e Apple preparam resposta

A ascensão exponencial da Oura não passou despercebida às gigantes tecnológicas. A Samsung lançou o Galaxy Ring em 2024, um anel inteligente que replica parte das funções do Oura, com foco na integração com o ecossistema Galaxy. Já a Apple terá planos semelhantes, com patentes registadas e protótipos em desenvolvimento, o que poderá transformar os smart rings na nova frente de batalha dos wearables.

Ainda assim, a Oura mantém uma vantagem difícil de replicar… uma comunidade fiel, uma base de dados sem paralelo e uma imagem que combina luxo discreto com inovação científica.

Com esta base de utilizadores e um produto que se tornou símbolo de status, a Oura prepara-se agora para um novo capítulo: a entrada em bolsa.

A startup finlandesa conseguiu transformar o gesto quotidiano de colocar um anel num ritual de autoconhecimento digital. E, se a tendência continuar, o pequeno anel no dedo pode vir a substituir o relógio no pulso, não apenas como acessório, mas como o próximo ícone de uma era onde saúde, dados e tecnologia se fundem num só gesto.

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