“Não faz absolutamente sentido termos mais personalização na forma como escolhemos a nossa roupa do que na forma como lidamos com a nossa saúde.” diz Luís Valente, CEO da iLoF.
A startup portuguesa, baseada no Porto, está a transformar a forma como se fazem ensaios clínicos. Recorre à física, biologia e inteligência artificial para criar “gémeos digitais” de pacientes, permitindo que farmacêuticas e biotechs selecionem, com precisão, quem deve participar em cada teste clínico.
Com esta abordagem, permite a redução de custos e tempo de investigação, acelerando a descoberta de novos tratamentos, um avanço crucial em doenças complexas como o Alzheimer, que afeta mais de 55 milhões de pessoas em todo o mundo.
Tornar o cancro visível
“O cancro tem quase que uma capa de invisibilidade… e nós estamos a tentar removê-la.” partilha João Incio, Diretor da Mondego Bio. A biotech atua no campo da oncologia e está a desenvolver uma terapia que reforça o sistema imunitário e ajuda a tornar as células tumorais visíveis, permitindo que o próprio corpo doente combata o cancro de forma mais eficaz.
Esta tecnologia resulta da tendência global em que a inovação biomédica nasce nas startups, e só mais tarde é escalada pelas grandes farmacêuticas. “Há 20 anos, eram as big pharma que faziam tudo in-house. Hoje, é ao contrário”, lembra João Incio.
Capital que impulsiona o setor
Estas duas startups nasceram e cresceram com o apoio de uma linha de financiamento – o Fomento Portugal Tech – uma iniciativa conjunta entre o Banco Português de Fomento (BPF) e o Fundo Europeu de Investimento (FEI) de 100 milhões de euros.
Este programa tem como objetivo atrair capital de risco para o ecossistema tecnológico nacional, apoiando fundos especializados em áreas de deep tech, biotecnologia e saúde digital.
A iLoF usou este apoio para expandir a sua tecnologia em terapias para Alzheimer. A Mondego Bio, por sua vez, contou com a criação da BioVance Capital, um fundo português de 51 milhões de euros, que teve precisamente o Fomento Portugal Tech como investidor âncora. “Sem o BPF e o FEI, não haveria este fundo. Eles foram os primeiros investidores”, explica João Incio.
A BioVance surgiu também com coinvestimento internacional — incluindo o OrbiMed, o maior fundo mundial dedicado à biotecnologia, com 17 mil milhões de dólares em ativos sob gestão, um exemplo de como o investimento público pode alavancar capital privado global e colocar Portugal no mapa da inovação biomédica.
A aposta certa para o futuro
“Há muitas áreas em que Portugal não pode competir. Mas em deep tech e health tech, temos o know-how e a massa crítica.”, diz Luís Valente.
O CEO da iLoF acredita que instituições como o Banco Português de Fomento e o Banco Europeu de Investimento têm um papel direto e indireto no desenvolvimento do país, apoiando empresas, mas também os fundos que alimentam o ecossistema.
Com uma estratégia que combina ciência, dados e investimento estruturado, Portugal tem hoje uma oportunidade rara: criar empresas que geram conhecimento, empregos altamente qualificados e impacto global.
“Podemos querer muito um carro novo ou uma casa nova, mas nada disso importa se não vivemos mais e com saúde.”, reforça.
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