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Segundo o The Guardian, a tapeçaria de Bayeux é vista como “o documento mais devastador da história sobre a guerra”. Esta peça de arte românica, com cerca de 70 metros de comprimento, é muito mais do que um registo visual da Batalha de Hastings, em 1066: é um testemunho poderoso de amizade traída, ambição política e violência brutal, com um impacto que continua a emocionar mais de 900 anos depois da sua criação.
Conservada na cidade francesa de Bayeux, na Normandia, a tapeçaria vai viajar até Londres em 2026 para uma exposição no British Museum, num gesto simbólico de diplomacia cultural entre franceses e britânicos. Em contrapartida, tesouros como os achados de Sutton Hoo e as peças do xadrez de Lewis seguirão para França. Prevê-se que esta seja uma das exposições mais populares de sempre do museu, dada a sua importância histórica e emocional para o público britânico.
A tapeçaria apresenta uma sequência narrativa extraordinária que começa com Harold Godwinson, nobre saxão e confidente do rei Eduardo, sem herdeiros. Harold parte para a Normandia, onde acaba por ser feito prisioneiro e depois resgatado por William, duque da Normandia. Os dois combatem lado a lado, mas numa cena central e carregada de tensão, Harold jura fidelidade a William sobre relíquias sagradas.
O drama estala quando Harold regressa a Inglaterra e assume o trono, desafiando o juramento feito. Para William, a quebra da palavra dada justifica a invasão. A tapeçaria mostra a preparação minuciosa da campanha normanda: navios, armas, vinho e cavalos são reunidos antes do desembarque que mudará o curso da história inglesa.
Os bordados, feitos com simplicidade gráfica mas intensidade emocional, captam o horror da guerra. Corpos decapitados, cavaleiros em queda e membros mutilados compõem cenas de grande violência. O impacto visual é tal que, segundo o The Guardian, “nem um filme de Ridley Scott conseguiria superar a força narrativa da tapeçaria”.
A autoria da obra permanece envolta em mistério, mas acredita-se que tenha sido encomendada por Odo, bispo de Bayeux e meio-irmão de William, e bordada por mulheres nobres anglo-saxónicas em Canterbury. Esta possível origem feminina não suaviza o tom da tapeçaria, mas poderá explicar a inclusão de cenas como a de uma mulher e uma criança a fugir de uma casa em chamas.
Apesar de contar a história do ponto de vista normando, a tapeçaria não romantiza a conquista. Mostra Harold a ser atingido por uma flecha no olho — o célebre momento da sua morte — e o colapso final da resistência saxónica. A vitória normanda é total, mas deixa implícito um mundo em transformação: nascerá um novo estado feudal, e com ele uma nova Inglaterra.
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