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Pretende criar um movimento recíproco: o reconhecimento do Estado da Palestina por várias nações ocidentais, em troca do reconhecimento do Estado de Israel por parte de líderes do mundo árabe, designadamente os da Arábia Saudita, do Kuwait do Qatar e de outras nações do Golfo.

Esta estratégia inclui vários passos: consolidar o isolamento e neutralização militar e política do Hamas, garantir a libertação de todos os reféns, instalar uma missão internacional de estabilização na Faixa de Gaza e, por fim, lançar as bases para um Estado palestiniano com uma governação fiável e inclusiva, com a Autoridade Nacional Palestiniana, reformada, renovada e legitimada através de eleições, a governar tanto a Cisjordânia como Gaza. Para evitar a repetição do cenário de 2006 – quando o voto palestiniano entregou ao Hamas o governo de Gaza – este plano franco-saudita impõe a exclusão do processo e das eleições de qualquer força política que não reconheça Israel e que não renuncie explicitamente à violência.

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Este plano combinado por Emmanuel Macron com Mohammed bin Salman, famoso pelas iniciais MBS, vai ao encontro de um grande desejo de Donald Trump: oferece as condições que o presidente dos EUA há muito procura para negócios férteis na região, com parcerias entre Israel e as ricas monarquias da região, a começar pela Arábia Saudita. É o modo para dar grande dimensão aos Acordos de Abraão que Trump trata de ampliar desde ainda o primeiro mandato na presidência.

Há uma condição: este reconhecimento de Israel pelos Estados árabes está condicionado pela criação do Estado palestiniano. É uma opção que Netanyahu rejeita categoricamente. Mas o poderoso e influente MBS é inflexível: sem Estado da Palestina, a Arábia Saudita não reconhece o Estado de Israel.

Há um poderoso estímulo: os laços de interesse de longo alcance para os negócios têm força bastante para levar Trump a tratar de dar a volta a Netanyahu.

É óbvio que o atual primeiro-ministro de Israel vai manobrar todo o tipo de argumentos para recusar, até a Trump – a única voz internacional que ouve – admitir a criação do Estado soberano da Palestina. Netanyahu vai invocar a vontade do povo de Israel: as sondagens mostram que quatro em cada cinco israelitas querem esvaziar Gaza dos seus habitantes, vivos ou mortos. Israel é uma democracia mas onde o acesso à informação está distorcido por estratégias de afastamento da realidade. Substituída por narrativas autistas. Incapaz de considerar os pontos de vista de outras pessoas. Com cada palestiniano desfigurado e assumido como um inimigo permanente, desumanizado.

A cabeça dos israelitas está feita pelo argumentário que aponta um único caminho: “ou nós ou eles”. É uma diabolização do palestiniano que não tem a abertura para a harmonização entre “nós e eles”

Os ministros mais ferozmente ultra no governo Netanyahu, Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir desejam a morte, mesmo que seja através da arma da fome, dos palestinianos que, dizem eles, “ocupam a Terra de Israel”. Para eles, a Cisjordânia é a Judeia e a Samaria, que consideram, tal como Gaza, terra de Israel.

Nas guerras, a fome costuma ser consequência do conflito. Em Gaza, a fome está a ser usada pelo governo de Israel como escolha política (que o responsabiliza perante a História), é um instrumento estratégico no conflito.

As imagens mais perturbadoras e revoltantes destes dias, as de crianças com corpo esquelético em luta desesperada por uma fatia de sobrevivência, também as das que sucumbiram derrotadas ela fome, estão a mexer na opinião pública. 

O plano franco-saudita abre portas para soluções. O Canadá e o Japão preparam-se para integrarem essa coligação em esforço pela paz duradoura. O governo britânico está sob forte pressão, não apenas da rua, também de alguns ministros.

Trump é tão determinante quanto imprevisível. A perspetiva de grandes negócios com a ampliação do Acordo de Abraão é um fator muito forte a ter em conta.

O refrão "dois povos, dois Estados" pode deixar de ser uma fantasia. A opinião pública mundial está a constatar que as alternativas são pesadelos: genocídio palestiniano e guerras permanentes. A par do suicídio moral de Israel por escolha do governo Netanyahu com cumplicidades várias.

É assim que o plano de Macron e MBS esta semana em discussão em Nova Iorque faz bem a todos, incluindo Israel.