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O conflito civil no Sudão, que já dura há mais de dois anos, tem-se agravado, mas continua a ser amplamente ignorado pela comunidade internacional e pelos media ocidentais. Como escreve John Oxley, no Substack da The Cosmopolitan Globalist, o “Sudão está a morrer à fome — e continua a não ser estratégico o suficiente para ser salvo”.

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Apesar da dimensão da guerra — com 11 milhões de deslocados internos e 25 milhões de pessoas ameaçadas por fome e doenças — o conflito permanece fora do foco político e mediático, eclipsado por guerras mais “estrategicamente relevantes”, como na Ucrânia ou Gaza. Segundo o autor, “Sudão é o parente pobre das guerras, sem a necessidade estratégica da Ucrânia nem a atenção pública que Gaza atrai”.

O exército sudanês conseguiu retomar zonas importantes, como Cartum e Omdurman, anteriormente dominadas pelas Forças de Apoio Rápido (RSF), mas o conflito está longe de terminar. Os rebeldes mantêm o controlo de regiões no sudoeste do país e cercam a cidade de El Fasher. Ao mesmo tempo, os esforços diplomáticos para a paz falharam, e há um desinteresse global em intervir.

A população civil sofre de forma extrema: zonas residenciais são bombardeadas, hospitais foram destruídos, há relatos sistemáticos de violência sexual, fome forçada como arma de guerra e ataques deliberados a campos de refugiados. Só no campo de Zamzam, em abril, alegadamente morreram mais de 400 civis, incluindo trabalhadores humanitários.

Ambos os lados do conflito enfrentam acusações de crimes de guerra — os RSF pelo uso de violações em massa e genocídio cultural em Darfur, e o governo sudanês por alegado uso de armas químicas, o que levou os EUA a imporem sanções, ainda que com impacto limitado.

Países como o Chade, Líbia, Sudão do Sul e Emirados Árabes Unidos são acusados de apoiar os rebeldes, enquanto o governo terá recebido drones iranianos. O embargo de armas, imposto na sequência do genocídio em Darfur, mostra-se ineficaz.

No plano humanitário, a situação é catastrófica: “A ONU já declarou esta como a pior crise humanitária do mundo”. Contudo, as campanhas de ajuda têm pouca adesão: apenas 6% dos fundos previstos foram angariados no primeiro trimestre de 2025. A retirada de financiamento da USAID levou ao encerramento de 80% das cozinhas comunitárias.

Para Oxley, a indiferença perante a tragédia sudanesa revela as falhas morais da política externa internacional. “O Sudão é demasiado distante, demasiado horrível, demasiado intratável para justificar qualquer ação concertada”. A crise, diz, não exige intervenção militar, apenas atenção e um mínimo de seriedade moral: “Não precisamos de resolver o problema. Mas devíamos, pelo menos, admitir que escolhemos não tentar”.