
O Conselho Europeu de Investigação (ERC) atribuiu duas bolsas Advanced Grant a investigadoras em Portugal, num total de cinco milhões de euros. Os projetos distinguidos, liderados por Megan Carey, na Fundação Champalimaud, e Mónica Sousa, no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), vão explorar novas abordagens na consolidação da memória motora e na regeneração da espinhal medula.
Cada uma receberá cerca de 2.5 milhões de euros para o desenvolvimento de projetos de investigação ao longo dos próximos cinco anos.
No total, o ERC vai distribuir 721 milhões de euros por 281 investigadores na Europa. Na área das ciências da vida, foram apresentadas 732 candidaturas e apenas 83 foram selecionadas para financiamento — uma taxa de sucesso de cerca de 11%.
Memórias motoras e o papel do cerebelo
Megan Carey, neurocientista da Fundação Champalimaud, vai liderar um projeto que investiga como o cerebelo participa na consolidação de memórias motoras — como andar de bicicleta — mesmo durante o repouso. A investigação usará tecnologias avançadas para observar e manipular a atividade de células cerebrais específicas, tentando perceber como diferentes tipos de neurónios cerebelares influenciam o processo de aprendizagem ao longo do tempo.
“É um reconhecimento importante do trabalho arrojado e criativo realizado ao longo dos últimos 15 anos pelos meus talentosos estudantes e pós-doutorandos”, afirmou Carey. A investigadora, com dupla nacionalidade portuguesa e norte-americana, é membro da EMBO e iniciou o seu laboratório na Champalimaud em 2010.
A cura que pode vir do rato-espinhoso
Já Mónica Sousa, do i3S da Universidade do Porto, vai explorar a extraordinária capacidade regenerativa do rato-espinhoso (Acomys cahirinus), um mamífero que, ao contrário dos humanos, consegue recuperar a função da espinhal medula após lesão, sem formar cicatrizes inibitórias. O projeto CORDheal pretende mapear os processos celulares e genéticos que tornam esta regeneração possível e, a longo prazo, abrir caminho a novas terapias para lesões medulares em humanos.
“Este reconhecimento irá permitir explorar questões científicas desafiantes, que de outra forma não conseguiríamos abordar”, sublinhou a investigadora, destacando o mérito da sua equipa e o impacto potencial da investigação.
Portugal entre os premiados
Ambas as bolsas agora atribuídas são do tipo Advanced Grant, destinadas a investigadores com carreira consolidada e projetos de elevado risco e ambição. As bolsas do ERC são atribuídas com base apenas na excelência científica, sem quotas por país ou área de investigação.
As conquistas de Carey e Sousa colocam Portugal em destaque num universo altamente competitivo, reforçando o papel da ciência nacional nas grandes fronteiras do conhecimento europeu.
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