
Em 2023, um grupo de investigadores da Universidade de Chicago revelou que o GPT-4, um dos modelos de inteligência artificial que está por trás do ChatGPT, passou com distinção no exame de acesso à Ordem dos Advogados dos Estados Unidos.
Este feito foi um primeiro alerta para as sociedades de advogados, que começaram a questionar qual será, afinal, o papel do advogado numa altura em que existe uma tecnologia que parece ser capaz de fazer quase tudo sozinha.
Atualmente, muitas sociedades de advogados já começaram a integrar ferramentas de IA, sobretudo para automatizar tarefas rotineiras e libertar os profissionais para áreas em que a sensibilidade e o julgamento humano continuam a ser indispensáveis.
“A inteligência artificial já mudou muito a forma como fazemos muitos dos nossos trabalhos do dia a dia, sobretudo na rapidez com que realizamos pesquisas e investigação de jurisprudência”, afirma Magda Cocco, partner da VdA, uma sociedade de advogados em Portugal.
Gestão do tempo
A ideia de que um advogado tem de trabalhar horas a fio pode estar perto do fim. Com a IA a entrar nos tribunais e nos escritórios de advogados, a rotina destes profissionais está a transformar-se todos os dias.
Com menos tempo alocado a tarefas burocráticas, é preciso repensar o papel do advogado no futuro — e, com ele, o modelo de negócio que sustenta grande parte do setor.
“Temos toda uma indústria montada nesta ideia de que o valor do serviço que prestamos é medido em horas. Com a introdução de uma tecnologia que produz resultados quase automáticos, torna-se necessário repensar como vamos medir o valor daquilo que fazemos”, reflete Paula Gomes Freire, managing partner da VdA.
Os desafios
Usar inteligência artificial na prática jurídica traz riscos. É essencial lembrar que um chatbot não é um advogado e a utilização excessiva desta tecnologia pode comprometer a transparência, a ética e o rigor das respostas fornecidas.
“É um risco enorme recorrer a chatbots ou a outras ferramentas de inteligência artificial para obter respostas jurídicas, pois ninguém controla a qualidade das informações. Muitas vezes, as respostas parecem fundamentadas, mas são incorretas ou baseiam-se em diplomas legais inexistentes”, alerta Magda Cocco.
A tecnologia avança a um ritmo que a legislação não consegue acompanhar. O AI Act, a primeira tentativa da União Europeia para regulamentar a inteligência artificial, ainda está em fase inicial de implementação.
Magda recorda que, “quando surgiu o ChatGPT, a Comissão Europeia ficou bastante preocupada porque esta forma de inteligência artificial generativa não estava prevista na regulamentação”.
Além disso, perante esta nova realidade as empresas enfrentam uma necessidade acrescida para tornarem-se relevantes e manterem o fator x – que nos faz escolher um escritório em vez de outro.
“Há um conhecimento acumulado que é próprio e que é o grande ativo de uma sociedade de advogados. Com o acesso facilitado à informação proporcionado pela IA, o desafio para as sociedades é manterem-se relevantes enquanto plataformas de prestação de serviços jurídicos, num contexto em que o conhecimento se torna cada vez mais democratizado”, sublinha Paula Gomes Freire.
Investir em IA é uma “oportunidade enorme” para as sociedades
Apesar dos desafios, a expectativa das duas responsáveis com uma vasta experiência na área é otimista e acrescentam que implementar IA é uma necessidade cheia de vantagens para a vida de um advogado e para a própria sociedade.
“Há um mundo antes e um mundo depois da inteligência artificial. A velocidade desta transformação é muito grande e, em cinco a dez anos, o mundo da advocacia será completamente diferente, como acontece em todos os setores e organizações”, conclui Paula Gomes Freire.
Para saberem mais sobre o futuro da vida dos advogados com a introdução da inteligência artificial vejam o nosso novo episódio já disponível aqui.
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