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Os Estados Unidos opuseram-se a uma declaração firme do G7 sobre a Ucrânia, que procurava condenar a Rússia, durante a cimeira do grupo, que termina esta terça-feira (17) no Canadá.

O conflito na Ucrânia era um dos principais eixos da reunião anual do clube das grandes democracias industrializadas (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Reino Unido e Japão), desta vez em Kananaskis, nas Montanhas Rochosas canadianas.

"Não haverá declaração separada" sobre a Ucrânia "porque os americanos queriam dilui-la", explicou um funcionário canadiano que pediu anonimato, no último dia de reuniões.

Os outros seis membros do G7 acordaram uma "linguagem forte", mas uma declaração conjunta requeria o aval dos Estados Unidos, que argumentou que queria preservar a sua capacidade de negociação, acrescentou esta fonte.

"Alguns de nós, incluindo o Canadá, podíamos ter ido mais longe", destacou em conferência de imprensa o primeiro-ministro canadiano, Mark Carney. Ressaltou que todos concordaram em continuar a pressionar a Rússia, inclusive com sanções financeiras.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, foi convidado para a reunião, mas não teve a oportunidade de conversar com o colega americano, com quem tem uma relação tensa.

Zelensky reuniu-se esta terça com os outros líderes do G7, horas depois de um ataque ter deixado pelo menos 14 mortos em Kiev, um dos bombardeamentos mais violentos desde a invasão ordenada pelo presidente russo Vladimir Putin, em fevereiro de 2022.

"É importante que os nossos soldados sejam fortes no campo de batalha, que permaneçam fortes até que a Rússia esteja pronta para as negociações de paz", disse Zelensky. "Estamos prontos para as negociações de paz, para um cessar-fogo incondicional. Para isso, precisamos de pressão."

Após estas declarações, Mark Carney, anfitrião da cimeira, anunciou que o seu país oferecerá uma nova ajuda militar à Ucrânia de dois mil milhões de dólares canadianos, para drones e veículos blindados. Carney reiterou "a importância de ser solidários com a Ucrânia" e de "exercer máxima pressão" sobre Putin, que se tem negado a sentar-se na mesa de negociações.

O presidente francês, Emmanuel Macron, denunciou que Putin aproveitou a tensão internacional provocada pela tensão entre Irã e Israel para ordenar o ataque a Kiev.

"Mostra o complexo cinismo do presidente Putin, que utiliza o contexto internacional para intensificar os ataques contra civis", disse Macron aos jornalistas.

"Máquina de guerra de Putin"

O Canadá também anunciou um novo empréstimo à Ucrânia de 2,3 mil milhões de dólares canadianos para ajudar a reconstruir a infraestrutura e sistemas públicos, e uniu-se ao Reino Unido para endurecer as sanções contra a chamada "frota fantasma" da Rússia, utilizada para driblar as sanções internacionais sobre as vendas de petróleo.

"Essas sanções atingem diretamente o coração da máquina de guerra de Putin, asfixiando a sua capacidade para continuar a guerra de barbárie na Ucrânia", disse o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer.

Trump, que sempre faz questão de exaltar a relação privilegiada com Putin, não escondeu na segunda-feira o ceticismo perante eventuais novas medidas contra Moscovo.

"As sanções não são tão simples", afirmou, ao ressaltar que qualquer nova medida também teria um custo "colossal" para os Estados Unidos.

"Obviamente, com Trump fora [da cimeira], as discussões podem ser um pouco mais fluidas, mas também têm menos impacto com a nação mais poderosa ausente", reconheceu um diplomata de um país do G7, que pediu anonimato.

"Acordo justo"

Muitos líderes na cimeira esperavam poder desativar a ofensiva comercial de Trump, que impôs tarifas de pelo menos 10% sobre a maioria dos produtos importados pelos Estados Unidos e ameaça aumentar ainda mais o nível das taxas.

Mas os comentários de Trump ao regressar a Washington frustraram parte das esperanças.

Como de costume, Trump não se privou de dar, no avião de volta, várias alfinetadas nos líderes com quem tinha acabado de se reunir.

Lamentou que os europeus não tenham apresentado até agora "um acordo justo" para aliviar a guerra comercial com os Estados Unidos, quando a pausa para aplicar as sobretaxas termina em 9 de julho.

"Vamos fazer um bom acordo ou simplesmente vão pagar o que nós dissermos que paguem", advertiu o presidente americano.

Também criticou Macron, um "tipo simpático", mas que "nunca entende nada", visivelmente incomodado por ouvir o presidente francês falar por si sobre seus planos para resolver o conflito entre Israel e Irão.

A cimeira do próximo ano do Grupo dos Sete será realizada em Evian, um balneário francês conhecido pela água mineral homónima, anunciou Macron nesta terça.