
Dois moradores do Bairro do Talude Militar de Loures denunciaram a venda de duas barracas da lata, sem condições mínimas de habitação, por dois mil euros, em abril e maio deste ano.
Estes casos alertaram a Polícia Municipal e os serviços camarários, e motivaram a denúncia de um esquema de compra e venda de barracas que está a ser investigado pelo Ministério Público.
“A câmara já fez uma denúncia ao Ministério Público porque se estão a comercializar barracas naquele bairro. Há moradores a denunciar que pagaram dois mil euros pela barraca com o sonho de que viriam a ter uma casa”, acusou Ricardo Leão, presidente da Câmara de Loures, numa cimeira promovida pela SIC Notícias.
O Expresso descobriu ainda que o vendedor é também morador no bairro e aliciou uma das pessoas com a venda de material de construção como chapas de zinco e barrotes e, noutro caso, vendeu a barraca pronta para habitação, em regime "chave na mão". Os dois serviços, pelo mesmo valor exorbitante.
A habitação precária vendida tinha cerca de cinco metros quadrados e acesso a água e luz, obtidas de forma irregular.
" Segundo relatos transmitidos à Polícia Municipal por ocupantes de construções precárias, um homem, também ele ocupante de uma construção ilegal, estaria a aliciar outras pessoas para se fixarem no bairro, procedendo ao loteamento de terrenos e à venda de barracas por cerca de 2000 euros. O valor incluiria espaço, materiais, construção, e ainda o fornecimento de água e eletricidade. Todos estes factos foram formalmente reportados às autoridades competentes", confirmou uma fonte da autarquia ao Expresso.
Sabe-se que o arguido enganou mais moradores, sendo expectável que possa haver mais pessoas implicadas neste esquema. A maioria dos lesados são imigrantes, alguns já chegam com trabalho na capital.
O governo diz ter conhecimento de uma rede criminosa a comercializar habitações precárias, mas ainda não foram avançadas mais informações sobre o caso: “Temos esse conhecimento porque estamos a falar, permanentemente, com o presidente da Câmara de Loures”, disse o ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, citado pela agência Lusa.
O ministro põe-se ainda do lado do autarca Ricardo Leão, ao concordar com as demolições levadas a cabo no bairro do Talude Militar.
Entre 30 de junho e 15 de julho, a Câmara Municipal de Loures avançou com demolições em massa no bairro do Talude, apesar de várias providências cautelares interpostas e aceites pelo tribunal, que proibiam explicitamente essas ações. Ao todo, foram demolidas 89 habitações, despejando um número equivalente de famílias, sem a presença de assistentes sociais nem garantias de limpeza, armazenamento de bens ou alternativas dignas de alojamento.
A situação gerou bastante polémica na opinião pública, que critica a falta de alternativas para as famílias despejadas.
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