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A votação está já a ser marcada por ciberataques aos sistemas eleitorais e ameaças de bomba falsas em mesas de voto no estrangeiro, incluindo em Bruxelas, Roma e nos EUA. As autoridades falam em forte pressão da Rússia para influenciar o resultado. Moscovo nega as acusações e classifica-as de “anti-russas” e “infundadas”.

O voto da diáspora — geralmente pró-Europa — pode ser decisivo para o resultado final. Com apenas 2,4 milhões de habitantes, situada entre a Ucrânia e a Roménia, a Moldova, independente desde 1991, ganhou um peso inesperado no tabuleiro diplomático europeu. A proximidade à Ucrânia e à NATO, bem como a trajetória política recente, tornam o país estratégico.

Em 2021, o partido Ação e Solidariedade - PAS (Action and Solidarity, em inglês), liderado por Maia Sandu, venceu com maioria absoluta, e assumiu uma agenda pró-europeia. Após a invasão russa da Ucrânia, a Moldova candidatou-se à União Europeia, tendo recebido o estatuto de país candidato em tempo recorde. O objetivo declarado é aderir à UE até 2030.

Ainda assim, um referendo recente sobre a adesão à União Europeia foi aprovado por uma margem mínima, e levantou dúvidas sobre a direção futura do país. Ambos os atos eleitorais foram marcados por acusações de ingerência russa, incluindo uma alegada operação de compra de votos no valor de 15 milhões de dólares a 130.000 moldavos, cerca de 10% do eleitorado.

Sandu alerta para o risco

Ao votar hoje em Chișinău, Sandu lançou um apelo dramático: “Moldova, a nossa casa, está em perigo. O destino do nosso país deve ser decidido pelo vosso voto, não por votos comprados”.

Entretanto, as autoridades moldavas acusam Moscovo de canalizar milhões de dólares para partidos pró-russos, compra de votos e campanhas de propaganda. Uma investigação da Reuters revelou, esta quarta-feira, a mobilização de padres ortodoxos para influenciar eleitores contra o PAS.

Na sexta-feira, dois partidos pró-Rússia foram excluídos da corrida por irregularidades financeiras — decisão que gerou protestos da oposição e críticas do Kremlin.

Quem são os protagonistas desta eleição?

  • Maia Sandu, economista formada em Harvard e antiga funcionária do Banco Mundial, fundou o PAS em 2016. O seu aliado próximo, Dorin Recean, tornou-se primeiro-ministro em 2023;
  • Do lado oposto está o Bloco Eleitoral Patriótico (BEP), uma coligação de partidos de esquerda e pró-Rússia, liderada pelo ex-presidente Igor Dodon, derrotado por Sandu em 2021. O bloco patriótico argumenta que a integração europeia é uma ameaça à independência da Moldova e procura laços mais estreitos com a Rússia;
  • A Alternativa, liderada pelo autarca de Chișinău, Ion Ceban, e pelo ex-procurador-geral Alexandru Stoianoglo, procura captar eleitores centristas desiludidos. Embora se declare pró-europeia, é acusada por alguns especialistas de funcionar como um para divisor do eleitorado pró-UE;
  • Também em disputa está o partido populista Nosso Partido, liderado por Renato Usatîi, antigo aliado de políticos nacionalistas russos;
  • De fora ficam os aliados do oligarca fugitivo Ilan Shor, condenado em 2023 por fraude e branqueamento de capitais.

Como funciona o sistema eleitoral?

Os moldavos estão a eleger hoje 101 deputados através de um sistema proporcional.

O voto da diáspora — estimada em cerca de 1 milhão de pessoas — é determinante, já que em anteriores eleições foi decisivo para o campo pró-europeu. Outro fator imprevisível são os 277 mil eleitores registados na Transnístria, região separatista pró-Rússia, onde a abstenção costuma ser elevada. Algumas sondagens, citadas pelo jornal britânico The Guardian, falam no aumento da desinformação russa naquela região.

Em 2024, mais de 320 mil cidadãos votaram a partir do estrangeiro, com uma esmagadora maioria a favorecer os candidatos pró-UE.

Embora as sondagens locais indiquem uma vantagem para o PAS, cerca de um terço do eleitorado mantém-se indeciso, e muitos analistas sublinham que a taxa de participação será fundamental para definir o vencedor.

O que se pode esperar?

As sondagens colocam o PAS ligeiramente à frente do Bloco Patriótico, mas a incerteza é elevada e há três cenários principais:

  • Uma vitória do PAS garante continuidade na agenda de reformas pró-UE.

  • Mais provável, segundo as sondagens citadas pelo The Guardian, é que o partido de Sandu vença, mas sem maioria absoluta, o que obrigaria a negociações complexas para formar governo.

  • Um terceiro cenário é o triunfo do campo pró-russo, com apoio de partidos centristas, que enfraquece a perspetiva europeia e as reformas democráticas.

O escrutínio decorre sob fortes receios de interferência externa. Esta semana, as autoridades do país prenderam 74 pessoas em mais de 250 buscas, em que acusam a Rússia de financiar tentativas de desestabilização. O primeiro-ministro Dorin Recean acusou Moscovo de gastar centenas de milhões de euros para "sitiar o país" — algo que o Kremlin nega.

Um relatório do Digital Forensic Research Lab (especialistas em desinformação e fake news), citado pelo The Guardian, conclui que a Moldova enfrenta “ameaças híbridas persistentes lideradas pela Rússia, incluindo guerra de informação, financiamento ilícito, ciberataques e mobilização por proxy”, com o objetivo de enfraquecer a agenda pró-EU e reforçar os atores pró-russos.

Neste momento (22h40), e com quase dois terços dos votos contados, o partido pró-ocidental PAS lidera com 44% dos votos, enquanto a aliança de partidos pró-Rússia, liderada pelo ex-presidente Igor Dodon, está 27% dos votos.

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