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Os funiculares de Santa Luzia, dos Guindais, de São João de Malta, de Viseu e da Graça têm todos um elemento em comum: foram construídos ou modernizados por uma empresa portuguesa da Maia. Nascida em 2002 a partir de uma antiga unidade da Efacec, a Liftech especializou-se em transportes por cabo nas últimas duas décadas e concorre com empresas da Suíça e da Áustria na mobilidade vertical. A faturar perto de 12 milhões de euros por ano, a empresa portuguesa conta com 80 trabalhadores e está a construir um novo funicular na Nazaré, complementando o elevador centenário.
“Nós desenhamos e montamos as cabines, definimos os acabamentos e materiais, fabricamos o sistema elétrico de comando, ensaiamos tudo e contratamos a certificação a organismos certificados”, explica ao 24notícias o diretor-geral da empresa. Rui Pinheiro também destaca a importância das parcerias nacionais e internacionais para trabalhos mais especializados: as cabines são fabricadas na Suíça e há um parceiro austríaco para produzir os sistemas elétricos.
“O fabrico de transportes por cabo tem um enquadramento legal muito bem definido e não temos de andar a inventar. Os funiculares são sistemas de transporte bastante seguros”, garante o líder da Liftech. Rui Pinheiro exemplifica que as normas obrigam a ter dois travões e a usar cabos específicos, com cinco vezes mais segurança do que seria necessário: “para puxar uma cabine de 40 pessoas, por exemplo, chego à conclusão de que um cabo de 5 mm é suficiente e mais resistente do que as pessoas pensam. Mas a norma obriga-me a usar cabos de 25 mm. Se o travão de serviço falhar, tenho de ter um travão de emergência, acionado sobre o carril.”
A existência de automatismos também é fundamental para garantir o funcionamento destes veículos verticais. “Se o cabo se partir e o veículo entrar em excesso de velocidade, eu tenho que detetar e atuar: se a cabine chegar a 110% da sua velocidade normal, vou travá-la com o freio de emergência; se atingir os 120% da sua velocidade normal, tenho de usar o freio de carril”, detalha o também líder dos projetos especiais da Liftech. A velocidade é medida através de dois sistemas redundantes, na roda, com sensores, e um sistema mecânico, do tipo dínamo. O desempenho do funicular é acompanhado através de uma central de comando: “os sistemas de segurança supervisionam-se”, garante.
O Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), a cada três anos, faz uma análise de segurança aos funiculares e emite uma autorização de circulação, através da Autoridade Nacional de Segurança Ferroviária. “Um funicular que está a ser construído em 2025 em Portugal tem exatamente o mesmo nível de segurança e cumpre a mesma legislação que o mesmo equipamento fabricado em qualquer país da União Europeia”, garante o responsável.
Moderno por dentro, igual por fora
A faturar 12 milhões de euros por ano, a Liftech tem conseguido focar-se cada vez mais no mercado doméstico, depois de anos em que o segmento internacional teve mais peso. “Temos feito alguma escola de utilização dos funiculares em contexto de mobilidade urbana. Qualquer entidade que pensa em fazer um funicular em Portugal vem falar connosco”, adianta Rui Pinheiro.
Para isso têm contribuído os projetos desenvolvidos nos últimos anos, como a modernização do Elevador dos Guindais, no Porto, entre 2023 e 2024, depois de 20 anos consecutivos de funcionamento. “Instalámos um novo sistema de comando elétrico, que cumpre com a mais recente regulamentação. Os motores são novos e a cabine, apesar de ter a mesma carroçaria e formato, levou um para-quedas novo”, detalha Rui Pinheiro. O funicular tem 90% de procura por turistas; os restantes são residentes, que o utilizam frequentemente para chegarem rapidamente da Ribeira à Praça da Batalha. A Liftech é a atual responsável pela manutenção do elevador. O restauro de equipamentos antigos será cada vez mais habitual, entende o responsável: “um funicular hoje em dia tem de ter mais sistemas de segurança e tem de ser testado em termos de fiabilidade e de outros parâmetros diferentes” de um equipamento com décadas de serviço.
A entrada da Liftech no segmento dos funiculares aconteceu em 2005 “graças ao incentivo de um antigo engenheiro da Efacec”. O primeiro projeto foi a remodelação do Elevador de Santa Luzia, em Viana do Castelo, que voltou a abrir ao público dois anos depois. De 2007 para cá, surgiram novos projetos: o funicular de Viseu, em 2009, que convive com carros e peões no acesso entre a Sé e o Campo de Viriato (recinto da Feira de São Mateus); em 2013, o funicular de São João de Malta, na Covilhã, que conta com apenas uma cabine; em 2024, o regresso do funicular da Graça, em Lisboa. Atualmente, a empresa da Maia está envolvida na construção do novo funicular da Nazaré, que ligará a praia ao bairro da Pederneira a partir do terceiro trimestre de 2026, facilitando também o acesso ao terminal rodoviário do concelho.
Começo dentro da Efacec
A Liftech nasceu em 2002 a partir da antiga unidade de elevadores da Efacec, que três anos antes foi comprada pela Schindler. “A unidade de sistemas de eletrónica continuou a fabricar sistemas de comando, ou seja, a parte elétrica dos elevadores. O antigo responsável da unidade propôs autonomizá-la, criando uma empresa nova sem capitais da Efacec”, recorda Rui Pinheiro.
Nos primeiros anos, a Liftech ainda partilhou serviços e instalações com a Efacec mas acabou por instalar-se num local próprio em 2008. O negócio com os funiculares acabou por prosperar por ter “menos concorrência e mais inovação”, ao ponto de ter sido eliminada a área de sistemas de comando para elevadores.
Atualmente com 80 trabalhadores, a Liftech tem equipamentos verticais instalados em 25 países de todos os continentes menos a Oceânia. Aposta no segmento das casas com elevadores e cadeiras para escadas; monta-cargas e monta-autos para o segmento empresarial; e teleféricos e elevadores inclinados para o segmento municipal.
A lutar para captar mais mão de obra especializada, resta saber quais serão os próximos passos para a empresa da Maia elevar o negócio para outros patamares.
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