O trágico acidente do Ascensor/Elevador da Glória trouxe para a ribalta o transporte sobre carris através de cabos. Em Portugal, há mais de uma dezena de veículos deste género e quase todos são puxados por cabos sobre roldanas. Quase todos os sistemas têm dois veículos, que partem de cada uma das extremidades e que se encontram a meio do caminho, numa espécie de ponto de equilíbrio do sistema de contrapesos. Para que os funiculares possam funcionar, é necessária autorização do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), através da Autoridade Nacional de Segurança Ferroviária (ANSR), a mesma que autoriza, por exemplo, a circulação de novos comboios. A única exceção são os elevadores mais antigos de Lisboa, como o Elevador da Glória.

“O Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT)/Autoridade Nacional de Segurança Ferroviária (ANSF) não tem competências de supervisão dos sistemas de transporte por cabo construídos antes de 1 de janeiro de 1986 e que tenham sido classificados como sendo de interesse histórico, cultural ou patrimonial”, esclareceu ao 24notícias fonte oficial do IMT. O Elevador da Glória, detalha o instituto público, foi classificado como monumento nacional em 19 de fevereiro de 2002. O mesmo aconteceu com os ascensores da Bica e do Lavra. Os três equipamentos foram construídos no final do século XIX e eram alimentados a vapor. Na década de 1910, os três elevadores passaram a contar com sistemas elétricos.

Sob inspeção do IMT/ANSF estão, por exemplo, os funiculares da Nazaré, Santa Luzia (Viana do Castelo), Calçada do Viriato (Viseu), Guindais (Porto). Em Lisboa, também está incluído o Elevador da Graça, totalmente reconstruído nos últimos anos, reaberto em 2024 e sob gestão da EMEL, empresa municipal que controla o estacionamento e tem o sistema de bicicletas partilhadas Gira.

Há ainda outros dois elevadores em Portugal. Em Braga, o Bom Jesus funciona com um sistema funicular com contrapeso de água, proveniente das fontes e minas da estância com o mesmo nome. Inaugurado em 1882, é o mais antigo do género, funciona através de sistema de cremalheira e não depende de eletricidade: cada cabine tem um depósito, que se enche de água quando está no topo e que se esvazia quando chega à base. A deslocação dos dois veículos é feita graças à diferença de pesos. O sistema foi desenvolvido pelo engenheiro suíço Nikolaus Riggenbach e foi o mentor do luso-francês Raul Mesnier de Ponsard, que criou, por exemplo, todos os funiculares mais antigos de Lisboa. Na Covilhã, desde 2013 funciona o Funicular de São João, constituído por apenas um veículo e um sistema de guincho.

Elevadores à prova de emergência

O facto de o Elevador da Glória ter ficado desgovernado tem levantado questões sobre a necessidade de sistemas de redundância que atuem em caso de emergência, como um cabo partido. De construção mais recente, os elevadores da Graça e dos Guindais estão equipados com soluções para imobilizar totalmente os veículos e estão permanentemente sob vigilância, mesmo sem terem um guarda-freio ou maquinista a bordo.

Inaugurado em 2024, o Elevador da Graça conta com o freio de emergência e de carril, que ajudam o freio elétrico (para desaceleração controlada e suave do veículo na aproximação e chegada às estações) e o freio de serviço (usado quando o veículo está aparado), detalha ao 24notícias fonte oficial da EMEL. O freio de emergência é redundante ao freio de serviço e “atua mediante determinadas situações anómalas, permitindo a paragem do veículo em segurança”; o freio de carril está montado na carroçaria da cabine, bloqueando-a através da atuação sobre a cabeça do carril. Este “travão” é acionado “em situações de desprendimento do cabo ou caso a cabine ultrapasse a sua velocidade nominal em 10%”. Todos os sistemas “funcionam automaticamente e sem qualquer necessidade de intervenção do operador”, detalha a mesma fonte. Ainda assim, se for preciso, há botões de emergência na cabina e no posto de comando do elevador. Em caso de emergência, os passageiros podem sair do veículo através de uma escadaria, classificada como “linha de vida”.

O Elevador dos Guindais conheceu uma nova vida em 2004, depois de quase um século sem funcionar. O serviço esteve interrompido por um ano entre 2023 e 2024 para alteração da mesa de controlo e para a modernização do sistema, totalmente automatizado e que permite detetar, por exemplo, velocidade excessiva, explicou ao 24notícias fonte da STCP Serviços. Nesses casos, a cabine pára automaticamente, as portas são abertas e os passageiros podem sair através de uma escadaria lateral. Sem condutor, o elevador é monitorizado em tempo real e conta com vários sensores, que enviam informação aos dois técnicos em permanência no local e que podem resolver algum problema no imediato. O trabalho diário é complementado com manutenções mensais e anuais.

No momento em que todos os elevadores mais antigos estão parados e a aguardar uma vistoria aprofundada, aqui fica uma ideia de como estes veículos têm sistemas capazes de os parar em caso de falha grave.