Acompanhe toda a atualidade informativa em 24noticias.sapo.pt

Nas palavras do CEO, Hugo de Sousa, “é uma consultora que encurta o tempo dos projetos de meses para semanas e trabalha com todas as indústrias, independentemente do desafio que tenha em mãos”.

Tudo começou há três anos, com um post no LinkedIn. No início da guerra na Ucrânia, Hugo fez uma publicação a pedir ajuda para criar uma plataforma que juntasse quem precisava de um quarto a quem tinha um quarto para oferecer. Em poucas horas, 300 voluntários uniram esforços e construíram o “WeHelpUkraine”.

A sua newsletter de sempre, agora ainda mais útil

Com o lançamento da nova marca de informação 24notícias, estamos a mudar a plataforma de newsletters, aproveitando para reforçar a informação que os leitores mais valorizam: a que lhes é útil, ajuda a tomar decisões e a entender o mundo.

Assine a nova newsletter do 24notícias aqui

“Em dois dias conseguimos fazer o impossível acontecer”, recorda Hugo.

O esforço coletivo permitiu acelerar um processo que se esperaria demorado e caro, de forma rápida e acessível.

Sem saber, Hugo estava já a aplicar o que hoje é chamado de Vibe Coding: uma técnica emergente que usa IA para desenvolver software através de linguagem natural, dispensando conhecimentos técnicos de programação.

“Nós estávamos a fazer Vibe Coding e ainda não sabíamos que estávamos a fazer Vibe Coding. Isto aconteceu com muita naturalidade. E agora temos estado a tentar surfar essa onda e esse termo do “hashtag” Vibe Coding para, eu diria, liderarmos o tema em Portugal.”

Mars Shot afirma já estar a encurtar significativamente o tempo de desenvolvimento de software nas áreas da saúde, serviços, retalho e banca, com ambições de chegar à indústria automóvel e à administração pública.

“As pessoas estão a roubar lugares a robôs“

Num dos projetos mais recentes, a Mars Shot garante ter conseguido automatizar, em apenas duas semanas, o equivalente ao trabalho de cinco pessoas.

De acordo com o fundador da Mars Shot, durante anos, estes profissionais licenciados em contabilidade limitavam-se a copiar e colar dados entre sistemas. Agora, com a automação, passaram a dedicar-se à análise e ao apoio à gestão.

“Estão mais alinhadas com a sua formação, estavam a roubar o lugar a robôs. Tornaram-se assessoras da administração. E acabaram com o bore-out, aquele sentimento de que nunca mais é sexta-feira”, brinca Hugo.

A Mars Shot quer libertar as pessoas do trabalho repetitivo e colocá-las a fazer o que realmente acrescenta valor.

Quando a esmola é grande o pobre desconfia?

Algumas empresas acreditam que sim. Pelo menos é esta a visão do CEO da Mars Shot, que considera que o facto do serviço ser “tão rápido e barato” assusta os decisores “porque parece magia”.

Apesar dos bons resultados, nem todas as empresas estão preparadas para esta transformação. A proposta de valor da Mars Shot com projetos rápidos e acessíveis ainda gera desconfiança.

Num setor em mudança, é difícil convencer as pessoas a alterar a estratégia, este ceticismo terá trazido consequências para a empresa.

“Perdi um projeto com uma empresa do PSI-20 porque era demasiado barato. Apresentei uma proposta de sete mil euros e acho que eles acabaram por pagar 70 mil por exatamente o mesmo”, aponta Hugo.

A academia para programadores sem programação

A Academia Vibe Coding da Mars Shot esgotou em menos de uma semana.

O objetivo principal é ensinar a usar IA para desenvolver código. A empresa garante ter atraído sobretudo pessoas que não eram programadores: gestores de produto, gestores de projeto e profissionais que queriam aprender a fazer protótipos rápidos para transmitir melhor as suas ideias aos programadores.

Muitos dos problemas no desenvolvimento de software resultam da má tradução entre negócio e tecnologia. E com o Vibe Coding torna-se mais fácil aproximar dois mundos que costumam falar línguas diferentes.

O “contrabando de inteligência artificial“

Atualmente existe uma “guerra” entre os programadores tradicionais e os mais modernos. No entanto, Hugo de Sousa, programador de formação, afirma que a maioria dos profissionais já usa IA no código, embora nem sempre o admita. O que faz com que muitas empresas estejam a pagar por um serviço que poderia ser muito mais barato.

“Eu chamo isto de contrabando de inteligência artificial. O que nós estamos a fazer é, em parte, dar ordem na casa. É dizer: nesta empresa usamos este modelo de IA para fazer código, e têm-nos pedido ajuda para isso. Este é o momento para voltar a enaltecer os programadores, porque se houver um programador muito bom, é aquele que consegue usar IA para fazer código.”

A proposta da Mars Shot é trazer transparência ao setor. “Estamos a dar ordem à casa. Dizemos: aqui usamos este modelo de IA para gerar código, com esta metodologia. É preciso normalizar isto. O bom programador do futuro é aquele que sabe usar IA de forma inteligente.”

Para isso, será necessário redefinir o papel do programador. Hugo defende que já não basta ser um técnico exímio. É preciso voltar às origens da profissão, ao analista-programador, alguém que compreende os problemas do cliente, traduz necessidades em soluções e acompanha o impacto do que constrói.

“A abstração tecnológica já está feita. Hoje é fácil programar. Mas isso também afastou muitos programadores dos problemas reais, das dores do cliente. Agora, o desafio é reaproximar. Menos tecnologia pela tecnologia. Mais foco no impacto”, conclui.