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A verdade é que, para muitos, as férias deixaram de ser descanso. Tornaram-se um palco. Um álbum em tempo real, cuidadosamente encenado para mostrar o quanto se está a viver. E, sem darmos conta, trocamos o prazer de estar pelo esforço de mostrar. O descanso autêntico, aquele que não precisa de testemunhas, começa a desaparecer.
A curadoria não entra de férias
Atualmente, quase nada escapa à lente. Mas não me refiro só à da câmara. Falo da vontade de provar que estamos bem, felizes e realizados. É um impulso automático: tirar aquela fotografia, escolher o ângulo certo e escrever a legenda certa. É como se estivéssemos a viver para o "depois", para o momento em que aquele instante vai ser validado pelos outros.
E quanto mais nos focamos em construir a imagem perfeita, menos espaço deixamos para viver o momento como ele é: imperfeito, espontâneo, nosso.
Experimente isto: tire fotos, claro. Mas não publique nenhuma durante três dias. Volte a revê-las no quarto dia. A forma como olha para elas vai mudar, acredite em mim. E, aí, talvez perceba que não precisa da validação digital para que o momento seja especial.
A pressão de ter um verão “instagramável”
Mesmo em férias, há quem sinta ansiedade. Aquela sensação silenciosa de que devia estar a fazer mais: a viajar mais, a sair mais, a aproveitar melhor. Como se cada dia de verão precisasse de um story à altura.
Mas os melhores momentos raramente têm legenda. Estão nas conversas sem pressa, nos mergulhos ao fim da tarde e nos gelados a derreter nas mãos dos miúdos. Estão nas horas mortas, sem Wi-Fi nem planos. Concorda comigo?
Por isso, faça um favor a si mesmo: bloqueie espaço na sua agenda de férias para não fazer nada. Literalmente. Sem objetivos, sem listas. Só existir. Parece pouco… até se tornar tudo.
Detox digital: não é radical, é essencial
Desligar-se das redes não significa apagar a conta nem ir viver para uma cabana na serra. Nos dias que correm, já se fala mais de “higienização digital” do que de “desintoxicação”. É sobre criar espaço entre o que vive e o que partilha, ou seja, recuperar o controlo.
Aqui vão três ideias simples, adaptadas ao mundo real:
→ Desative notificações não urgentes (e sim, todas as das redes sociais são não urgentes);
→ Escolha um momento fixo para ver a sua caixa de email e/ou o que os outros andam a publicar (por exemplo, depois de pôr os miúdos a dormir);
→ Tenha pelo menos uma refeição por dia com o telemóvel fora da mesa (nem que seja o pequeno-almoço).
E se quiser ir mais longe: leve nas férias um daqueles telemóveis “burros”, apenas com chamadas, SMS e o jogo do snake. Estão a voltar à moda por um motivo: obrigam-nos a estar presentes.
No final, o que é que fica?
Quando o verão acabar, não vai se lembrar dos likes que ganhou. Vai recordar os risos, os cheiros, o som dos grilos, o moreno da pele e a areia nos sapatos.
Este verão, experimente viver para si. Sem filtros, sem pressão, sem palcos. Não vai ter tanto conteúdo… mas vai ter muito mais histórias.
Boas férias. E que sejam (mesmo) só suas!
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