
Acompanhe toda a atualidade informativa em 24noticias.sapo.pt
Johannes Vermeer (1632–1675), destacado expoente do século de ouro neerlandês e pintor de "A rapariga com Brinco de Pérola", dedicou seis das suas obras à leitura, escrita ou troca de cartas, numa época em que a comunicação epistolar vivia seu auge na arte.
Em três delas aparecem mulheres a ler ou a escrever cartas solitariamente.
Mas nas três pinturas que vão estar expostas em Nova Iorque até o final de agosto aparece outra personagem: a criada, que se converte em "intermediária" da senhora, "que presumivelmente mantém uma aventura ou algum tipo de relação amorosa" com o autor das missivas, afirma o curador Robert Fucci.
Numa época em que as mulheres gozavam cada vez mais de autonomia para escolher os seus parceiros sentimentais, as criadas eram sem dúvida "testemunhas de certa emoção nesse processo", diz este especialista em pintura neerlandesa do século XVII.
A mostra da Frick Collection inclui a obra "Senhora e Criada", última pintura adquirida em 1919 pelo magnata industrial e mecenas Henry Frick. E duas que o museu pediu emprestadas à Galeria Nacional da Irlanda em Dublin e do Rijksmuseum de Amsterdão: "Mulher escrevendo uma carta com sua criada" e "A Carta de Amor".
Para Fucci, os espectadores podem facilmente identificar-se com "essa sensação de antecipação, essa expectativa" do momento retratado que "Vermeer utiliza como ponto focal central nestas imagens para explorar realmente o que está em jogo".
"Enigmáticas"
Embora difiram em escala, ação e perspetiva, segundo os curadores as três obras criam "narrativas enigmáticas", uma marca distintiva de Vermeer, que costumava pintar a vida quotidiana ambientada em espaços domésticos cheios de luz.
E duas das obras ("A Carta de Amor" e "A Mulher a Escrever uma Carta com sua Criada") parecem ter sido importantes para a mulher do pintor. Catharina Bolnes, que ficou viúva com onze filhos e utilizou as obras para saldar uma dívida com um padeiro local, com esperança de as poder recuperar um dia. Não se sabe se conseguiu.
A das cartas de amor é a primeira exposição de Vermeer em Nova Iorque desde 2001, e a primeira mostra realizada pelo museu da Frick Collection desde a sua reabertura em abril, após cinco anos fechado para reformas.
O Rijksmuseum organizou há dois anos uma grande exposição dedicada ao artista neerlandês, com 28 das aproximadamente 35 pinturas suas que sobreviveram.
Mas Nova Iorque é agora um excelente destino para os amantes de Vermeer: às cinco obras que a Frick Collection expõe atualmente, somam-se outras cinco que pertencem ao vizinho Museu Metropolitano de Arte (MET), lembra a curadora da Frick Collection Aimée Ng.
"Quase um terço" da suas pinturas, exclama. "Sem dúvida, Vermeer continua a cativar e a inspirar as pessoas hoje em dia".
Comentários