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O ator Rui Melo dá corpo ao protagonista, Tomé Serpa, um arquiteto reconhecido e respeitado, mas com uma vida secreta marcada por relações sexuais filmadas sem o consentimento das mulheres envolvidas. Ao seu lado, Paula Lobo Antunes interpreta Isabel Serpa, a sua mulher, e Maria João Pinho é Elsa, a secretária que se revela uma peça-chave no desenrolar da trama.
Desde o primeiro episódio, o tom é claro: esta é uma obra de ficção inspirada em factos reais, mais precisamente no escândalo do arquiteto Tomás Taveira. Surge, aliás, um aviso logo no início. A criadora da série, Patrícia Müller, reforça essa ideia em declarações ao 24notícias: “Não falei com ninguém da família. Inventei 90% das coisas. A mulher, (de nome Isabel, casada com Tomé Serpa), é uma personagem completamente ficcionada. Os filhos, (João e Leonor), são ficcionados. Tudo é ficcionado ali à volta, algumas coisas remetem para a realidade. 90%, não”.
Apesar disso, o enredo não deixa de tocar em feridas abertas na sociedade portuguesa de 2025, num “#MeToo tímido à portuguesa”, como a própria Patrícia Müller o descreve. Um caso onde, por exemplo, a personagem da secretária descobre uma cassete VHS com conteúdos explícitos e confronta o patrão com um aviso carregado de tensão: “Senhor arquiteto, isto não está bem, o que é que se passa aqui?”
Esta ambiguidade, o jogo de poder e silêncio, é uma das marcas da série. A própria Patrícia Müller afirma: “Ela não o leva à polícia, não diz nada, não diz que vai processá-lo”.
Mas não esquecer que isto retrata, contextualiza a autora, “uma sociedade completamente diferente dos dias de hoje”. “Há todo um contexto dos anos 90. Que nós respeitamos”, assinala. “Foi importante pôr isto nos anos 90”.
As críticas não tardaram a chegar, tanto ao conteúdo como ao horário de transmissão. Alguns acusam a série de glorificar o agressor. A criadora, porém, é perentória: “Como é óbvio, jamais. Jamais.”
Também o ator Rui Melo se pronunciou, reconhecendo a delicadeza do tema, mas reforçando a importância de gerar reflexão: “Mais do que fazer um juízo, interessa-me a discussão”, disse no programa Watch Party da Renascença.
Na sua conta de Instagram, no dia da estreia, escreveu: “O tema é delicado, mas urgente.”
Ao ver a série pareceu-nos ser esses os objetivo de “O Arquiteto”: fazer pensar, mais do que julgar. Como um espelho de um tempo não tão distante, a série convida-nos a questionar: “Evoluímos ou não?”. À luz dos anos 90, e da sociedade portuguesa de então, a trama retrata um ambiente marcado por uma cultura machista, de silêncios e de impunidade. Mas ao mesmo tempo, deixa no ar a possibilidade de mudança, de denúncia e de responsabilização. Ainda que tímida, ela começa.
“É uma história de mulheres que vão atrás de um homem no sentido de repor justiça", confirma a autora.
Na esfera pública a série remeteu para o caso Taveira. O arquiteto português, Tomás Taveira, foi alvo de um escândalo que abalou a sociedade portuguesa nos anos 1980/1990, na altura governada por Cavaco Silva. Várias cassetes VHS, com conteúdos sexuais não consentidos, foram expostas e geraram um alarido no país. Alegadamente nas cassetes apareciam figuras famosas do jet set português, empregadas de lojas da moda e alunas da Universidade de Arquitetura de Lisboa.
Foi através desses vídeos que ficou famosa a expressão "Estudasses". Durante os abusos sexuais, o também professor universitário respondia, "Ai, dói? Estudasses", quando as alunas se queixavam com dor e pediam que parasse.
Na mesma entrevista ao 24notícias, Patrícia Müller declara que a figura de Tomás Taveira foi apenas um "peão" no meio de uma cultura que tem de se "combater, explorar e reviver. Porque é um fantasma coletivo”.
Trouxe também à tona outros casos que merecem atenção e que se passam na sociedade atual. “Vou-lhe contar duas histórias que me inspiraram imenso.", declara ao jornalista Miguel Morgado. "Há três anos, na escola do meu filho, uma rapariga de 14 anos decidiu mandar nudes ao namorado. Ele espalhou pelos amigos todos. E a miúda ficou destruída. Destruída”.
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