Numa carta aberta divulgada hoje, figuras como as atrizes Cléo Diára, Isabél Zuaa e Sara Carinhas, o realizador João Salaviza, o encenador Pedro Penim, a investigadora Maria João Brilhante e o Teatro Griot consideraram que "a decisão de não integrar mulheres negras, mulheres racializadas, mulheres com deficiência e mulheres trans, e as suas perspetivas, não é um gesto aleatório".

"É uma escolha estratégica, política, que perpetua uma visão estreita sobre quem pode narrar, representar, imaginar comunidades, sociedades, países, mundos", lê-se no documento.

Em causa está o projeto audiovisual "Contado por Mulheres", que vai ter uma nova temporada de 20 telefilmes realizados por mulheres portuguesas e inspirados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas.

A nova temporada de filmes, em preparação pela Ukbar Filmes em parceria com a estação pública RTP, foi apresentada no passado dia 18 no encontro profissional Conecta Fiction & Entertainment, em Cuenca, Espanha.

Em informação divulgada na altura à Lusa, a produtora indicou que os 20 telefilmes vão abordar "um tema atual e pertinente que preocupa a sociedade portuguesa e a humanidade como um todo, inspirados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030".

Crise na habitação, desemprego jovem, saúde mental, igualdade de género, migrações e refugiados são alguns dos temas a serem abordados nos telefilmes, entre histórias reais e ficcionadas, e a produção deverá arrancar depois do verão.

A intenção, sublinhou a produtora portuguesa, é apostar "em histórias que promovam a integração das realizadoras mulheres no cada vez mais desafiante mercado de trabalho, promovendo a igualdade de oportunidades".

A nova temporada contará, na realização, com Lúcia Moniz, Joana Botelho, Mónica Santos, Margarida Vila-Nova, Sandra Faleiro, Francisca Alarcão e Maria João Bastos, entre outras mulheres.

Algumas das que fizeram os telefilmes da temporada anterior regressam agora ao projeto, entre as quais Ana Cunha, Rita Barbosa, Fabiana Tavares e Cristina Carvalhal, atriz e encenadora que assina a carta aberta divulgada hoje.

Os primeiros filmes do projeto "Contado por Mulheres" baseavam-se em obras literárias e começaram a ser exibidos na RTP em 2022.

As pessoas que assinam a carta aberta questionam a RTP sobre se foram acionados "mecanismos de inclusão, consulta e transparência" no processo de seleção das realizadoras e perguntam à Ukbar Filmes se está disponível "para assumir esta falha e tomar medidas com vista a corrigir os moldes de produção".

"Como justificam a total exclusão em ambas as temporadas de mulheres artistas, historicamente invisibilizadas, cujos trabalhos representam um compromisso real com as questões de género e das desigualdades --- muitas das quais com percursos profissionais consolidados, e que vêm contribuindo substantivamente para um setor artístico e cultural mais fecundo, plural e transformador?", perguntam.

A Associação Cultural Nêga Filmes, a professora Inocência Mata, a argumentista Fernanda Polacow, a escritora Gisela Casimiro, o ator Hoji Fortuna, o realizador João Nuno Pinto, a realizadora Renée Nader Messora, o ator Marco Mendonça, a gestora cultural Maria Vlachou, a cantora Selma Uamusse, a atriz Tita Maravilha, o ator Welket Bungué e a encenadora Zia Soares estão entre os signatários da carta aberta.

A agência Lusa pediu esclarecimentos, e aguarda resposta, tanto à RTP e à produtora Ukbar Filmes.

SS (JRS) // TDI

Lusa/fim