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Investir para receber
Aparentemente, Trump chega ao Reino Unido como anfitrião de um pacote de investimentos norte-americano: um acordo de 175 mil milhões de euros para impulsionar a economia tecnológica britânica, que envolve nomes como Microsoft, OpenAI e Nvidia. Mas segundo o jornal Politico, há muito mais do que diplomacia económica no gesto: trata-se de uma jogada para suavizar as rígidas regras digitais britânicas, que Washington considera discriminatórias para as empresas dos EUA.
A presença dos CEOs Satya Nadella (Microsoft), Sam Altman (OpenAI) e Jensen Huang (Nvidia) não é casual, simbolizam o braço corporativo de uma ofensiva política, que oferece investimentos em troca da revisão de regulamentos considerados hostis, como o Digital Services Tax (DST) e o controverso Online Safety Act (OSA).
“Enquanto se fala de investimento, o que gostaríamos mesmo de ver é o Reino Unido recuar no imposto sobre serviços digitais”, afirmou um representante da indústria ao Politico, sob anonimato.
O fim do “Imposto Google”? Um trunfo fiscal para Trump levar para casa
Em cima da mesa está o fim do Imposto sobre Serviços Digitais britânico, uma medida que gera receitas de mais de 5 mil milhões de libras, mas que atinge diretamente os lucros das big tech norte-americanas. Para Trump, conseguir o recuo de Londres nesta matéria seria uma vitória de política comercial com impacto doméstico, permitindo-lhe apresentar-se como defensor das empresas americanas contra regulações “injustas” dos aliados.
Citado pelo Observador, Jonathan McHale, da Computer and Communications Industry Association, reforça que o atual sistema britânico de tributação digital “ameaça travar a inovação” nos EUA, penalizando empresas que ainda não são lucrativas, como muitas na área da IA.
Além disso, a inauguração de uma “zona de crescimento em IA” no nordeste de Inglaterra, zona marcada por dificuldades económicas, permite a Trump reforçar a ideia de que os EUA estão a exportar prosperidade e que, sob a sua liderança, a América volta a moldar o mundo. A iniciativa junta investimento, influência regulatória e a possibilidade de um acordo bilateral de comércio digital, como desejam várias associações da indústria.
“Todos estes investimentos são apenas o começo”, disse Rob McGruer, do Information and Technology Industry Council, ao Politico. “O verdadeiro prémio é um acordo digital abrangente entre EUA e Reino Unido.”
Glamour real como moeda de troca diplomática
Ao mesmo tempo, Trump obtém ganhos simbólicos inestimáveis. Recebido pela família real britânica com honras de Estado. Pela segunda vez, Trump reforça a sua imagem de estadista global, especialmente junto da sua base eleitoral, que valoriza o prestígio e a projecção internacional.
O seu fascínio fascínio pessoal pela realeza foi instrumentalizado por Keir Starmer, o primeiro-ministro britânico, para garantir que Trump chegasse às negociações com bom humor, numa altura em que se discutem tarifas, importações de aço e o futuro dos impostos digitais.
Epstein, protestos e danos colaterais — mas Trump escapa ileso
Apesar de estar envolto em polémicas, incluindo protestos organizados por movimentos anti-Trump em Londres e menções às ligações passadas com Jeffrey Epstein, Trump parece relativamente imune ao impacto político directo dessas críticas, ao contrário de Starmer.
Segundo o Observador, mais de metade dos britânicos consideram que a visita não trará benefícios reais à relação entre os dois países, e os protestos nas ruas de Londres voltaram a evidenciar a figura polarizadora que é o ex-presidente norte-americano. Mas, para Trump, o saldo é positivo: regressa aos EUA com visibilidade global, influência renovada e promessas de negócios para empresas americanas.
A visita de Estado ao Reino Unido ofereceu a Donald Trump um palco de prestígio e uma oportunidade para reforçar a influência dos EUA sobre as políticas digitais britânicas. Entre banquetes com a realeza e acordos tecnológicos bilionários, o presidente norte-americano conseguiu transformar uma viagem cerimonial num movimento estratégico de geopolítica económica, com ganhos para as big tech americanas e para a sua própria imagem presidencial.
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