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Os militares da Guiné-Bissau declararam ter assumido “controlo total” do país, encerrando fronteiras e interrompendo o processo eleitoral, três dias após uma eleição presidencial em que tanto o presidente cessante como o seu principal adversário reclamam vitória.
Num clima de forte instabilidade, oficiais superiores anunciaram, a partir do quartel-general das forças armadas em Bissau e através da televisão estatal, a criação de um “alto comando militar para a restauração da ordem”. Este órgão, afirmaram, governará o país por tempo indeterminado, até nova comunicação.
"O Alto Comando Militar para o restabelecimento da ordem nacional e pública decide depor imediatamente o presidente da República e suspender, até novas ordens, todas as instituições da República da Guiné-Bissau”, afirmou Dinis N'Tchama, porta-voz do alto comando militar do país, em comunicado.
A medida foi uma reação à “descoberta de um plano em andamento” que visa desestabilizar o país, tentando “manipular os resultados eleitorais”, acrescentou.
“O esquema foi arquitetado por alguns políticos nacionais com a participação de um conhecido traficante de drogas, além de cidadãos nacionais e estrangeiros”, disse N'Tchama.
Como é que tudo começou?
A crise rebentou esta quarta-feira, quando se ouviram disparos junto a edifícios-chave do poder: a sede da Comissão Nacional de Eleições, o Palácio Presidencial e o Ministério do Interior.
Não foi possível apurar quem terá sido responsável pelos tiros, mas o episódio aumentou o clima de suspeita e recriminações entre os dois candidatos que reivindicam ter vencido logo à primeira volta.
O que dizem os candidatos?
Umaro Sissoco Embaló, presidente cessante e candidato a um raro segundo mandato consecutivo — algo que não se verifica há três décadas na Guiné-Bissau — afirmou, ainda antes da intervenção militar, que os disparos provinham de homens armados ligados ao rival Fernando Dias.
Do lado oposto, um aliado de Dias acusou Embaló de encenar uma tentativa de golpe para justificar a declaração de um estado de emergência e manter-se no poder.
Golpes de Estado são novidade?
Não. A tensão eleitoral surge num país onde a instabilidade política é quase crónica. Desde a independência de Portugal, em 1974, sucederam-se pelo menos nove golpes de Estado ou tentativas de golpe.
Embaló, que chegou ao poder em 2020, afirmou ter sobrevivido a três tentativas de golpe durante o seu mandato, a mais recente em outubro de 2024.
A fragilidade institucional tem sido agravada por acusações de manipulação política. Críticos do presidente cessante sugerem que algumas das alegadas conspirações golpistas terão sido fabricadas para justificar medidas repressivas.
Em dezembro de 2023, horas de tiroteio em Bissau foram classificadas por Embaló como mais uma tentativa de derrube. A seguir, o presidente dissolveu o parlamento, deixando o país sem uma Assembleia Nacional funcional desde então — mais um fator que intensificou dúvidas sobre a transparência do processo eleitoral que agora se encontra suspenso.
Mas quando se iriam saber os resultados das eleições?
Antes da intervenção militar, a Comissão Nacional de Eleições preparava-se para divulgar resultados provisórios das eleições presidenciais e legislativas na quinta-feira. Com o anúncio dos militares, esse calendário fica sem efeito e o futuro político imediato torna-se incerto.
Assim, o país volta a mergulhar num cenário de governação militar e contestação mútua, sem sinais claros sobre quando — ou como — o processo democrático será retomado.
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