O sistema político moldavo divide o poder entre o presidente, eleito por sufrágio directo e responsável pela política externa e de segurança, e o primeiro-ministro, designado pelo Parlamento e encarregado da governação do dia-a-dia.
O partido actualmente no poder, Ação e Solidariedade (PAS), liderado pelo presidente do Parlamento, Igor Grosu — aliado próximo da presidente Maia Sandu — enfrenta uma oposição organizada e determinada. O Bloco Eleitoral Patriótico, que congrega várias forças pró-Rússia e nostálgicas da era soviética, é liderado pelo ex-presidente Igor Dodon, derrotado por Sandu em 2020.
Apesar de as sondagens apontarem o PAS como o partido com mais intenções de voto, existe a possibilidade de perder a maioria absoluta. Um resultado desse tipo poderá obrigar Maia Sandu a partilhar o poder com Dodon, que poderá até vir a ser nomeado primeiro-ministro, apesar de ter estado em prisão domiciliária, acusado de corrupção.
Outra força emergente é o Bloco Alternativa, liderado pelo presidente da câmara de Chișinău, Ion Ceban, e pelo antigo procurador-geral Alexandru Stoianoglo. Apesar de se apresentarem como moderados e pro-europeus, os críticos acusam-nos de funcionar como um instrumento de divisão, com ligações subtis a Moscovo.
Interferência russa sob investigação
As autoridades moldavas têm denunciado um intenso esforço do Kremlin para influenciar o rumo político do país. Entre as acusações estão o financiamento ilícito de partidos pró-Rússia, campanhas de desinformação e até o alegado aliciamento de membros da Igreja Ortodoxa para mobilizar os fiéis contra o PAS.
Na última semana, foram realizadas mais de 250 buscas e dezenas de detenções relacionadas com uma alegada tentativa de provocar distúrbios públicos antes e durante as eleições, um plano alegadamente orquestrado com apoio russo.
Na quarta-feira, uma investigação da Reuters revelou que dezenas de padres terão sido pagos por intermediários russos para influenciar votos contra o governo de Sandu. Moscovo, por sua vez, divulgou declarações inflamadas através do seu serviço de informações externas (SVR), sugerindo, sem apresentar provas, que a NATO estaria pronta para ocupar a Moldova caso haja contestação dos resultados eleitorais.
Um novo foco de tensão europeia
A comunidade internacional está atenta. A Moldova, com 2,4 milhões de habitantes e localizada entre a Roménia e a Ucrânia, é hoje vista como uma peça-chave no xadrez geopolítico europeu. Líderes da Alemanha, França e Polónia deslocaram-se recentemente a Chișinău para manifestar apoio ao processo de integração europeia do país e denunciar tentativas de desestabilização vindas de Moscovo.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, também se pronunciou sobre o tema na Assembleia Geral das Nações Unidas, esta semana, afirmando que “a Europa não pode dar-se ao luxo de perder também a Moldova”, recordando que a Geórgia e a Bielorrússia já caíram na órbita russa.
Desafios internos e vulnerabilidades
Apesar do reforço diplomático, a principal fragilidade de Sandu continua a ser a economia. A inflação elevada, a desaceleração do crescimento e a constante emigração de jovens têm alimentado o descontentamento popular.
Em 2022, a Moldova mergulhou numa crise energética, após a Gazprom, empresa controlada pelo Kremlin, cortar um terço do fornecimento de gás e duplicar os preços, numa aparente retaliação pela aproximação à UE. A guerra na Ucrânia agravou ainda mais a situação: o país acolheu o maior número de refugiados ucranianos per capita na Europa, sobrecarregando serviços públicos e aumentando a pressão social.
Para muitos analistas, este sufrágio representa uma encruzilhada estratégica. A vitória do PAS poderá consolidar o caminho euro-atlântico e acelerar a adesão à União Europeia. Uma derrota significativa, por outro lado, poderá abrir espaço para um recuo democrático e uma nova vaga de influência russa numa das fronteiras mais frágeis do continente.
“É mais do que uma eleição parlamentar — é uma escolha civilizacional”, afirmou um diplomata europeu baseado em Chișinău. “O que acontecer na Moldova no domingo será determinante para o futuro político da região.”
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