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A resposta surgiu graças a uma câmara remota. Os cientistas descobriram que lobos marinhos retiravam as armadilhas, “mergulhando até às profundidades para puxar a boia, arrastando as cordas até à margem através de uma série de puxões rápidos e deliberados, que evidenciavam um comportamento ‘altamente eficiente e focado’”, descreveu o ecologista Kyle Artelle ao jornal britânico.
A descoberta surpreendente — que sugere até a possível utilização de ferramentas — amplia a compreensão sobre a inteligência dos lobos e revela “as deliciosas surpresas que surgem quando predadores coexistem com humanos”.
Os resultados do investigador, publicados na revista científica Ecology and Evolution em coautoria com Paul Paquet, foram possíveis graças à colaboração com a comunidade Heiltusk na Colúmbia Britânica.
Há mais de uma década, a comunidade de Bella Bella enfrenta problemas com caranguejos verdes europeus, uma espécie invasora que destrói leitos de amêijoa e ecossistemas de ervas marinhas, fundamentais para os peixes jovens. No caso dos Heiltusk, um derrame tóxico de combustível na região ajudou a proliferação desses caranguejos oportunistas.
Como parte de um programa de monitorização, os Haíɫzaqv Guardians colocam armadilhas específicas em zonas intertidais rasas e em águas profundas, marcadas com boias coloridas. No entanto, desde 2023, “notámos que várias armadilhas estavam danificadas, com marcas de dentes”, contou Artelle.
Inicialmente, pensava-se que lontras ou focas fossem os culpados. Mas quando os investigadores instalaram câmaras junto às armadilhas, descobriram algo surpreendente. As filmagens mostram um lobo a nadar até à costa com a boia presa entre os dentes. Ele “arrasta-a para a praia para conseguir um melhor ângulo na corda e puxa até a armadilha de caranguejo emergir das profundidades”, descreveu o ecologista. Pouco depois, o lobo acede à câmara de isco e leva o petisco — resolvendo finalmente o mistério que se arrastava há um ano.
Artelle afirmou: “Não podíamos acreditar nos nossos olhos. Foi serenidade termos capturado este comportamento. E foi, simplesmente, inspirador”. O ecologista acrescentou que cientistas e os Heiltusk sempre souberam que os lobos são predadores extremamente inteligentes: “Pode ver-se a eficiência com que ela se movimenta entre as armadilhas. Isto não é genético. É um comportamento totalmente aprendido, aprendido muito rapidamente e provavelmente partilhado pelo grupo”.
A espécie em questão é o lobo costeiro ou lobo marinho, predadores de topo que prosperam em ambientes marinhos, alimentando-se de salmão, marisco e focas. Enquanto na maior parte da província os lobos são considerados predadores indesejados e caçados, em Bella Bella, através do Haíɫzaqv Wolf and Biodiversity Project, vivem em coexistência com os humanos.
Artelle explicou: “Há uma alcateia a viver na periferia da cidade. Eles vivem com pessoas há milénios, mas estabeleceram uma relação notavelmente diferente”, acrescentando que a região, “possivelmente é um dos poucos lugares no mundo onde os lobos podem ser totalmente lobos”.
O investigador sublinha ainda que o vídeo revela novas dimensões de comportamento: “Esta é uma dimensão completamente nova do seu comportamento que não tínhamos percebido. Quando vemos estas novas dimensões do potencial humano, dá-nos uma apreciação adicional da nossa própria espécie e do que pode significar ser humano. Isto dá-nos simplesmente uma nova dimensão do que pode significar ser um lobo e levanta uma questão maior: o que mais eles podem fazer?”
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