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Foi onze vezes candidato, não tivesse nascido no ano da revolução. Presidente da câmara de Mangualde, deixou o último mandato a meio para ser cabeça-de-lista do PS por Viseu e foi eleito deputado à Assembleia da República. É candidato à câmara de Viseu pela segunda vez e só vai desistir quando ganhar. Só podia ser sportinguista "praticante".

O pai foi vereador da câmara municipal de Mangualde durante muitos anos. Conta que viveu sempre "num ambiente muito politizado, um lado da família muito à direita, muito conservador nos usos e nos costumes, outro muito à esquerda, mais progressista". Assume-se como "um homem muito tolerante, de centro". 

João Azevedo, adepto fervoroso da regionalização, critica a gestão de Fernando Ruas: "Exigência mínima, serviços mínimos", diz. Isto, apesar do orçamento anual de 130 milhões de euros, 520 milhões de euros em quatro anos. Com este dinheiro, o candidato do PS quer captar novas empresas para o concelho, dinamizar as áreas empresariais de Lordosa, Mundão e Coimbrões e criar emprego qualificado. Mas tem outras prioridades para Viseu, como recuperar o comboio ou acabar com as barracas.

Não gosta de elevadores — felizmente para João Azevedo a redação do 24notícias fica num terceiro andar —, e isso parece aplicar-se a tudo o que faz: degrau a degrau, obteve em 2021 o melhor resultado de sempre do PS em Viseu, onde concorreu desafiado por António Costa e Jorge Coelho. Não foi suficiente, mas acredita que em outubro poderá ganhar ao eterno Fernando Ruas.

Começo por lhe pedir um retrato de Fernando Ruas, atual presidente da Câmara Municipal de Viseu.

O atual presidente da câmara de Viseu é um homem com muita experiência, ganhou sempre. Criou rotinas de poder e tem um problema de narcisismo absolutamente incontrolável. Isto não é uma crítica, é um dado objetivo, Fernando Ruas acha mesmo que tudo o que aconteceu em Viseu nos últimos 35 anos só tem uma marca, a dele.

Fernando Ruas lida muito mal com o confronto político, lida muito mal com a crítica, lida muito mal com sugestões. É demasiado radical no exercício das suas funções perante os seus opositores e a política, hoje, já não se faz assim, tem de haver classe e respeito.

Acumulei as funções de vereador com as de deputado. O que aconteceu foi inacreditável, solicitámos por escrito que as reuniões de câmara fossem à segunda-feira, para eu poder ir de Mangualde, mas o senhor presidente, de forma teimosa, a achar que eu ia desistir, marcou as reuniões de câmara para quinta-feira de manhã para me obrigar a ir de Lisboa a Viseu. Mas lá estive na maioria das reuniões. E não meti despesas, sou contra isso, apesar de fazer milhares de quilómetros para fazer trabalho público.

"Viseu é um Ferrari sem piloto, pode ser muito melhor"

O que significa criar rotinas de poder?

Como esteve sempre numa zona de conforto, porque ganhou sempre, tem um grau de exigência baixo e cumpre os serviços mínimos.

Como disse, ganhou sempre. Porquê?

Costumo dizer que as pessoas também são responsáveis por isso, deram-lhe várias vitórias. O que é certo é que esse conforto eleitoral permitiu que não fosse exigente consigo nem com o território. Cada vez há mais pessoas a queixarem-se da liderança do Dr. Fernando Ruas e da sua governança: exigência baixa e serviços mínimos. E criou uma estrutura de poder fortíssima.

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Posso dar-lhe vários exemplos daquilo que não aconteceu em Viseu durante tantos anos, coisas sempre atribuídas aos outros. O Dr. Fernando Ruas prefere não assumir responsabilidades em determinadas áreas e matérias, como a da delegação de competências, do que assumir a mudança. Ou seja, prefere ter um obstáculo para lhe atirar as culpas para cima do que resolver o problema.

"Se eu vestisse a camisola do PSD, tinha sido presidente de câmara há quatro anos"

Eu prefiro assumir a responsabilidade de decidir e tratar dos assuntos. Prefiro ter a competência de uma área que era do Estado central e resolver essas matérias do que não ter para dizer que a culpa de as coisas estarem mal é do Estado, prejudicando com isso a população.

Mas agora o governo já fez a transferência das competências que eram do Estado central para o poder local, o município já está a gerir áreas como a educação ou a saúde.

Sim, mas foi dos últimos concelhos a assumir as competências delegadas pelo governo na área da saúde, por exemplo, e com isso atrasou a execução das novas unidades de saúde familiar, um pacote na ordem dos 10 milhões de euros de investimento. Nada está feito e estamos em 2025.

O Dr. Ruas foi assinar o documento de delegação de competências na saúde à 25.ª hora, quase obrigado, porque o Estado português tinha um compromisso com a Comissão Europeia de ter mais de 200 concelhos a assumir as competências para não ter uma penalização de fundos no quadro do PRR, o Plano de Recuperação e Resiliência.

Os três últimos concelhos a assinar a transferência de competências na saúde foram Viseu, Tondela e Nelas. Isto prejudicou imenso a execução dos fundos comunitários na criação de novas unidades de saúde familiares, na resposta aos cuidados de saúde primários, na colocação de novos serviços e de novos instrumentos de prevenção e de resolução de problemas na saúde. Mas há outras áreas.

"[Fernando Ruas] criou rotinas de poder e tem um problema de narcisismo absolutamente incontrolável"

Por exemplo?

A assunção do IP5, uma via usada no concelho de Viseu como alternativa à A 25 [Auto-estrada das Beiras Litoral e Alta]. Fernando Ruas nunca quis a municipalização do IP5, prefere que essa via seja do Estado, por causa da manutenção e das acessibilidades. 

Mas depois é contraditório, outra coisa usual no Dr. Ruas, que já não tem noção do que foi dizendo ao longo de 35 anos. Está escrito nas atas das reuniões de câmara que não quer o IP5 como responsabilidade do município e que a requalificação da via é responsabilidade do Estado central, mas também está escrito que quer fazer uma rotunda de acesso a uma freguesia importante, Boa Aldeia, Farminhão e Torredeita. Quer que se faça uma rotunda, mas não quer assumir a estrada.

E o eixo rodoviário do IP5 é fundamental para o desenvolvimento do território. 

As rotundas são uma espécie de imagem de marca de Viseu?

São a imagem de marca do Dr. Ruas.

Outra incapacidade foi nunca ter feito nada para recuperar o comboio para Viseu em 35 anos. Foi sempre um perdedor nesta matéria. Perdeu o comboio entre 1989 e 1990, passaram 35 anos e nada aconteceu.

Eu, como presidente de câmara de Mangualde, consegui a requalificação da Linha da Beira Alta, a sua modernização, um investimento de mais de 600 milhões de euros. Era presidente da CCDR Centro quando essa medida foi votada como prioridade para o território.

A linha foi modernizada duas vezes nos últimos 25 anos. Infelizmente, a modernização ainda não está terminada, está em obra, embora devesse ter terminado há muito tempo.

O Dr. Fernando Ruas também é o grande responsável por a universidade pública não ter ido para Viseu. Tem 35 anos de poder, mas nunca teve a arte nem a força para cumprir o desígnio do investimento no seu concelho: IP3, universidade pública e ferrovia, três investimentos decisivos para o desenvolvimento do território que não foram concretizados. E não pode dizer que a culpa é do PS, porque desses 35 anos, 15 são governos PSD (1990-95; 2002-05; 2011-15; 2024-25).

"Os concelhos têm uma overdose de financiamento, só não fazem por inércia das câmaras"

Não chega a 15 anos do PSD, na verdade, e Fernando Ruas foi presidente entre 1989 e 2013 e, depois, a partir de 2021, ou seja, 28 anos.

Mas não esteve na reforma, esteve a representar Portugal, foi deputado no Parlamento Europeu entre 2014 e 2019 e foi eleito deputado à Assembleia da República em 2019, o PSD tem Fernando Ruas no poder há 36 anos.

É mais fácil ser-se presidente de câmara quando o governo é da mesma cor política?

Há 15 ou 20 anos era, hoje não é.

O que mudou?

A organização do território está completamente diferente por causa dos quadros comunitários de apoio, os fundos comunitários são negociados numa base de entendimento entre as comunidades intermunicipais e os governos.

Hoje, os concelhos têm uma overdose de financiamento que não tinham há 15 ou 20 anos, só não executam se houver absoluta inércia e incapacidade por parte das câmaras municipais e atrasos na preparação dos projetos.

Viseu é um exemplo paradigmático da execução, não houve uma única agenda mobilizadora no concelho para o PRR. Isto, tem a ver com a incapacidade política dos dirigentes para fazerem andar as coisas, digam o que disserem - não venham dizer que a culpa é dos técnicos, ou que não há empresas para fazer obras.

Governei uma câmara completamente falida, Mangualde, estava com assistência financeira quando a herdei, tinha penalizações terríveis. O Dr. Ruas herdou uma câmara rica - e teve a arte de a manter com grande pujança financeira, também é preciso dizê-lo.

Foi presidente da câmara e Mangualde, presidente da CCDR Centro, deputado e cabeça-de-lista do PS por Viseu, candidato à câmara de Viseu duas vezes. O Partido Socialista tem falta de nomes?

Tenho 50 anos, tive um trabalho afirmativo ao longo do tempo. É preciso muito trabalho, muita dedicação e muito sentido de responsabilidade. Temos de ter cuidado na forma como tratamos a classe política, nem tudo é branco ou preto.

"As grandes cidades continuam a olhar para o interior com paternalismo e condescendência"

O que fez pelos portugueses enquanto deputado à Assembleia da República?

Muita atividade parlamentar, mas estive especialmente ligado ao território, era vice-presidente da Comissão do Poder Local [Comissão de Administração Pública, Modernização Administrativa, Descentralização e Poder Local]. Estive ligado à isenção das portagens, por exemplo, já ninguém fala nisso. Hoje não se pagam portagens na A25 e na A24 naquela zona — o PSD votou contra, o Chega absteve-se e nós fizemos passar o diploma.

Como é que acha que Lisboa olha para Viseu, como é que o litoral olha para o interior?

Olha sempre com um ar muito displicente, é uma coisa muito cultural. Dá-me um certo gozo, porque acham que não estamos a perceber nada e estamos a perceber muito mais do que se possa pensar.

Ainda há umas semanas uma jornalista falava dos problemas de saúde mental do interior a propósito dos incêndios. Há aqui uma distância de olhar dos grandes centros urbanos, de Lisboa, para aquilo que é o interior do país. É muito giro ir passar o fim de semana à terra, ver os animais, a paisagem, comer bem, mas... coitadinhos.

As grandes cidades continuam a olhar para o interior com paternalismo e condescendência, como se nos últimos anos não tivessem saído da região uma quantidade de quadros, com responsabilidades a vários níveis nas diversas estruturas de poder.

O interior tem muitas mais coisas boas do que o litoral. Era fundamental haver uma verdadeira descentralização de organismos públicos. Por exemplo, o Centro de Estudos Judiciários podia ter ido para Viseu (foi para Vila do Conde), o Infarmed podia ter ido para o Porto (ficou em Lisboa). O território tem de ser reequilibrado.

O PSD e o governo de Aníbal Cavaco Silva desmantelaram 700 quilómetros de ferrovia, sem perceber o que ia acontecer 40 anos depois. A regionalização tinha tido esta importância.

A Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto é a única direção-geral que está implantada no interior e foi colocada lá por um governo socialista, um governo de António Costa. Tem 30 funcionários e um papel muito importante.

Porque é que o IVV - Instituto da Vinha e do Vinho não vai para Viseu? Olhamos para a região do Douro, para a região do Dão, que são importantes, mas está em Lisboa. Porquê? Já lancei este desafio. Temos de ter mais centros de decisão na região.

Se for eleito presidente, ou mesmo enquanto vereador, o que vai fazer (ou fez) para recuperar o comboio para Viseu?

Já fizemos uma parte. O eixo ferroviário está perspetivado no Plano Ferroviário Nacional. Houve a decisão política, esteve em consulta pública. O futuro tem a ver com a vontade dos governos e da Comissão Europeia.

É preciso dizer às pessoas que a Comissão Europeia financiou a requalificação da Linha da Beira Alta, que já vai em cerca de 600 milhões de euros, mas nunca deu garantias de apoio através de qualquer quadro comunitário. Porque esta é uma linha que tem dificuldade em ter argumentos de sustentabilidade financeira. Por isso, o governo tem de ter força para que isto aconteça, o presidente da câmara de Viseu tem de ter força para que isto aconteça. Tem de haver pressão política para que o compromisso que está no ar seja cumprido.

Não vou descansar enquanto a nova linha ferroviária entre Aveiro, Viseu e Salamanca não for uma prioridade. É uma das minhas principais apostas.

"Não vou descansar enquanto a nova linha ferroviária entre Aveiro, Viseu e Salamanca não for uma prioridade"

Nas legislativas, o Chega ganhou em quase todos os concelhos onde um ano antes estava abaixo do PS. Nas autárquicas, o PS também pode perder para o Chega?

É preciso respeitar muito quem votou no Chega, é preciso ter respeito por esse voto, quem diz o contrário e não reage bem ao resultado está a fazer mal. Temos de reconquistar esse espaço eleitoral e isso faz-se no terreno, com trabalho junto das pessoas.

Faz-se também pela comunicação, através de novas ferramentas como as redes sociais. Temos de ir à procura desse desígnio, mostrar novamente às populações que temos o melhor projeto e as melhores equipas, porque temos. É essa a nossa ambição, temos de reconquistar a confiança perdida por uma parte dos portugueses.

Mas acho que não vai acontecer nas autárquicas o que aconteceu nas legislativas, porque há uma rede muito implantada. Vou dar dois casos concretos: Mangualde e Carregal do Sal, que têm presidentes de câmara eleitos pelo Partido Socialista, num concelho o Chega ficou atrás do PSD, no outro é inexistente.

Passaram quatro anos, o Chega terá tido tempo de se organizar a nível local.

Ando na rua há quase seis anos, acredito convictamente que vou ganhar as eleições. O votante Chega está contra o poder instituído, quer a nível nacional, quer a nível local. Eu estou junto das pessoas no terreno a explicar-lhes o que quero, elas têm confiança em mim.

De qualquer forma, estou aqui como candidato à câmara de Viseu, não como dirigente do PS.

Não se pode separar uma coisa da outra, numa espécie de Dr. Jekyll and Mr. Hyde, pode?

Tem razão. Sou candidato à câmara de Viseu, levo centenas de pessoas do PSD nas minhas listas e tenho centenas de apoiantes que nunca votaram no PS. Acredito que temos de retirar a capa de proteção partidária e ir buscar o melhor da sociedade.

Em Mangualde ganhei sempre como João Azevedo. O Dr. Ruas ganhou sempre como PSD. Se, por alguma razão, eu vestisse a camisola do PSD, tinha sido presidente de câmara há quatro anos.

Quem chamou para fazer parte da sua equipa e porquê?

Adelino Azevedo Pinto, diretor da Escola Secundária Alves Martins, uma instituição de prestígio na região, que representa muito bem o setor da educação, é um homem cheio de experiência, de vitalidade e energia, mas terá também responsabilidades noutras áreas da governação; Marta Rodrigues, diretora do Instituto do Emprego e Formação Profissional de Viseu há 16 anos, uma mulher altamente qualificada, com muitos anos de liderança na gestão da administração pública; Miguel Pipa, um homem bom, consultor e engenheiro agrónomo, ligado a tudo o que são fundos comunitários e atividade económica, um homem transversal a várias áreas; Guilherme Gomes, diretor do teatro de Torres Vedras, um jovem cientista da cultura, sério e que sabe o que quer para a região: uma cultura para todos.

Vamos avançar para o seu projeto para Viseu. Quais são suas prioridades para o concelho?

Primeiro tema, economia real e empregos qualificados. Anunciámos no nosso programa eleitoral a criação de 1.500 postos de trabalho qualificado. O PSD veio logo dizer que vai criar 1.500 empregos na Área de Acolhimento Empresarial de Lordosa. Estão a reboque das nossas propostas — o que prova que sabemos do que falamos: indústria automóvel, indústria farmacêutica, transportes e hub logístico.

O gabinete do investidor Viseu Investe, criado em 2014 para atrair investimento e apoiar empresas, desapareceu nos últimos quatro anos. Ainda temos em Viseu grandes empresas na área da investigação e das tecnologias, como a Softinsa e a IBM, mas estão completamente abandonadas.

Como outros projetos que podiam captar emprego qualificado para Viseu foram completamente abandonados, a Área de Acolhimento Empresarial de Lordosa ou Vissaium XXI - Associação para o Desenvolvimento de Viseu, uma incubadora tecnológica criada com apoios comunitários e um projeto do falecido presidente Almeida Henriques.

Queremos transformar isto num compromisso: ampliar as zonas empresariais de Lordosa, Mundão e Coimbrões, áreas fortíssimas que estão junto a acessos rodoviários e a vias de comunicação.

Esta é a minha marca — foi assim que resolvi um problema de 40 anos da fábrica da PSA (Peugeot-Citroen), que escreveu a ameaçar sair de Mangualde porque queria expandir-se, precisava de estacionamento e acessos. Entreguei uma estrada municipal à fábrica num protocolo com a câmara e a fábrica estendeu-se e ganhou espaço para os seus estacionamentos.

Queremos ter novas empresas, captar investimento privado, apostar no emprego qualificado. A média do vencimento anual no setor privado nos concelhos à volta de Viseu é cerca de 25.000€, em Viseu é de 19.000€. A taxa de exportações também tem uma diferença abissal.

"Se, por alguma razão, eu vestisse a camisola do PSD, tinha sido presidente de câmara há quatro anos"

Uma das principais críticas que oiço tem a ver com o aumento de habitações precárias no concelho. Qual o seu plano para a habitação?

Já perguntei várias vezes, em reuniões de câmara, quantos núcleos precários urbanos há em Viseu, quantos acampamentos, quantas barracas. Nunca me souberam responder. Mas não podem esconder um problema gravíssimo que o Dr. Fernando Ruas deixou acontecer durante 35 anos: há barracas à porta da cidade. Eu ficaria envergonhado se fosse presidente de câmara há 35 anos e tivesse barracas à porta da cidade.

Como propõe resolver esse problema? Deitar abaixo, com fez o presidente da câmara de Loures?

Comigo em funções, e com uma equipa multidisciplinar das áreas social, da justiça, das forças de segurança, da saúde pública, da educação, não há nem mais uma barraca: barraca levantada, barraca deitada abaixo, no mesmo dia. O Estado de direito tem de ser respeitado.

Mas o Estado português tem de arranjar soluções, como programa 1.º Direito, que agora é financiado pelo PRR, para resolver um problema grave, que não é só de habitação. Já viu as crianças que vivem naquelas barracas? O que se está a fazer é uma integração anormal, vão à escola, onde fazem a sua aprendizagem, mas depois deixa-se viver em barracas em condições indignas, que não estão cobertas por qualquer espécie de segurança, de higiene ou saúde. É uma integração bipolar. 

O Dr. Ruas escondeu e normalizou as barracas. E em pleno século XXI, às portas da cidade de Viseu, há barracas. A habitação pública no país é 2%, na União Europeia é 9%, em Viseu é 1%. Viseu foi do concelhos que menos se candidatou ao 1.º Direito, que serve para resolver problemas de famílias que não têm capacidade de ir ao mercado em condições normais. Mas Viseu não quis saber disso, Fernando Ruas é o grande responsável pelo aumento de pessoas a viver em barracas no concelho.

O problema é que o Dr. Fernando Ruas deixou passar os prazos do PRR. Apesar da gravidade da crise habitacional, a câmara candidatou-se apenas a 254 fogos ao abrigo no PRR, no 1.º Direito, e só menos de metade estão aprovados.

O que faziam os seus pais?

O meu pai era empresário e a minha mãe era educadora de infância, depois foi inspetora da Educação.

Quem foi o pior primeiro-ministro em democracia?

É difícil responder, não gosto de apelidar o pior ou o melhor. Eventualmente, aquele que teve melhores condições para fazer uma grande transformação no país foi Aníbal Cavaco Silva, e não a fez.

Qual o seu maior medo?

A preocupação com os meus filhos.

Se fosse uma personagem de ficção, que personagem seria?

Eu sou um guerreiro.

Qual a maior extravagância que alguma vez fez?

A maior extravagância que fiz na minha vida foi uma viagem muito longa pela Europa, um mês.

Qual o seu maior defeito?

Gostar e comer muito.

Qual a pior profissão do mundo?

A mais difícil é, por exemplo, ser operador na área das águas residuais.

Quem não merece uma segunda oportunidade?

Todos merecem uma segunda oportunidade. Com uma exceção, os violadores.

Qual a sua maior qualidade?

Coragem.

Em que ocasiões mente?

Não minto, omito.

Quem foi o melhor presidente da Câmara Municipal de Viseu?

Por razões óbvias, o Dr. Fernando Ruas, porque esteve muitos anos à frente da Câmara Municipal de Viseu. Teve tempo para fazer aquilo que devia ter feito e não fez.

O que o faz perder a cabeça?

Ameaças.

A que político não compraria um carro em segunda mão?

A Putin. A portugueses, comprava a qualquer um, tenho respeito pela classe política.

Se fosse um animal, que animal seria?

Seria um tigre, um tigre da Malásia.

Um adjetivo para António José Seguro?

Comprometido.

Tem uma comida de conforto ou de consolo? Qual?

Cozido à portuguesa.

Qual a solução que apresenta?

Agora, a solução é fazer um plano estratégico para a habitação e submetê-lo a programas europeus, ou desenvolvê-lo em parceria com o governo, porque a câmara sozinha não tem condições. 

O que sei é que neste momento não há uma estratégia para resolver o problema da segurança e da qualidade de vida das pessoas em Viseu. Há pessoas que vão a reunião de câmara queixar-se de que estão a ser violentamente agredidas verbalmente, a ser ameaçadas, nos bairros municipais.

Mas posso dar outro exemplo, a câmara não teve sequer capacidade para resolver o problema da residência para estudantes; lançou um concurso, adjudicou o projeto, mas a obra está parada e em processo de rescisão com o empreiteiro. Mais um caso gritante.

O Dr. Fernando Ruas anda a prometer aquilo que não conseguiu fazer em 35 anos, diz que precisa do último mandato para cumprir. Então, um presidente que está 32 anos em funções, com um interregno de oito anos, mas com influência política no concelho, ainda precisa de mais quatro anos?

"A média do vencimento anual no sector privado nos concelhos à volta de Viseu é cerca de 25.000€, em Viseu é de 19.000€"

Falou na saúde, que mencionou também no início da entrevista. Que medidas tem para esta área?

O Dr. Ruas tem um lema, o Rossio vai às aldeias. Mas não vai, se fosse, entregava mais dinheiro às juntas, tratava melhor as freguesias e os seus moradores. Nós vamos criar mais proximidade na saúde, com mais unidades de saúde familiar.

Vamos ter um plano de ação para os mais velhos, que estão isolados. Hoje, a única coisa que a câmara de Viseu vende nesta matéria é levar os velhos à Malafaia três ou quatro dias uma vez por ano, uma viagem de oito horas, para comer, beber, dançar e voltar para casa. Queremos medidas na área da reabilitação física, acompanhamento médico, prevenção de doenças de risco.

O que está a acontecer hoje na rede de apoio social é que as instituições estão muito dependentes daquilo que são os contratos-programa, quase de mão estendida, como se se tratasse de caridade. Nós vamos ter um plano de ação para incrementar junto das IPSS modelos de acompanhamento de seniores nas áreas que mencionei.

Além disso, queremos implementar o Balcão SNS 24, um por junta de freguesia. Basicamente, o funcionário da junta de freguesia será capacitado para ajudar o cidadão a aceder aos serviços digitais de saúde, marcar consultas, exames, teleconsultas, pedir baixas médicas, comprovativos de presença, receitas de medicamentos e ouros serviços.

Também falou em questões de segurança.

É uma área muito importante. Não é possível que o concelho de Viseu tenha mais 20 mil pessoas do que há 20 ou 30 anos e a Polícia Municipal, que foi criada em 2003 pelo atual presidente da câmara, continue com os mesmos 23 elementos passados 22 anos.

O Dr. Fernando Ruas abandonou todo o sistema de segurança e proteção civil. Garanto à Polícia Municipal uma alternativa de espaço, para que possam ser mais visíveis e ter melhores condições.

Queria falar na mobilidade, ainda. Viseu é a segunda cidade com mais acidentes do país.

A câmara de Viseu fez um contrato desastroso, por ajuste direto de mais de 4,5 milhões, com um operador de transporte público que tem más rotas, maus horários. Porque não quis estar na CIM [Autoridades de Transporte Intermunicipais], um prejuízo enorme para as pessoas e para o território, os 13 municípios ganhavam em escala. Agora, a MUV - Mobilidade Urbana de Viseu está isolada e sobrecarrega o orçamento municipal.

Mas também gostava de falar da água. O Dr. Ruas deu as águas da barragem de Fagilde ao setor empresarial do Estado sem nenhuma contrapartida. É uma decisão irresponsável e tomada à revelia dos outros municípios — Mangualde, Nelas, Penalva do Castelo e Sátão —, que tinham 12 meses para decidir se queriam entregar as águas da barragem de Fagilde à Águas de Douro e Paiva.

Esse é um projeto do tempo de João Matos Fernandes, ex-ministro do Ambiente e da Transição Energética. O objetivo é criar a  Águas de Viseu e construir uma nova barragem para estes cinco municípios, não é isto?

A nova barragem de Fagilde foi anunciada há dois meses pela ministra do Ambiente, mas já tinha o projeto já é do tempo do anterior ministro. Como é que o presidente da câmara de Viseu pode entregar de forma unilateral uma coisa que é e mais quatro concelhos, água e infraestruturas? 

O que fez foi entregar um ativo que dá um lucro de 1,4 milhões de euros, segundo o último relatório, e todo esse património à Águas do Douro e Paiva, durante 25 anos. Em troca recebe um  tubo de água que vem do Porto para vender e injetar no nosso depósito.

O dia em que ganhar as eleições é o dia em que rasgo esse papel. Não precisamos de um tubo de água do Porto, precisamos é de uma nova barragem para duplicar a capacidade de armazenamento na bacia hidrográfica do Mondego.

"Viseu tem de ser o motor da região: na economia, no emprego, na ciência"

Viseu é um município financeiramente sólido. As suas propostas — aumentar o investimento público em áreas como a habitação, a mobilidade, a saúde ou os serviços sociais — tem em conta a sustentabilidade das finanças locais?

Sim. São opções. O Dr. Fernando Ruas opta por gastar 30 milhões num centro de artes e cultura sem estudo de viabilidade, sem financiamento e sem orçamento. O PS votou contra.

Enquanto capital de distrito Viseu tem uma responsabilidade acrescida?

Viseu tem de ser o motor da região: na economia, no emprego, na ciência. Viseu não pode usar a dimensão para exercer o poder com uma vergasta na mão, tem de liderar por afirmação e respeito dos outros.

Na área da construção civil, um dos maiores obstáculos foi o Plano Diretor Municipal, que o Dr. Fernando Ruas deixou apodrecer. Hoje, esta fileira está de costas voltadas para a Câmara Municipal de Viseu, é só problemas. Vai investir noutro lado, Aveiro, Coimbra, mas em Viseu não. Da mesma forma, várias empresas foram para Mangualde e para Tondela, mas podiam ter ido para Viseu.

Viseu é tradicionalmente associado à qualidade de vida e ao vinho do Dão. Como pretende projetar o concelho nos próximos dez anos, fixar população jovem e evitar perder relevância face a cidades como Coimbra, Aveiro ou Guarda?

Através de iniciativas de promoção de uma agenda cultural forte, de mais investimento no hub do turismo, na promoção dos produtos do território: vinho do Dão, sobretudo sub-região de Silgueiros, que apanha cinco freguesias, mel, leite e frutos vermelhos, da excelente gastronomia e do corredor enorme de restaurantes que temos. Hoje, não temos uma agenda mensal com atividades que atraiam diversos públicos para um território inteligente e competitivo no coração do interior.

Depois das autárquicas vêm as presidenciais. Por que razão está o PS a demorar tanto tempo a apoiar António José Seguro?

Ganhei um grande respeito por António José Seguro. Esteve dez anos fora do plano mediático, saiu em 2015 porque perdeu as eleições internas. Sempre disse que se perdesse se afastava e cumpriu. 

Mas a candidatura a presidente da República é uma candidatura de âmbito pessoal. Há muitos nomes que o PS poderia apoiar.

O que pode José Luís Carneiro fazer pelo PS que Pedro Nuno Santos não tenha feito?

José Luís Carneiro é um homem preocupado em ouvir as pessoas, a sociedade civil. Tem características muito naturais como cidadão, como ex-autarca, como ex-membro do governo. E as pessoas querem cada vez mais isso, proximidade. E é isso que o vai levar a primeiro-ministro. Além disso acumula conhecimento sobre poder local, poder regional, poder nacional e poder internacional, o que lhe dá as melhores competências.

Qual a sua ambição política?

Ser presidente da câmara de Viseu. Apaixonei-me pelo desafio e adoro disputar eleições. E acredito que Viseu é um Ferrari sem piloto, pode ser muito melhor. Vou ser eu o condutor.

Se lhe desse um envelope para escrever os resultados eleitorais de 12 de Outubro, qual a aposta para Viseu?

O PS fica com 43%, o PSD com 38% e o Chega com 8% a 9%.

"Não houve uma única agenda mobilizadora no concelho para o PRR. Isto, tem a ver com a incapacidade política dos dirigentes"

Se não ganhar as eleições, fica como vereador?

Fico, tenho esse compromisso com o secretário-geral do Partido Socialista.

O que é que qualquer português não pode deixar de conhecer em Viseu?

Temos os rios Vouga, Dão e Pavia. O rio Pavia é uma massa de água que passa por dentro da cidade e está abandonada. Teve a intervenção do programa Polis, mas é preciso renaturalizar aquilo tudo. É preciso usar o rio como alavanca para aumentar o turismo e o comércio, como polo de atratividade.

O rio Vouga é um espaço fabuloso de natureza, que nunca foi rentabilizado pelas Aldeias da Água, nunca teve o envolvimento de privados para a reabilitação de espaços urbanísticos que estão abandonados.