
Acompanhe toda a atualidade informativa em 24noticias.sapo.pt
Já recomeçaram as aulas há cerca de uma semana e à semelhança dos últimos anos, o principal problema persiste: a falta de professores no início de cada ano letivo, em especial nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo, Setúbal e Algarve.
A FENPROF diz que a falta de professores atinge, sobretudo, "áreas como as Línguas, a Matemática e a Informática". E nem os apoios à mobilidade docente dados pelo Governo, com professores colocados a mais de 300 quilómetros da sua residência, em escolas consideradas carenciadas, que passam a receber um subsídio de 500 euros durante 11 meses, têm feito com que este problema deixe de persistir.
"A FENPROF utiliza, há uma série de anos, o mesmo critério para estimar o número de alunos sem todos os professores. Nunca o negámos, é uma estimativa, mas uma estimativa baseada em dados do próprio Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI). Uma vez que o ministro da Educação afirma que os números do MECI não são rigorosos, explicamos o que fazemos: contabilizamos o número de horários e de horas que vão para contratação de escola, ou seja, horários que ficaram por preencher no concurso nacional (contratação inicial e reserva de recrutamento). É a partir do número de horários ativos e de horas que fazemos uma projeção do número de alunos afetados. Feita a comparação das duas primeiras semanas deste ano e do ano letivo anterior a conclusão é simples: a situação agravou-se. Igualmente na segunda semana deste ano foram mais os horários e as horas e é maior a estimativa de alunos sem todos os professores", refere a FENPROF, salientando que no início da última semana "ainda se registavam 1469 horários ativos em contratação de escola, correspondentes a 25 586 horas, 6397 turmas e um número estimado de alunos sem todos os professores superior a cem mil".
A Federação Nacional dos Professores diz mesmo que as "carências estão, sobretudo, nos distritos de Lisboa, Setúbal, Faro, Porto, Santarém, Leiria e Beja e nos grupos de recrutamento 100,110, 550, 300, 500 e 420, 910 enquanto, segundo Fernando Alexandre, líder da FENPROF, "os professores disponíveis se encontram nos distritos do Porto, de Braga e de Viana do Castelo e nos grupos de recrutamento 100, 110, 260, 620 e 910".
"Feita a comparação das duas primeiras semanas deste ano e do ano letivo anterior a conclusão é simples: a situação agravou-se. Igualmente na segunda semana deste ano foram mais os horários e as horas e é maior a estimativa de alunos sem todos os professores"FENPROF
Uma das soluções que se tem encontrado para a falta de professores tem sido o adiamento da reforma de alguns docentes. O Governo há muito que aposta em prolongar a vida profissional de alguns professores, de forma a colmatar o número de alunos sem aulas, dando-lhe também um suplemento salarial de 750 euros.

"A salvação têm sido os professores que têm adiado a aposentação para mitigar problema que já vem de há alguns anos", diz Ricardo Serpa da associação de professores ao 24notícias, salientando, contudo, que esta não pode ser uma solução para o futuro. "Porque há muitos outros que acabarão por se reformar. Há dados que apontam para que até final do ano mais 4000 professores deixem de lecionar. O grande problema é mesmo o desinteresse da população geral no ensino. Antes eram muitos os que queriam ser professores, mas os problemas na Educação são tantos que muitos jovens desistem de enveredarem por uma carreira de professor, infelizmente. A questão salarial também é muito importante e todos sabem que um professor não aufere um salário justo e a progressão na carreira é sempre também muito demorada", diz Ricardo, apontando depois para um estudo do EDULOG, que aponta para crise "ainda maior entre 2026 e 2031".
O think tank para a Educação da Fundação Belmiro de Azevedo, baseando-se no estudo “Reservas de Professores sob a lupa: antevisão de professores necessários e disponíveis” mostra que a "escassez de professores acentuar-se-á entre 2026 e 2030, período em que as reservas de professores, cruciais para substituir as ausências temporárias e preencher vagas deixadas por profissionais que passam para a reforma, ficarão em risco de se esgotar. Em 2026, alguns grupos de recrutamento entrarão em défice estrutural, sendo que em 2031 estarão praticamente todos nesta circunstância, à exceção dos professores de Educação Física. Mesmo havendo um incremento na formação de mais professores, e tendo em consideração o tempo para a sua formação, só trará resultados em 2029".
"O grande problema é mesmo o desinteresse da população geral no ensino. Antes eram muitos os que queriam ser professores, mas os problemas na Educação são tantos que muitos jovens desistem de enveredarem por uma carreira de professor, infelizmente"Ricardo Serpa
Quais então as alternativas para fazer face à escassez de professores?
Este estudo "propõe um conjunto de recomendações que passam por aumentar o número de vagas nos cursos de formação de professores, especialmente em áreas críticas (como História, Matemática e Informática). É, ainda, importante a implementação de políticas públicas que tornem a profissão de professor mais atrativa e que integrem, por exemplo, incentivos financeiros, melhorias nas suas condições de trabalho e oportunidades de progressão na carreira que poderão ajudar a reverter o desinteresse pela profissão e o eventual regresso daqueles que, entretanto, abandonaram a profissão".
O estudo recomenda, também, "a criação de uma estratégia nacional para a gestão das reservas de recrutamento dos professores que considere as especificidades regionais e a necessidade de flexibilidade nas substituições temporárias. Para isso, é fundamental que as autoridades educativas desenvolvam um plano estratégico, de longo prazo, que antecipe as necessidades futuras e implementem ações preventivas de monitorização contínua das reservas de professores, adaptando as políticas educativas conforme as mudanças demográficas e sociais, essenciais para se evitar um potencial colapso no sistema educativo em Portugal".
__
A sua newsletter de sempre, agora ainda mais útil
Com o lançamento da nova marca de informação 24notícias, estamos a mudar a plataforma de newsletters, aproveitando para reforçar a informação que os leitores mais valorizam: a que lhes é útil, ajuda a tomar decisões e a entender o mundo.
Assine a nova newsletter do 24notícias aqui.
Comentários